Eu adoro caju de todas as formas. E amo carne de caju, o que você pode ver nessa receita de pastel de forno de caju com massa de jerimum e no meu estrogonofe potiguar. Mas ainda não tinha pensado em fazer uma receita salgada com caju cru. E veja que uns meses atrás comi uma moqueca crua de caju na casa de uma amiga aqui em Natal e me encantei. Mas pedi a receita, que ela ainda está me devendo, e esqueci do assunto. Aí meu sobrinho mais velho veio jantar aqui antes de ontem (pra comer o famoso estrogonofe de caju) e comentou que estava colocando caju picado nas saladas e que era uma delícia. Decidi testar já no dia seguinte e ontem fiz uma salada com caju pro almoço. E foi uma das melhores coisas que fiz esse ano!
Não é uma receita, é uma ideia: coloque caju nas suas saladas cruas. Mas vim compartilhar a salada que fiz domingo, e que fiz novamente hoje porque realmente fiquei muito feliz com o resultado (e todo mundo na família adorou), e talvez seja mais fácil começar por aqui, pois essa combinação de sabores é maravilhosa!
Saladas picadas me lembram a Palestina, onde a salada mais simples e que estava presente todos os dias na mesa do povo, era composta por tomate e pepino picados em cubinhos, temperados com limão e muita salsinha. Ela era chamada, simplesmente, de “salada árabe”. No Brasil tem a popular vinagrete, que é picada mais miúda, é mais ácida (por ter bastante vinagre, como o nome indica) e é mais um condimento do que uma salada propriamente dita. A ideia aqui é algo entre os dois, entre a salada e a vinagrete. Então chamei de salada picada e você pode tanto colocar mais tomate e pepino e servir sobre alface (salada) quanto colocar mais caju e servir como um condimento/acompanhamento.
Salada picada de caju
Se você gosta de caju, essa receita é um sonho: perfumada, suculenta e refrescante. E mesmo se você não gosta, não deixe de testar, pois o limão, o sal e os temperos acabam suavizando bastante a adstringencia do caju (o “ranço” que incomoda tanta gente). Os ingredientes estão na ordem decrescente (ou seja, o caju é o ingrediente usado em maior volume e o sal/pimenta, em menor).
Caju (maduro, mas firme)
Tomate
Pepino
Cebola (ou cebolinha, pra ficar mais suave)
Coentro
Pimenta de cheiro (opcional, mas recomendado)
Suco de limão
Azeite
Sal e pimenta preta
Pique o caju, o tomate e o pepino em cubos pequenos. Pique miudinho a cebola, a pimenta de cheiro e o coentro. Regue tudo com suco de limão e azeite a gosto e tempere com sal e pimenta preta. Deixe na geladeira até o momento de servir.
Dias atrás minha irmã, que se tornou a fornecedora oficial de receitas Papacapim, trouxe uma quentinha do café do qual ela é sócia pro meu jantar. O tema do almoço tinha sido “inspiração coreana” e um dia peço pra ela me ensinar a fazer o tofu incrível que ela serviu naquele dia e prometo postar aqui. Por enquanto me contento de compartilhar a parte mais simples da refeição: uma salada de pepino refrescante e deliciosamente temperada.
Pepino não é um vegetal muito excitante, reconheço, mas não estou exagerando quando digo que foi a melhor coisa com pepino que já comi. Se você estava procurando uma maneira mais saborosa de servir pepino, essa receita é pra você. E como o modo de preparo é de uma simplicidade extrema, essa receita merece entrar no seu repertório. Fazer pratos elaborados (quiche, estrogonofe) é bacana, mas acho ainda mais importante dominar preparações simples, como saladas. Nesse caso, salada com um único ingrediente.
Eu nunca tinha comido salada de pepino coreana. Na verdade, conheço pouquíssimo a culinária desse país (quando falam “comida coreana”, é da Coreia do Sul ou do Norte? A culinária é a mesma? Reparem no meu grau de ignorância…) Mas depois que minha irmã cozinheira começou a assistir Dorama ela passou a desejar comida coreana e a procurar – e fazer- receitas coreanas. Sorte nossa!
Como disse, essa salada é muito simples, embora use alguns ingredientes típicos que nem todo mundo tem em casa. Porém não são difíceis de encontrar e depois de fazer essa receita você poderá usá-los em muitas outras preparações. Coreanas, ou não.
Salada de pepino de inspiração coreana
Essa é uma versão mais simples, mas igualmente deliciosa, da salada coreana “oi muchim”. A original é bem picante e sinta-se à vontade pra acrescentar pimenta em flocos, se quiser uma salada mais “quente”. Minha irmã serve uma versão mais autêntica no café dela, e foi seguindo as instruções dela que passei a fazer essa salada em casa. Como nunca tem vinagre de arroz em casa, faço com limão, mesmo. Fica mais delicado com vinagre de arroz, porém o limão quebra o galho. As proporções dos ingredientes do molho são sugestões. Prove pra ver se está do seu agrado e adapte de acordo com o seu gosto.
1 pepino japonês (é o ideal, mas se não tiver, use um comum)
Pra fazer o molho:
2 colheres de sopa de shoyu (molho de soja)
2 colheres de sopa de óleo de gergelim torrado (tem que ser torrado!)
2 colheres de sopa de vinagre de arroz
1 colher de chá de açúcar
1 dente de alho amassado (pequeno)
1 colher de sopa de semente de gergelim
Fatie o pepino em rodelas finas. Eu uso uma mandolina (um tipo de fatiador de legumes), mas você consegue o mesmo efeito com uma faca afiada e bastante paciência.
Misture bem todos os ingredientes do molho (pode usar um garfo ou colocar tudo num potinho de vidro, tampar bem e sacudir vigorosamente). Prove e veja se precisa de mais acidez (mais vinagre), mais sal (shoyu) ou mais doce (açúcar) e corrija, se necessário. O molho deve ficar bem equilibrado: nem salgado demais, nem doce demais, nem ácido demais. Se tiver usando suco de limão, seu molho vai ficar mais ácido, então você pode corrigir juntando mais açúcar e/ou óleo de gergelim. Ou deixe mais ácido, mesmo, se gostar. Despeje o molho sobre os pepinos e mexa pra envolver tudo.
Em uma frigideira seca, toste levemente as sementes de gergelim, até dourar um pouco. Se tiver usando sementes tostadas, não precisa fazer isso. Salpique a salada com o gergelim. Sirva imediatamente ou deixe marinando um pouco na geladeira, pros sabores ficarem mais intensos.
Será que esse blog precisa de mais uma receita de farofa? Precisa, porque ainda não compartilhei aqui a farofa de banana caramelizada e cebola tostadinha da minha prima Íris. Nenhuma coleção de receitas que se preze (ou seja, que honre seu território e as comidas que vêm da terra) está completa sem ela.
E o que diferencia essa farofa das outras? Embora todas as farofas Papacapim sejam gostosas, essa aqui faz parte daquela categoria de receitas que parece que leva algum pozinho mágico e consegue agradar todo mundo. Embora eu ache minha farofa de caju o supra-sumo da deliciosidade, ela não agrada todo mundo (tem que gostar de caju pra gostar dela). Já a farofa da minha prima consegue traz aquela alquimia misteriosa que produz um resultado muito maior que a soma das partes (que são humildes: banana, cebola, farinha…) e é sucesso garantido com qualquer público. Tudo isso sem os artifícios da indústria alimentícia com seus produtos ultraprocessados viciantes. Acredito que o segredo seja o modo de preparo, por isso incluí fotos do ponto certo dos ingredientes que caracterizam essa farofa.
Faça essa receita se você gosta de farofa, mas também faça se não gostar de farofa. Talvez ela consiga te fazer mudar de ideia. Porque você também precisa de farofa na sua vida, companheira. Vou repetir a expressão da amiga pernambucana, que já compartilhei aqui em 2019: farofa é a argamassa da vitória.
Farofa de banana caramelizada e cebola tostadinha
Essa receita é uma das especialidades da minha prima Íris, que a chama simplesmente de “farofa de banana”. Ela faz essa farofa em todas as ocasiões especiais e é, pra mim, uma das melhores farofas do mundo! As quantidades são aproximadas, pois minha prima cozinha sem xícaras nem colheres medidoras, usando sempre o olhômetro. Aproveito pra lembrar o óbvio: gordura é essencial pro sucesso de qualquer farofa. (A única exceção que conheço é a farofa d’água) Ao invés de ter medo da quantidade de óleo aqui e tentar fazer uma versão “light”, sugiro uma alternativa. Coma farofa (da boa, sempre!), mas somente em ocasiões especiais.
1 cebola grande (branca, mas roxa também funciona)
4 dentes de alho
3 bananas médias (maduras, mas não moles)
2/3 de xícara de óleo + 1 colher de sopa (de girassol ou de soja)
3 xícaras de farinha de mandioca fina (peneire, se preciso)
Sal e pimenta preta
1 colher de sopa de açúcar (opcional)
Corte a cebola em cubos pequenos. Rale ou pile o alho e reserve. Coloque a cebola cortada em uma panela grande junto com 2/3 de xícara de óleo. Leve ao fogo médio, mexendo de vez em quando, até a cebola ficar bem dourada e reduzir bastante de tamanho. Ela tem que ficar bem tostadinha, já puxando pro marrom. Insisto nisso porque aqui está o segredo do sabor maravilhoso dessa farofa. Veja fotos abaixo pra entender o ponto. Se você não chegar nesse ponto, não garanto os resultados.
Mas cuidado pra não queimar: ela vai do dourado-escuro ao queimado em questão de segundos! Assim que atingir o ponto da foto acima coloque o alho picado/amassado, mexa e deixe fritar mais alguns segundos. Quando o alho também estiver bem frito, tempere generosamente com sal, uma pitada de pimenta preta e despeje a farinha, aos poucos, mexendo entre cada xícara. Deixe a farinha cozinhar alguns minutos, pra tostar um pouco, mexendo frequentemente. Prove e acerte o sal (farofa tem que ficar bem temperada, então não tenha medo de caprichar no sal). Reserve.
Descasque e corte as bananas em rodelas (nem muito finas, nem muito grossas). Em uma frigideira aqueça 1 colher de sopa de óleo e doure as bananas, em fogo médio-baixo, virando pra cozinhar dos dois lados. Tem que ficar bem dourada, começando a caramelizar, como na foto abaixo.
Quando as bananas estiverem douradas dos dois lados, polvilhe com 1 colher de sopa de açúcar e deixe caramelizar ligeiramente. Esse passo é opcional e você pode deixar o açúcar de fora, se preferir (principalmente se as bananas estiverem bem doces). Junte as bananas douradas/caramelizadas à farofa e misture bem. Sirva e se delicie. Rende uma quantidade boa de farofa e ela se conserva (fora da geladeira) por alguns dias.
No ano de nascimento desse blog, 2010, publiquei uma das minhas receitas preferidas: pirão de maxixe. Há anos faço esse prato pra minha família e ele até já esteve no cardápio de um restaurante vegano em João Pessoa, o Papoula Culinária Saudável. A história de como criei essa receita foi assim.
Pirão é um prato muito afetivo pra mim e pra boa parte das pessoas no meu território (Nordeste). Mas por aqui ele é sempre feito com peixe ou vaca. Quando me tornei vegana, decidi que não deixaria essa parte da minha cultura alimentar pra trás e criar um pirão gostoso, feito com vegetais, virou uma missão. Veja como são as coisas. Eu nunca tinha comido pirão de maxixe, mas lembrei que algum dia, em algum lugar, alguém tinha falado dele. Perguntei ao meu redor e ninguém lembrava de ter comido, mas teve quem disse: “Já ouvi falar”. Então não posso dizer que a ideia nasceu na minha cabeça mas, por falta de referência concreta, tive que inventar a receita. Não foi difícil, bastou seguir a cartilha do pirão: primeiro faz um caldo saboroso, depois junta farinha de mandioca e coloca no fogo pra dar o ponto.
Mas aí que entra o pulo do gato. No caso, da gata. Caldo de animais é feito cozinhando pedaços do animal em questão (peixe ou vaca) na água pra extrair o máximo de sabor deles. Pirão é conhecido entre as pessoas empobrecidas da minha região como uma maniera de esticar mais um pouquinho a comida animal. Num dia se come os músculos do animal, no outro se ferve os ossos ou a cabeça (se for peixe) pra extrair mais uma refeição. Só que maxixe já tem muita água, então decidi que ao invés de cozinha-lo na água pra fazer um caldo, o que deixaria a mistura sem muito sabor, eu cozinharia o maxixe sem acrescentar água nenhuma e ele se tornaria o próprio caldo. Basta bater o maxixe cozido no liquidificador e pronto: temos um líquido espesso e saboroso pra ser a base do pirão.
Um pirão que usa um vegetal que cresce em toda roça aqui, sem exigir muito de quem lavra a terra. Na verdade, escutei muitas agriculturas dizerem: “Maxixe nem precisa ser plantado, aparece sozinho nas roças.” Nesse canto do mundo que me viu nascer, ele é um alimento espontâneo, manifestação da generosidade da terra. Então fazer pirão com esse vegetal é muito simbólico pra mim, pois até o espírito do pirão, que é alimentar mais bocas quando a comida é pouca, foi mantido aqui.
Um pirão que alimenta quem não tem quase nada graças à generosidade da terra, sem precisar derramar o sangue de um irmão de outra espécie. Isso é a nossa cultura alimentar evoluindo na direção certa. A direção do amor, da partilha dessa Terra com os outros seres e do cuidado com o vivente.
E por que voltei com uma receita publicada aqui há 13 anos, você pergunta? Porque essa receita foi evoluindo ao longo dos anos e eu precisava compartilhar com vocês a versão mais atual, que conseguiu a proeza de ser ainda melhor que a antiga. Um desbunde, minha gente, um desbunde!
Eu tenho o costume de perguntar às pessoas o que elas gostariam de comer na sua última refeição na Terra. Imaginando, claro, que você viveu uma vida longa e feliz e que ainda tem os dentes e o apetite intactos. Esse pirão seria a entrada que eu pediria na minha última refeição.
Pirão de maxixe (que eu pediria na minha última refeição)
Esse pirão tem dois segredos. O primeiro, como expliquei no texto acima, é cozinhar o maxixe sem água e bater tudo no liquidificador depois pra criar um caldo encorpado e saboroso. O segundo é usar leite de coco fresco. Foi esse ingrediente que trouxe a dose de gordura que faltava, já que maxixe praticamente tem zero gordura, e deixou o pirão untuoso, elevando esse prato a outro patamar. Outra dica importante: maxixe é melhor quando está verde. Os maduros tem sementes e casca bem mais duras, então se puder escolher, compre os maxixes mais jovens que encontrar (veja foto no final da receita). Também é importante usar farinha fina, sem caroço. Se preciso, peneire a sua pra eliminar os caroços.
Óleo (usei de babaçu, mas qualquer óleo ou azeite serve)
Suco de limão (opcional)
Sal e pimenta preta
Eu compro os maxixes limpos na feira. Se não for o caso, raspe os pitocos do maxixe com uma faca (como se raspa a casca da cenoura), pra tirar a maior parte deles, e corte os rabinhos. Em uma panela grande e, idealmente, de fundo espesso aqueça um pouco de óleo e refogue a cebola picada junto com os maxixes cortados em pedaços pequenos. Refogue, mexendo de vez em quando, até o maxixe começar a grelhar em alguns lugares e pegar um pouco de cor. Isso é importante pra aumentar o sabor.
Quando estiver como na foto acima, junte o alho (picado ou pilado) e os tomates. Tempere com um pouco e sal. Veja as fotos pra ter uma ideia da proporção maxixe/cebola/tomate. O alho e os outros temperos você coloca a gosto. Cozinhe os vegetais em fogo médio, coberto, sem acrescentar água, até o tomate desfazer completamente.
Deixe esfriar um pouco, cubra tudo com leite de coco (melhor se for fresco, feito em casa) e triture no liquidificador. Tudo bem se ficar não ficar completamente homogêneo.
Coloque a mistura de maxixe batido com leite de coco de volta na panela, junte uma pitada generosa de pimenta preta, um pouco de pimenta de cheiro picada e, ainda com o fogo apagado, alguns punhados de farinha de mandioca, juntando aos poucos e mexendo bem com uma colher de pau antes de acrescentar mais. Aqui você vai adaptar de acordo com a quantidade de maxixe que você tiver usado e com a textura de pirão que você prefere. Eu gosto de pirão mais fino, mas tem quem goste de pirão grosso. Junte farinha suficiente (fora do fogo!) até ficar mais líquido do que o desejado, já que o pirão ainda vai pro fogo e a farinha vai engrossar com o calor.
Cozinhe o pirão, mexendo sempre, até ferver e encorpar. A gente sabe quando o pirão tá cozido porque ele perde a cor esbranquiçada (dada pela farinha) e fica mais escuro. Se ficou mais fino do que o desejado, junte mais farinha, polvilhando aos poucos e mexendo bem pra não emboloar. Desligue o fogo e junte coentro picado e, se gostar, umas gotinhas de limão. Prove a corrija o sal (e a acidez), se necessário. Se gostar de pimenta, sirva acompanhado de um bom molho de pimenta (meu pai tem uma receita maravilhosa).
O maxixe à esquerda está bem jovem e isso é o ideal. O da direita já está maduro, com sementes maiores e mais duras e pele mais espessa. Dá pra fazer pirão com maxixes maduros (o pirão da foto foi feito com uma mistura de maxixes verdes e maduros) mas se puder, escolha sempre os mais jovens, pois são mais saborosos e tenros.
Primeiro, porque é época de caju. Segundo, porque sou potiguar e o meu estado é um dos maiores produtores de caju do Nordeste (e a quase totalidade da produção de caju no Brasil acontece no Nordeste). Terceiro, porque boa parte do caju cultivado é desprezado, pois a castanha tem um valor comercial muito maior. Quarto, porque adoro caju.
Por tudo isso, me dei por missão incentivar o consumo da carne de caju no nosso território. Como estou em Natal agora, vou aproveitar essa oportunidade pra criar novas receitas com essa fruta e inspirar vocês, principalmente vocês que estão no Nordeste, a comer mais caju. (Eu sei, o caju é um pseudofruto. O fruto do cajueiro é a castanha, mas vamos combinar de continuar chamando caju de fruta.)
Sei que não é a fruta mais fácil de gostar. Os taninos, responsáveis pelo ranço na garganta, incomodam muita gente. Esse é mais um motivo pra popularizar a carne de caju: na versão salgada, a adstringência da fruta desaparece. Não que isso seja problema pra mim. Eu amo caju e adoro a adstringência dele, então gosto tanto de chupar caju (fresco) quanto de degustá-lo em versão salgada (na minha terra falamos “chupar caju” e não “comer caju”. Aliás, também “chupamos” manga.) Mas se o perfume e o sabor dessa fruta ainda não te seduziram na versão fresca, tente a versão cozida e venha conversar comigo depois.
A receita de hoje é bem simples, mas muito, muito boa. Tanto que não entendo como ainda não se tornou um clássico da culinária nordestina. Mas, se depender de mim, vai passar a fazer parte da cultura alimentar do veganismo popular nordestino. Preparadas? Farofa de caju!
Usei a receita do recheio do meu pastel de caju (de forno, com massa de jerimum) e simplesmente acrescentei um pouco mais de gordura e, obviamente, farinha. Se você nunca preparou carne de caju, essa receita ensina a técnica de base. Tem quem chame de “carne de caju” a fibra da fruta, depois que todo sumo foi retirado (é só espremer bem). Eu acho essa técnica ruim por dois motivos. Ao retirar todo o suco da fruta, perde-se também sabor. E além de ter menos gosto (tem gente que até lava a fibra do caju depois de retirar o suco, pra que ela fique com gosto de nada), a carne perde a suculência e fica seca. Pra que fazer isso com o coitado do caju? Despautério!
Eu prefiro deixar a maior parte do suco na carne do caju, pelas razões citadas acima (retiro só um pouquinho pra não ficar doce demais), e não precisa se preocupar com o ranço/adstringência, pois o fogo vai dar cabo dele. Se você gosta de farofa e quer aprender a gostar de caju, recomendo demais essa receita. E se você já gosta de caju, vai se apaixonar.
Farofa de carne de caju
Na receita de pastel de caju ensino o passo-a-passo (com fotos) pra preparar a carne de caju básica. É ela que usamos como recheio pra torta, panqueca, pastel e que serve de base pra essa receita. Pra não repetir tudo aqui, deixando a receita longa demais, comece vendo o post do pastel de caju pra entender como preparar essa farofa. Depois que a carne de caju estiver pronta, essa receita fica pronta em segundos!
Farinha de mandioca (gosto da farinha fininha e ainda assim peneiro pra retirar todos os caroços)
Óleo (usei óleo de babaçu, que tem um sabor delicioso, mas qualquer um serve)
Pimenta de cheiro
Páprica (se for defumada, melhor), ou colorau (urucum)
Pimenta preta e sal a gosto
Em um tacho ou panela de fundo grosso, aqueça o óleo. A quantidade vai depender de quanto de carne de caju você estiver usando, mas não precisa muito (eu diria que pra uma xícara de carne de caju cozida você pode usar entre 2-4 colheres de sopa de óleo). Junte a carne de caju (já cozida e temperada) e farinha suficiente pro seu gosto (eu gosto de farofa úmida, mas se você gostar de farofa seca, use mais farinha). Tempere com páprica (ou colorau, pra deixar a farofa amarelinha), pimenta preta e sal. Deixe cozinhar uns 10 minutos, mexendo com uma colher de pau de vez em quando, pra tostar um pouco a farinha. Desligue o fogo e junte pimenta de cheiro picada a gosto. Prove e corrija o sal, se necessário.
No final do mês passado eu passei uns dias no interior da França, na casa do meu sogro. Todos os anos a família inteira se reúne ali por alguns dias, no verão (que na Europa é de junho à agosto). É a ocasião de juntar todo mundo embaixo do mesmo teto, pois uns moram em Berlim, outras moram no sul do país, outras moram no norte.
Além de curtir o jardim maravilhoso do pai de Anne, organizamos passeios no bosque da família. Quem é leitora raiz do blog vai lembrar desse post sobre a colheita de cogumelos no outono, que fez um enorme sucesso quando publiquei. Ainda estava cedo pra colher cogumelos, embora a gente tenha encontrado alguns, mas os arbustos estavam cheios de mirtilos e tinha morangos selvagens, minúsculos, por todos os lados. No final colhemos o suficiente pra enfeitar nosso café da manhã (comemos com aveia dormida) e pra acompanhar o mousse de chocolate que fiz de sobremesa uma noite.
Uma coisa que nós, mulheres da família, sempre fazemos nesses momentos é cozinhar juntas e trocar receitas vegetais. Sorte minha, as duas cunhadas são vegetarianas e a cuncunhada alemã prefere alimentos do reino vegetal, então o verão é o momento em que preparamos várias saladas (cruas, cozidas, com leguminosas, com folhas) e nosso prato é uma explosão de cores e texturas a cada refeição.
Céline, a irmã do meio de Anne, que já apareceu aqui através dessa receita, faz a melhor salada de cenoura crua que eu já comi. Ela é uma pessoa muito generosa e é interessante ver como a maneira que ela cozinha é uma continuação da personalidade dela: é tudo farto, rico em texturas e cores e com uma imensa variedade de sabores. Essa salada é tudo isso. As adultas adoraram, mas a surpresa foi ver o sucesso com as crianças/adolescentes, que não são os maiores fãs de comida da terra. A doçura da cenoura é acentuada pela mação, tem duas ervas frescas, dois cítricos no molho, várias sementes e oleaginosas… Vou compartilhar a receita dela, mas se não tiver tudo isso na sua cozinha, deixe alguns ingredientes de fora ou adapte, como eu fiz aqui.
Salada de cenoura de Céline
Céline usa salsinha e coentro nessa salada, mais sementes de girassol, jerimum (abóbora) e amêndoas. Infelizmente nesse dia eu só tinha salsinha (fica muito mais saborosa com o coentro), mas usei também um pouco de cebolinha. Na categoria “sementes”, só tinha semente de jerimum em casa e juntei também semente de papoula, pois fica uma delícia com cenoura (é um ingrediente difícil de achar no Brasil). Use as ervas e as sementes/oleaginosas que preferir que não tem como dar errado.
Cenoura
Maçã (use 1/3 de maçã pra 2/3 de cenoura)
Salsinha e coentro frescos
Um punhado de sementes e oleaginosas (sementes de jerimum, girassol ou gergelim, castanhas, amêndoas…)
Suco de laranja e limão (metade-metade, ambos frescos)
Azeite (ou o óleo da sua preferência)
Sal e pimenta preta
Rale a cenoura e a maçã (cruas). Regue com o suco de limão e laranja e reserve.
Coloque as sementes/oleaganiosas pra tostar em uma frigideira limpa (sem acrescentar mais nada) e toste por alguns minutos, até o aroma se intensificar. Enquanto isso, pique as ervas.
Junte as sementes tostadas e as ervas picadas com a cenoura e a maçã raladas, regue com azeite e tempere com uma pitada de sal e pimenta preta. Misture bem, prove e corrija o tempero, se necessário.
O lote que cultivamos coletivamente, nos Jardins Operários, está dando muita abobrinha no momento. Os pés de abobrinha que eu mesma plantei e que me foram presenteados por Maria, uma das operárias que cultivam aquela terra, pertinho do nosso lote. E, procurando novas maneiras de cozinhar abobrinha, decidi fazer essas panquecas um dia e foi um sucesso tão grande que agora pra todo lugar que vou, chego com elas embaixo do braço. Em duas semanas elas apareceram em pique-niques, reunião com o coletivo, jantar de comemoração nos jardins, jantar com as amigas aqui em casa e até levei pra reconfortar uma camarada no dia em que ela perdeu sua cadela velhinha.
A receita segue o mesmo princípio dessa “mini fritada de couve-flor”. Não duvido que seja possível utilizar essa base com uma infinidade de outros vegetais, mas a mistura de abobrinha com grão de bico me pareça perfeita. E o molho de tahina é um velho conhecido aqui do blog, mas dessa vez acrescentei coentro pra ficar ainda melhor. Se você odeia coentro, basta usar salsinha que também fica supimpa.
Panqueca salgada de abobrinha e grão de bico com molho de tahina e coentro
Abobrinhas variam muito de tamanho, então adapte a receita ao que você tiver em casa e/ou ao número de pessoas comendo. Como sempre, aqui vão os ingredientes e as instruções de preparo, mas sem as medidas. O importante é ter uma ideia da proporção de abobrinha e farinha de grão de bico, o resto é tempero e você decide o quanto quer usar. A mesma coisa é válida pro molho, que é opcional, mas altamente recomendado.
Abobrinha (italiana)
Farinha de grão de bico (bem fina)
Cebolinha
Sal e pimenta preta
Azeite ou óleo
Molho de tahina e coentro
Tahina (pasta de gergelim)
Suco de limão
Coentro ou salsinha
Alho (opcional)
Sal e pimenta preta
No dia anterior misture a farinha de grão de bico com um pouco de água, aos poucos, mexendo bem com uma colher pra ficar homogêneo e sem carocinhos. A textura deve ser bem espessa, pois no dia seguinte você vai acrescentar a abobrinha e ela traz muito líquido à mistura. É importante fazer isso na véspera de quando quiser comer as panquecas, pois a farinha de grão de bico fica muito mais saborosa, e cozinha melhor, se for hidratada por 12 horas antes de ir pra frigideira. Eu vou além e deixo minha massa fermentar um pouco, como dá pra ver na foto abaixo, à esquerda (fermentação natural, só colocar em um local quentinho da cozinha que numa noite começa a fermentar).
Depois da noite de descanso (no dia seguinte), rale a abobrinha, com casca e sementes, no ralo grosso. Salgue e deixe descansar 5 minutos pra liberar um pouco do líquido do vegetal. Enquanto isso corte miúdo um pouco de cebolinha, a parte branca e a verde. Depois coloque a abobrinha ralada numa peneira e use a palma da mão pra espremer a abobrinha contra a peneira. Não precisa espremer muito, basta retirar um pouco da água. Misture a abobrinha ralada/espremida com a massa de farinha de grão de bico que estava repousando. O ideal é usar o dobro de volume de abobrinha – depois de espremida- em comparação ao volume de massa de grão de bico. Acrescente a cebolinha cortada, um pouco de sal e tempere com pimenta preta. Prove pra ver se precisa corrigir o sal.
Aqueça um pouco de azeite/óleo em uma frigideira anti-aderente e despeje colheradas da mistura. Pra cozinhar direito e virar com facilidade, não faça panquecas grandes: uma colher de sopa bem cheia por panqueca é ideal. Tampe (minha frigideira não tem tampa, então cubro com outra frigideira) e deixe cozinhar em fogo baixo até as bordas ficarem douradas. Destampe a frigideira e use uma espátula pra virar os bolinhos. Deixe cozinhar do outro lado, dessa vez sem cobrir. Quando estiver dourado dos dois lados, está pronto. Repita a operação com o resto da mistura. Deixe amornar antes de servir, pra textura firmar um pouco dentro do bolinho.
(Eu gosto de ir colocando as panquecas prontas dentro de uma travessa de vidro, umas em cima das outras, e tampada. Assim o vapor criado dentro do recipiente continua cozinhando levemente as panquecas, deixando tudo bem macio, e ao mesmo tempo elas amornam o suficiente pra ficar na textura perfeita, sem ficarem fria. Mas mesmo frias, são deliciosas.)
Se estiver servindo com o molho de tahina, aqui vão as instruções de preparo. Misture a tahina com um pouco de suco de limão e mexa bem. Vá acrescentando água aos pouquinhos, mexendo bem, até atingir a textura de um creme fluido. Junte alho (pilado ou ralado – a gosto), se estiver usando, tempere com sal e pimenta preta. Prove e decida se precisa de mais limão ou mais sal. Ficou líquido demais? Junte mais tahina. Ácido demais? Junte mais tahina e mais água. E assim por diante. Use seu paladar pra te guiar, basta respeitar a textura: cremosa e fluida. Pique um punhado de coentro (ou salsinha) bem miúdo e misture ao molho. Sirva com os bolinhos.
Esse molho pode acompanhar uma infinidade de coisas. Pode inclusive ser degustado simplesmente com pão.
Sei que a última receita que postei nesse blog foi uma torta, mas essa aqui não tem nada a ver com aquela lá. E, sendo bem sincera, a verdadeira receita é a cebola caramelizada. Ela dá uma torta saborosa e elegante? Sim, mas se quiser fazer só a cebola e usar como condimento ou pasta pra comer com pão, tens todo o meu apoio. Mais que apoio, incentivo! Tanto que vou parar esse texto por aqui pra você ir direto à receita.
Torta de cebola caramelizada com vinagre e figo (ou passas)
Você pode usar essa cebola caramelizada pra uma infinidade de coisas. Pra rechear uma torta salgada, como fiz aqui (use essa massa ou a que preferir). Como parte de um sanduíche ou pizza. Pra rechear uma empada ou pastel de forno. Ou simplesmente pra passar no pão (como um chutney). Se você tiver a sorte de ter queijo de castanha de caju por perto, os dois casam lindamente. Vou dar as medidas pra fazer recheio suficiente pra uma torta, mas use como um guia pra te dar uma ideia das proporções e adapte pra quantidade que você quiser fazer.
4-5 cebolas médias (brancas)
3 figos desidratados (ou um punhadinho de uva-passa)
3 colheres de sopa de azeite
1 colher de sopa de vinagre balsâmico (se não tiver, use de vinho)
Um punhadinho de alecrim fresco (ou uma pitada generosa de alecrim seco)
Sal e pimenta preta
Pra massa:
1 caneca de farinha de trigo (200g)
5 colheres de sopa de azeite
6 colheres de sopa de água (leite de soja – sem açúcar- deixa a massa ainda melhor)
Sal
Corte as cebolas ao meio, depois corte cada metade em fatias. Aqueça o azeite em uma panela média e de fundo espesso. Cozinhe a cebola em fogo médio (coberta) até começar a dourar, depois baixe o fogo e cozinhe, sempre coberto, até a cebola começar a caramelizar. Mexa de vez em quando, usando uma colher de pau, pra que tudo cozinhe de maneira uniforme. O açúcar natural das cebolas vai ser liberado aos poucos, fazendo com que elas fiquem macias, doces e escureçam um pouco. Seja paciente: o processo de caramelização vai levar de meia hora a 40 minutos e quanto mais baixo o fogo, melhor (assim a caramelização vai acontecer sem que algumas cebolas queimem no processo). Junte o vinagre (a acidez é importante pra quebrar o doce e realçar o sabor aqui) e os figos secos picados (ou as passas) e deixe cozinhar até o vinagre evaporar. As cebolas estão prontas quando estiverem como na foto abaixo (essa é a torta antes de ir pro forno. As cebolas vão terminar o bronze lá dentro). Desligue o fogo, acrescente o alecrim e tempere com sal e pimenta preta.
Enquanto as cebolas cozinham, prepare a massa. Misture todos os ingredientes com as mãos, até formar uma bola coesa e elástica. Obs: dá pra inverter as proporções de azeite e água (ou leite de soja) pra deixar a massa mais amanteigada e menos elástica. Questão de preferência pessoa. Deixe descansar alguns minutos (fica mais fácil abrir a massa quando ela está relaxada) antes de espalhar numa forma (ou placa). Quando lembro, cubro a forma com um pedaço de papel manteiga (sai mais fácil depois) e abro a massa com as mão, mesmo, mas nada te impede de usar um rolo. A massa deve ficar fina pra assar direitinho (medi aqui em casa: ela tem que ficar com 26 cm de diâmetro – o tamanho do fundo de uma forma de quiche aqui- pra ficar na espessura ideal).
Espalhe as cebolas caramelizadas sobre a massa, deixando um dedo de borda descoberta, e leve ao forno médio (180 graus), pré-aquecido ou não (às vezes esqueço de pré-aquecer e dá certo do mesmo jeito). Quando as bordas estiverem bem douradas (como na foto abaixo), tá pronta. Deixe esfriar um pouco antes de servir. Rende 4 pedaços/porções.
Dicas:
-Coloque umas azeitonas pretas na sua torta, depois que sair do forno, pra deixá-la ainda mais especial. Azeitonas pretas e uma pitada de algas em flocos (ou uma folha de nori picada), então, e vira comida de festa.
-Se gostar de mostarda de Dijon, espalhe uma fina camada na massa crua, antes de colocar as cebolas.
-Como eu disse, essas cebolas são uma delícia só com pão, então se quiser fazer só o recheio, vá em frente. Guarde em um pote de vidro com tampa e coloque na geladeira. Dura vários dias.
Versão com azeitonas pretas (eu tava distraída e deu uma queimada, ops)
Há anos eu procurava uma receita de torta salgada que reunisse todos os critérios que fazem, na minha opinião, uma boa torta salgada. Não gosto de tortas que são secas ou com muita farinha de trigo (as “pizzas de liquidificador” da minha infância eram assim). Queria uma torta suculenta e com muito mais legume do que farinha, mas que ao mesmo tempo pudesse ser cortada em pedacinhos bonitos e servida em ocasiões festivas (ou como tira gosto no meu boteco imaginário).
Tive o prazer de provar algumas tortas assim feitas por duas mulheres veganas do meu Nordeste (um cheiro pra Natália, de Fortaleza, e outro pra Bia, de Salvador). Mas quem disse que eu tenho a receita delas? Natália até me deu, anos atrás, a receita da torta com lentilhas que ela faz, mas eu perdi. E quando pedi a receita de Bia, ela respondeu que tinha feito no olhômetro, com o que tinha achado na cozinha naquele dia. Então tive que inventar minha própria receita.
Mas preciso dizer que não iniciei essa empreitada sozinha. Parti da receita de torta de legumes de Ruan Félix (cheiro, Ruan!), que ele publicou no blog de dona Juliana Gomes (cheiro, Ju!). Eu não tinha todos os ingredientes da receita de Ruan, mas ela foi fundamental pra me ensinar o pulo do gato em matéria de torta de legumes suculentas sem usar ingredientes de origem animal: batata cozida. É a bruxaria que faz a beleza dessa receita. E, como ele explica, essas tortas em versão animal geralmente levam ovos, óleo/manteiga e queijo, então são bem gordurosas. Por isso a versão vegetal pode (e deve) caprichar na dose de gordura (ele usa uma maionese caseira, eu uso azeite, mas já usei pesto também). Meus testes também me mostraram que a abobrinha é mais que um “legume” na “torta de legumes”, ela garante a textura úmida que eu procurava.
Foram muitos testes pra entender quais ingredientes são essenciais,e quais são enfeites, e chegar nas proporções ideias. Percebi, por exemplo, que pra chegar na textura suculenta que eu queria, o fermento era desnecessário. Fiz uma versão com farinha de grão de bico e outra com lentilha, mas tenho planos de fazer outra receita-base usando leguminosas. Eu queria que essa receita aqui fosse o mais simples possível, com ingredientes acessíveis pro maior número de pessoas. E também que se mantivesse próxima das tortas de legumes mais tradicionais, embora eu ache que a minha versão é ainda melhor.
Como precisei fazer quase uma dezena de testes antes de chegar na receita abaixo, pude compartilhar essa torta com várias pessoas e posso afirmar que o sucesso é garantido. E repare como essa torta é linda! Vão perguntar se tem queijo, por causa da maneira como ela fica douradinha por cima e do sabor maravilhoso (obra, em partes, da dose caprichada de gordura ). Responda que ela tem algo muito melhor: amor por todos os viventes e valorização dos vegetais.
Torta salgada de legumes
Essa é mais uma fórmula que pode ser usada pra criar várias tortas diferentes, dependendo do “legume saborizante” que você utilizar. A abobrinha da base é importante pra atingir a textura desejada, então ela não pode ser substituída aqui. Se estiver usando um legume de sabor forte no tempero (como azeitona ou tomate seco), aconselho usar apenas 1/2 medida dele e completar com algo de sabor mais suave. Cenoura ralada fica perfeito aqui e ajuda a baratear a receita (nesse caso ficaria 1/2 medida de tomate seco ou azeitona e 1/2 medida de cenoura ralada). Pra fazer uma torta pequena uso uma caneca como medida. Você pode dobrar a receita (mantendo a caneca como medida) pra fazer uma torta maior. Minha receita foi inspirada em grande parte pela receita de torta de legumes de Ruan Félix.
Base (1 medida = 1 copo ou 1 xícara ou 1 caneca):
1 medida de batata cozida e amassada
1 medida de abobrinha ralada com casca (aperte bem na hora de medir)
1 medida de farinha de trigo (branca ou integral)
1/4 medida de óleo
Sal e pimenta preta a gosto
Temperos
1 medida de um legume “saborizante” (tomate seco, palmito, azeitona, milho verde, ervilha, coração de alcachofra, cogumelo, cenoura ralada… pode ser uma mistura de mais de um)
Alho e/ou cebola a gosto (opcional)
Ervas secas ou frescas
Um pouquinho de suco de limão (opcional, mas eu gosto porque a acidez realça o sabor de tudo)
Misture tudo com uma colher de pau ou espátula. Prove e corrija o sal, se necessário. (Se estiver usando alho e cebola, pique esses ingredientes e refogue em um pouco de óleo por alguns minutos antes de acrescentar à massa.) A massa vai parecer seca e você vai se perguntar se não era pra acrescentar algo líquido ali. Confie, vai dar certo. Mas ATENÇÃO: se os ingredientes que você estiver usando pra dar sabor à torta (“legumes saborizantes”) forem bem secos (milho verde e ervilha, por exemplo), ou seja, não tiverem a umidade de uma cenoura ralada ou de corações de alcachofra, use um pouco menos de farinha (3/4 de medida, ao invés de 1 medida cheia) ou um pouco mais de abobrinha ralada pra equilibrar a massa.
Despeje a massa em uma forma untada com um pouco de óleo (não precisa enfarinhar), espalhe com as costas de uma colher e leve ao forno médio (não precisa pre-aquecer) até ficar bem dourado e levemente firme quando você apertar com o dedo. O ideal é que essa torta não fique muito espessa, então escolha uma forma onde caiba tudo em uma camada não muito alta. O tempo de cozimento vai depender do tamanho da sua forma, então fique de olho e não tenha medo de abrir a porta do forno pra checar regularmente e, nesse caso, é melhor assar demais (vai ficar ligeiramente crocante nas bordas) do que de menos.
Importante: deixe esfriar completamente antes de cortar e servir. Se ela ainda estiver morna na hora de cortar, o interior estará cremoso demais e vai ser purê de torta pra todos os lados. Somente depois de totalmente fria é que dá pra cortar pedaços perfeitos.
O que usei na torta da foto, que é grande (8 pedaços bons):
(Base) 2 canecas de batata amassada (4 batatas médias) + 2 canecas de abobrinha ralada (2 abobrinhas médias, apertei bastante pra entrar tudo na caneca) + 2 canecas de farinha de trigo semi-integral + 1/2 caneca de azeite (Temperos) 1 caneca de cenoura ralada (1 cenoura grande) + 1 caneca de ervilha cozida (compro congelada) + alho poró refogado (aproximadamente 1/2 caneca) + alho desidratado (porque estava com preguiça de descascar alho fresco) + um punhadinho de ervas secas (tomilho/manjericão/orégano) + sal e pimenta do reino + suco de limão.
Dicas:
-Tomate seco fica uma delícia aqui, mas se estiver usando tomates conservados no óleo, reduza um pouquinho a quantidade de óleo da receita. Eu não fiz isso e minha torta de tomate seco ficou bem gordurosa (saborosa, mas gordurosa – e ninguém reclamou dos dedos lambuzados de óleo).
-Se tiver pesto na geladeira, use no lugar do óleo. Fiz isso uma vez e ficou sublime, embora a torta fique verde, o que pode causar estranheza em algumas comedoras que torcem o nariz pra verduras.
-Sinta-se à vontade pra temperar sua torta como quiser. Uso páprica doce defumada e fica ótimo. E imagino que uma versão com curry e coentro fique supimpa também.
Olha isso… Prometi um bolo de jerimum (receita na qual estou trabalhando há quase um ano!), e apareço aqui mais uma vez com outra coisa.
Ontem, enquanto me deliciava com minha receita preferida com jerimum, me dei conta que nunca tinha postado a danada aqui. Até vasculhei os arquivos do blog pra ter certeza, pois me parecia malvadeza demais não ter falado desse jerimum antes. Como deixei isso acontecer?
Essa receita é extremamente simples mas não deixe isso te enganar: o resultado final é delicioso. Outro dia uma pessoa, que já foi cozinheiro profissional, me disse: “Comida vegana é muito complicada.” Baseado em que ele disse isso? No preconceito com a culinária vegetal, naturalmente. Pratos como esse estão aqui pra mostrar que a comida da terra não precisa de muito enfeite pra ficar boa, nem de horas de trabalho árduo na cozinha, nem de ingredientes caros e difíceis de encontrar.
Sirvo esse prato como acompanhamento, no almoço (fica perfeito com feijão macaça/fradinho, como na foto acima) mas também adoro comê-lo como recheio de tapioca (com couve refogada por cima fica supimpa!), e junto com cuscuz (deixa eu dizer que cuscuz com feijão macaça e esse jerimum é uma combinação tão linda quanto nutritiva e saborosa).
Jerimum (abóbora) com coco
Como toda receita com poucos ingredientes, a qualidade deles faz toda a diferença no produto final. Usei jerimum de leite orgânico (meu preferido), que é denso (não é aguado), cremoso e tem um sabor bem doce sem ser enjoativo. A casca dele, depois de cozinha, é macia, então muitas vezes nem descasco. Leite de coco é sempre melhor caseiro. E se coentro não é a sua praia, deixe de fora, ou use salsinha.
Jerimum (abóbora), da sua preferência, em cubos médios (com ou sem casca, como quiser)
O ideal é usar uma panela mais larga que funda, de um material pesado (uso uma panela de ferro que está há anos na família) e que tenha tampa.
Aqueça o óleo/azeite e doure a cebola. Junte o alho e refogue por mais 30 segundos. Acrescente os cubos de jerimum, a pimenta de cheiro (se estiver usando), salgue generosamente e mexa com uma colher de pau. Baixe o fogo e tampe. Deixe cozinhar, sem acrescentar água (o jerimum vai soltar água durante o cozimento, que se transformará em vapor), mexendo de vez em quando. Se começar a queimar é porque seu fogo ainda está alto e/ou sua panela tem o fundo muito fino. Se não puder baixar mais, junte um tiquinho de água, só o suficiente pra não grudar.
Quando o jerimum estiver ligeiramente dourado e quase totalmente cozido (isso leva poucos minutos, já que é um legume que cozinha rápido) acrescente leite de coco suficiente pra cobrir tudo e passar só um pouquinho do nível do jerimum. Tampe e deixe cozinhar, sempre em fogo baixo, até o jerimum amolecer totalmente. Uma parte vai virar purê, principalmente se você descascou o jerimum, e tá tudo bem. Prove e corrija o sal, se necessário.
Desligue o fogo e acrescente o coentro picado. Gosto de colocar bastante coentro, mas no dia que fiz a foto, só tinha uns galhinhos na geladeira. Também espremo um pouco de limão no meu jerimum, pra realçar a doçura dele, mas nem todo mundo gosta.
PS Se quiser fazer o melhor purê de jerimum da vida, é só amassar tudo depois de pronto.
Estou aproveitando que minha mãe está tirando um cochilo pra compartilhar essa receita com vocês, então serei breve. (A vida de quem tem māe idosa e doente em casa é assim: só posso trabalhar aqui no blog nos intervalos do outro trabalho, o de cuidadora.)
Conhecem farofa d’água? É bem popular aqui no RN, mas pesquisei rapidamente e descobri que ela é apreciada em outros estados do Nordeste.
Eu já defendi o chuchu nessa receita de tostada. Se você é uma das pessoas que daria o troféu do vegetal mais sem graça ao chuchu, recomendo que faça a receita de tostada, que leva tomate e manjericão, pra começar a mudar sua opinião sobre esse legume tão injustiçado. Por que injustiçado? Porque, como eu já repeti muitas vezes por aqui, “não existe vegetal ruim, você que não está preparando direito” (frase do maravilhoso Ruan Félix). Mas se quiser ir um pouco mais longe na expansão do seu horizonte culinário, chega mais.
Cresci comendo chuchu refogado, feito pela minha mãe. Na minha casa começamos a cozinhar cedo e logo era eu a encarregada dos legumes refogados do almoço, que durante muito tempo variavam entre batata e chuchu. Pra mim chuchu refogado tem gosto de casa e reconforto.
É comum ouvir reclamações do feijão macaça (fradinho), pois o bichinho dá caldo ralo. Eu cresci comendo esse feijão e até hoje meu tio planta ele lá no Sertão. O que parece problema é na verdade uma bênção. Quando eu era menina minha mãe cozinhava esse feijão, depois jogava uns temperos na panela e oferecia o caldo puro, no copo, pra acalmar o estômago que roncava antes da hora do almoço. Era o lanche das 11h. Ela aprendeu isso com a mãe, que fazia render ao máximo o pouco de comida que tinha.
Mas isso não é exatamente verdade. Sim, minha farofa de banana e couve é extremamente popular na minha família, mas um dia fiz uma versão ligeiramente modificada dessa receita e o sucesso foi ainda maior. Chamei essa obra-prima comestível de “farofa rica”.
Ainda não é oficialmente inverno no hemisfério norte (o solstício de inverno é no dia 22 de dezembro esse ano), mas as noites já estão mais longas que os dias, o frio já se instalou e a luz natural já está fazendo falta. E isso tem um efeito interessante no meu apetite. Por um lado desejo comidas quentes e pesadas (sopa, muita sopa! creme!!!), pra aquecer o estômago e me proteger do inverno. Mas ao mesmo tempo sinto falta das frutas e verduras que crescem no calor, principalmente as da minha região no Brasil. É um fenômeno curioso, esse. Ao mesmo tempo que meu corpo demanda sopa e cogumelos, minha cabeça não para de pensar em abacaxi, quiabo e mamão.
Durante a procura por apartamento aqui em Paris, um dos meus critérios de busca era ter fogão a gás. Em uma cidade onde quase todas as cozinhas são equipadas com placas elétricas, um fogão a gás é algo extremamente raro. Meu lar atual tem placas elétricas modernas (funciona por indução, seja lá o que isso quer dizer), mas apesar de preferir cozinhar com fogo, acabei me resignando. Sinto que tem algo de estéril em uma cozinha fria, onde não tem chama. (Crudívoras, não me detestem!) Talvez eu ainda me sinta muito apegada ao ato primitivo de reunir a comunidade ao redor do fogo e preparar o jantar enquanto se conta histórias. Talvez seja porque sou cozinheira e sei que não ter acesso à uma chama limita a gama de preparações culinárias possíveis (não posso preparar meu amado muta’bal, por exemplo). Mas o que tenho por enquanto são duas bocas elétricas e já adaptei minhas refeições ao que está ao meu alcance no momento.
Poucos dias antes da eleição, não sei nem como começar esse post. Estamos com medo, muito medo, mas não podemos deixar o medo ditar em quem votaremos. Principalmente no primeiro turno, já que no segundo as chances de ter que votar em uma/um candidata/o que não escolhemos é muito maior. Eu sei que tá puxado, mas vamos parar por algumas horas, colocar Terral, de Ednardo, pra tocar (sempre me acalma) e fazer bifinhos de batata doce. Continuar lendo “Tá puxado, mas trago bifinhos de batata doce e um anúncio”→
Nunca tinha ficado tanto tempo ser aparecer por aqui. Seis meses! Tanta coisa aconteceu desde o post sobre veganwashing em janeiro que nem sei por onde começar. Vou fazer um resumo dos últimos meses.
Saí de Berlim em fevereiro. Voltei pra Palestina. Tive o prazer de guiar mais dois grupos no tour político-vegano na Palestina (vai ter mais em 2018, aguardem!) e conheci pessoas maravilhosas, como acontece todos os anos. Teve o primeiro congresso sobre direitos animais e humanos na Palestina, organizado pela PAL (Palestinian Animal League). Depois fui pra Paris e realizei um projeto novo: tours veganos gastronômicos na cidade luz. Foram dois grupos e a viagem, como era de se esperar, foi deliciosa. Logo depois vim pro Brasil e cá estou há um mês e meio. Continuar lendo “Sinal de vida e o segredo do quiabo sem baba”→
Eu tinha várias coisas pra contar. Fotos pra compartiilhar. Aconteceu tanta coisa bacana por aqui nas últimas semanas, mas aí ontem a PEC 241 foi aprovada no primeiro turno. Revolta e indignação entraram (mais uma vez) no menu e o resto foi temporariamente pro segundo plano. Num momento de desespero lembrei de Manuel Bandeira e pensei: “A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.”
Começou de novo. Quando explico que estou em Beirute passando uma temporada de três meses as pessoas imediatamente me perguntam: “Onde você mora?”. Respondo: “Em Beirute” e termino a frase na minha cabeça com “…ora pois!” Mas elas nunca ficam satisfeitas, pois esperam uma resposta definitiva. O que eu não tenho. Continuar lendo “O alecrim da outra é sempre mais verde”→