Inaugurando a série de artigos sobre como preparar legumes, aqui está um dos meus vegetais preferidos: couve. O acompanhamento típico do nosso prato nacional, a feijoada, merece ser degustado com mais frequência. 100gr de couve (crua) contém 1,3gr de proteína, 2,5gr de fibra, minerais, vitaminas (63% da vitamina K e 61% da vitamina C que precisamos em um dia) e somente 25 calorias.
Continuar lendo “Como preparar couve”Autor: papacapim
Por uma alimentação mais vegetal
No começo da semana eu ajudei Anne a guiar um casal de amigos do pai dela, mais dois casais amigos dos amigos, que estavam de passagem por Jerusalém. Os seis velhinhos eram extremamente amáveis e eu, que não tenho mais nenhum dos meus avós, aproveitei pra trocar carinhos com a terceira idade durante um dia inteiro. Quando sentamos pra almoçar e eles descobriram que éramos veganas começou a chuva de exclamações que meus ouvidos estão cansados de ouvir: “Nem peixe?!”, “Nem ovo?!!”, “Então vocês não comem nada!”, “Vocês só comem salada?!”, etc. Todos pediram espetinhos de carne de gado, ovelha e frango (os três ao mesmo tempo), que vem acompanhado de batata frita. Eu queria que eles provassem algo mais típico então pedi vários “mezze”, as deliciosas entradas árabes. Os velhinhos se encantaram com os pratinhos de hummus, mut’abal, tabule, beringela frita, salada turca e afins, tanto que quase não sobrou espaço no estômago deles pro imenso prato de carnes que eles tinham pedido. Enquanto se deliciavam com os quitutes vegetais (naturalmente veganos), um deles declarou: “Se você preparar pratos como esses eu não me incomodo de comer comida vegetariana” e o resto da mesa concordou. Moral da história: uma boa parte do preconceito com relação à comida vegetariana vem do fato das pessoas não saberem preparar vegetais.
Continuar lendo “Por uma alimentação mais vegetal”Atendendo a pedidos
Em 2009 passei uma longa temporada em Natal e levei uma (recém adquirida) máquina de fazer leite de soja. Quem acompanha o blog há algum tempo sabe que não sou fã de leite de soja, mas acontece que adoro tofu e tinha sido informada que encontrar tofu decente em Natal é uma missão impossível. Tofu feito em casa é muito superior ao encontrado no mercado em matéria de sabor, mas sem uma prensa industrial a textura é bem mais mole do que a do tofu que eu tinha costume de comer. Então comecei a fazer patê com meu tofu caseiro mole e o sucesso foi imediato. Minha família e meus amigos adoraram e cheguei até a vender vários potinhos por semana. Meus clientes eram onívoros, mas muitos eram intolerantes à lactose e enfrentavam o mesmo problema que nós veganos enfrentamos: depois de ter tirado a manteiga, requeijão e queijo da dieta o que passar na nossa fatia de pão?
Continuar lendo “Atendendo a pedidos”Aveia dormida
Já percebeu que todas as receitas da sessão “café da manhã” do blog contêm aveia? Aveia é um dos meus alimentos preferidos e, por ter tanta fibra, vitaminas, minerais e ser rápido de preparar, acho que ela é perfeita pro café da manhã da semana. Nos fins de semana gosto de longos e fartos cafés da manhã, mas quando o tempo é curto prefiro a praticidade e a simplicidade de um prato de aveia. Em poucos minutos preparo uma refeição super nutritiva e que me dá energia até a hora do almoço, além de trazer reconforto nessas manhãs frias de inverno. Continuar lendo “Aveia dormida”
Eu também não sei viver sem queijo
Não é mistério que a pergunta que nós veganos mais escutamos dos onívoros é : “Mas você come o que?” Porém alguém sabe o que os veganos mais escutam dos vegetarianos? “Eu não conseguiria nunca viver sem queijo”. Essa frase também entra no top 5 das frases que mais escutamos dos onívoros, logo depois de “A gente precisa de carne pra viver”, “Você vai ficar doente” e “Isso é coisa de malucos irresponsáveis e você deve ter o juízo frouxo” (ok, a última geralmente é dita com os olhos enquanto a pessoa te examina da cabeça aos pés, balançando a cabeça da esquerda pra direita e dando longos suspiros de exasperação).
Continuar lendo “Eu também não sei viver sem queijo”O que fazer com alfarroba
Logo que me mudei pra cá, tive o prazer de trabalhar durante seis meses, e morar durante algumas semanas, com uma americana chamada Janelle. Nós simpatizamos no minuto em que fomos apresentadas e somos amigas até hoje, apesar dos milhares de quilômetros que nos separam (ela mora em Seattle, EUA). O pai de Janelle é médico e ela estudou saúde pública, então seu conhecimento em matéria de nutrição é admirável. Passamos muitas horas explorando a feira de Jerusalém e a lojinha de produtos orgânicos que fica do lado. Graças à Janelle descobri que cevada não serve só pra fazer bebida, que aveia em flocos grossos é mais gostosa, e segundo ela mais nutritiva, que aveia em flocos finos e que é importante comer um punhado de oleaginosas todos os dias (conselho do seu pai). Ela é vegetariana mas vivia dizendo que se eu cozinhasse pra ela todos os dias ela se tornaria vegana sem hesitar. Um dia, pra agradecer todos os pratos que eu preparei durante as semanas que ela ficou hospedada na minha casa, ela me convidou pra lanchar na casa dela. Nesse dia ela preparou, entre outras coisas, alfarroba quente, um tipo de “chocolate” quente feito com leite de soja e alfarroba em pó no lugar do cacau. Eu não conhecia alfarroba e no início achei a bebida estranha, mas depois de alguns goles comecei a apreciar aquele sabor tão particular.
Continuar lendo “O que fazer com alfarroba”Makis pra iniciantes
Antes de me tornar vegana eu tinha uma paixão: comida japonesa. Mais especificamente makis. Durante anos, toda sexta feira à noite eu pedia makis por telefone. Era a maneira mais deliciosa de celebrar o final da semana. Quando decidi fazer como Franz Kafka e parar de comer peixe (Vocês sabiam que o grande escritor tcheco era vegetariano? Um dia, ao contemplar um aquário, ele disse “Agora posso observar vocês em paz: eu não os como mais.”) eu achei que minha história de amor com a culinária japonesa tinha chegado definitivamente ao fim. Felizmente eu estava enganada.
Continuar lendo “Makis pra iniciantes”Altos e baixos (e cupcakes de chocolate com laranja)
Eu gostaria de estar no lugar desse gatinho agora. Colo, carinho e zero preocupação é tudo que preciso! A semana super ultra ocupada deveria terminar hoje à tarde, mas houve mudanças de planos e vou cozinhar pra minha vizinha até amanhã. Já não aguento mais a dor nas costas e, por causa da fadiga, fiz um monte de besteira (como quebrar alguns copos e a forma de cerâmica importada que uso pra fazer pão). A “cerise sur le gâteau”, como dizem os franceses, foi ter ficado sem gás ontem à noite, enquanto preparava o jantar e assava um pão e um bolo. Liguei pro senhor que vende gás e ele avisou que estava faltando gás na cidade. Aí eu sentei no chão e chorei. Depois me lembrei que tinha que alimentar a vizinha então me levantei e fui até a casa dela (que é colada à minha) perguntar se ela não queria jantar conosco no restaurante ao lado. Felizmente a vizinha ainda tinha um resto do almoço na geladeira e disse pra eu não me preocupar que o seu jantar estava garantido. Eu e Anne nos contentamos com um pedaço de pão, que terminei de assar no nosso micro forno elétrico, e uma salada de tomate e mangericão. Hoje de manhã liguei pro senhor do gás de novo e (desespero!) ainda estava faltando gás. A necessidade sendo mãe da criatividade, preparei o almoço e o jantar no microondas. Tem um microondas aqui em casa mas nunca, nunca uso. Podem me chamar de louca, mas essa história de aquecimento por agitação de moléculas me parece muito suspeita. Eu quero as moléculas da minha comida no lugar certo, ninguém venha bagunçar com elas! Por essa razão não uso esse treco. E também porque acho que a textura de algumas comidas esquentadas no microondas fica horrível. Mas hoje o agitador de moléculas quebrou um galhão! Cozinhei macarrão, quinoa, molho de “queijo”, brócolis e o bolo (que comecei a assar ontem) no danado e, pra minha grande surpresa, deu tudo certo. Acho que depois de hoje eu devia parar de falar mal do bichinho…
Continuar lendo “Altos e baixos (e cupcakes de chocolate com laranja)”Na cozinha
Saudações da terra dos ocupados! Aqui em casa o nível de atividades nunca esteve tão intenso. Minha vizinha que mora nos States, e que vem aqui duas vezes por ano, me contratou pra fazer todas as suas refeições durante uma semana (café da manhã, almoço, jantar e uns lanchinhos). Ela já tinha contratado meus serviços ano passado e gostou tanto que quis repetir a experiência. Por isso desde sábado passo a maior parte dos meus dias cozinhando, além de continuar todas as minhas outras atividades (oficinas de nutrição pra crianças, aulas de francês, projeto social no campo de refugiados) no tempinho livre que sobra entre as refeições. De noite eu desmaio e Anne me carrega escada acima até a cama. Mas não vou reclamar, afinal não é todo mundo que tem o privilégio de ganhar dinheiro fazendo o que mais gosta.
Continuar lendo “Na cozinha”Sabor e saúde no mesmo prato
Os almoços aqui em casa são sempre bem mais simples que os jantares. Não tenho muito tempo pra preparar algo especial durante a semana então geralmente como os restos do jantar do dia anterior ou improviso com o que encontrar na geladeira. Nessas horas tudo que quero é uma refeição nutritiva, equilibrada, fácil e rápida de preparar. Os resultados são pratos simples, rústicos mas que, embora me satisfaçam perfeitamente, eu não pensaria em servir pra convidados. Mas aqui e acolá, entre esse improviso apressado e os restos da geladeira, nasce algo que vale a pena ser repetido no jantar do fim de semana.
Continuar lendo “Sabor e saúde no mesmo prato”Minha rispidez, um bolo e uma entrevista
Minha irmã caçula me deu uma bronca por causa do post sobre o pavê de banana. Ela disse que eu fui muito ríspida com meus leitores. Desde então me sinto culpada. Essa irmã tem o dom de me fazer sentir culpada, mas na maior parte do tempo isso é uma coisa boa. Ela me faz refletir sobre meus atos e palavras, o que me ajuda a evoluir e a me tornar uma pessoa melhor. O problema é que ela também é… ríspida. Parece que a rispidez é algo que todos nós herdamos na família.
Continuar lendo “Minha rispidez, um bolo e uma entrevista”Por um onivorismo responsável
Há alguns dias comentei que um casal de amigos americanos veio jantar aqui em casa. Publiquei a sobremesa que servi pra eles aqui e hoje vou dividir com vocês a entrada que preparei naquele dia. Adoraria dividir a receita do prato principal, a verdadeira estrela da noite, mas isso terá que esperar até eu descobrir como fazer uma lasanha branca parecer apetitosa nas fotos (as tentativas que fiz até então foram desastrosas).
Continuar lendo “Por um onivorismo responsável”De amor e de veganismo
Quando comecei a cozinhar pra Anne, no início do nosso relacionamento, eu me deparei com o problema que muitos veganos enfrentaram (ou enfrentarão) algum dia: eu tinha me apaixonado por uma onívora e não sabia o que preparar pro jantar. Minha amada não era só onívora, ela era francesa. Na França uma refeição só é digna desse nome se nadar na manteiga e no creme, tiver pelo menos dois tipos de bicho morto e terminar com uma bandeja de queijos. Pior ainda, minha amada onívora francesa vinha da Auvergne, uma região no coração da França, famosa por transformar porquinhos indefesos em um número inimaginável de produtos comestíveis. Lá os bebês passam do mingau diretamente pro salame (Só Jesus Cristo salva!). Pensei: “Onde fui amarrar o meu bode?” (Se você não tem família morando na caatinga e desconhece o palavriado local, aqui vai a tradução: “Onde fui me meter?”)
Continuar lendo “De amor e de veganismo”Sobremesa sem desculpas
Acho que não é mais segredo que não sou muito fã de sobremesas. Eu gosto de um pedacinho de bolo de vez em quando e com certeza aprecio um cookie ou um gelato bem feitos, mas a verdade é que raramente sinto desejo de comer doces. E como aqui em casa só tem eu e Anne, isso significa que qualquer sobremesa que eu fizer será dividida por dois e eu terei que dar conta de metade de um bolo de chocolate! Parece um sonho pra você? Pra mim não. Então geralmente só faço sobremesas quando temos convidados pra jantar. O que aconteceu sábado passado.
Continuar lendo “Sobremesa sem desculpas”A sopa que me fez mudar de idéia
Eu já declarei meu amor por sopa aqui no blog mas vou dizer mais uma vez: eu amo sopa. Poderia comer sopas todos os dias (ah, meus anos de universitária!) sem nunca reclamar. Especialemente no inverno. Pra mim nada reconforta e aquece mais que um prato de sopa fumegante. Quando meu estômago conversa comigo é isso que ele sempre pede e o fato de estar provisoriamente sem aquecedor está contribuindo pra aumentar ainda mais esse meu desejo. Há semanas que venho me alimentando desse prato abençoado e tenho tantas receitas de sopa que poderia criar um blog só sobre esse tema. Mas poderia ser pior. Conheço muitos estômagos que exigem bolo de chocolate, brigadeiro e pizza, então não vou reclamar porque o meu só pensa em algo extremamente nutritivo.
Continuar lendo “A sopa que me fez mudar de idéia”Está faltando alguma coisa no seu prato?
Esse fim de semana hospedamos uma amiga australiana aqui em casa. Eu não conheço muitos australianos, mas parece que o churrasco é uma parte essencial da vida deles. Essa amiga se comportou como uma boa australiana adoradora de churrasco durante os últimos 61 anos, mas mês passado ela recebeu uma notícia que a fez refletir sobre suas escolhas alimentares. Seu médico avisou que com a taxa de colesterol e pressão altíssimas, casos de infarto na família e muitos quilos em excesso, ela se encontrava em uma situação de alto risco. O alarme na cabeça dela disparou e dias depois ela chegou aqui em casa dizendo que queria ser vegana por três meses pra baixar suas taxas e recuperar a saúde perdida. Quando eu disse que Bill Clinton também estava seguindo um regime quase exclusivamente vegano (ele come peixe de vez em quando) pelos mesmos motivos, ela se empolgou ainda mais. Se Bill conseguiu, ela também ia conseguir! Antes de ir embora ela me pediu dicas sobre alimentação vegetal, nutrição e até pegou emprestado um dos meus livros de receitas veganas.
Continuar lendo “Está faltando alguma coisa no seu prato?”Tour pela… minha cozinha
Algumas pessoas que entram na minha cozinha ficam impressionadas com a quantidade de tempeiros, ervas e especiarias que possuo. Tem uma amiga de Anne, em particular, que adora bisbilhotar (ou “curiar” como a gente diz na minha terra) minhas prateleiras, gavetas e até mesmo a geladeira pra ver as “novidades”, como ela diz. Não que isso me incomode, de jeito nenhum. Sinto o maior prazer em mostrar meus condimentos (e mantimentos) pois é uma desculpa pra fazer uma das coisas que mais gosto: conversar sobre comida. Os amigos que ficam na cozinha enquanto preparo um prato aproveitam pra perguntar como e onde usar tal tempeiro, onde comprar tal ingrediente e o que danado são esses floquinhos verdes dentro de um saco. Como acho o exercício instrutivo, e como vocês não podem vir até Belém, pensei em fazer um convite on-line pra inspecionar minha cozinha. Entrem e fiquem à vontade (como diz minha irmã, só não vale tirar a roupa). Senhoras e senhores, eu vos apresento as prateleiras de condimentos:
Continuar lendo “Tour pela… minha cozinha”Delicioso neologismo
A semana foi cansativa, ô como foi cansativa! Gostaria de comemorar o início do fim de semana com makis veganos, um banho quentinho e um filme embaixo dos cobertores com a minha amada. Mas vejam só, faltam-me forças pra preparar um prato que exige mais de uma hora de trabalho ativo, não tem água quente pra encher a banheira e Anne está cheia de trabalho e não irá pra debaixo das cobertas antes da madrugada chegar. Então vou me contentar com os restos que achar na geladeira, ferver um pouco d’água e tomar banho de balde e deixar o filme pra outro dia. Mas antes de realizar esses planos ultra excitantes, vim publicar um prato fácil, rápido e delicioso, pois pensei que talvez vocês estivessem precisando.
Continuar lendo “Delicioso neologismo”Uma revelação
Ser professora substituta na escola maternal francesa está sugando todas as minhas forças. Eu fui baby-sitter durante todos os meus anos de faculdade e sobrevivi sem nenhuma sequela (tirando, talvez, uma vontade ainda mais firme de não ter filhos), mas eu cuidava de uma ou duas crianças por vez. Cuidar de nove crianças de três anos ao mesmo tempo, durante seis horas por dia, é de enlouquecer. Professores de escolas maternais, eu vos admiro muito. Acho que as prefeituras deveriam erguer estátuas em homenagem a esses heróis.
Continuar lendo “Uma revelação”Amor verde
Essa semana estarei mais ocupada do que nunca. Além dos projetos (inúmeros e todos voluntários) que coordeno normalmente, estou substituindo um professor da escola maternal francesa de Belém. Passar cinco dias tomando conta de crianças de três anos não me empolga nem um pouco, mas eu já falei que o trabalho que faço aqui é voluntário? Pois bem, quando aparece um emprego pago eu não posso recusar, mesmo quando o emprego em questão envolve acompanhar criancinhas ao banheiro de cinco em cinco minutos.
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