Meu território em versão cremosa

Todo mundo (ou quase) conhece e adora hummus, a pasta de grão de bico (“hummus” é grão de bico em Árabe) com tahina (pasta de gergelim). Esse prato árabe, que provavelmente nasceu no Egito e logo se espalhou pela Palestina, Síria, Jordânia e Líbano, é realmente uma das receitas mais maravilhosas que já inventaram, tanto do ponto de vista gastronômico quanto nutricional, e faz parte da alimentação de base dos povos daquela região.

Mas tem lugares por aqui, nessa vasta Pindorama, onde grão de bico é difícil de encontrar e tahina é algo que ninguém nunca viu. E mesmo quando tem tahina no mercado, como é o caso de Natal, minha cidade, ela custa um rim. Por isso há tempos venho pensando em criar receitas de pastas que usem ingredientes locais e baratos, encontrados por todos os lugares, inspirado na combinação mágica leguminosa + oleaginosa.

Como meu país é o Nordeste, faz sentido usar o feijão mais cultivado, e mais consumido, aqui: o feijão macaça (de corda ou fradinho, dependendo da região). Pra nós aqui no RN tem diferença entre o feijão macaça (mais arroxeado) e o fradinho (mais claro, que algumas pessoas aqui chamam de “feijão branco”), mas vi que são variedades diferentes da mesma família e o sabor é praticamente idêntico. E pra acompanhar esse feijão tão popular, que também acontece de ser o mais barato por essas bandas, escolhi o amendoim. Além de ser nativo do território conhecido como Brasil, amendoim é muito mais barato, comparado com oleaginosas. Na verdade amendoim é uma leguminosa, ou seja, é um tipo de feijão. Mas como é muito mais rico em gorduras do que qualquer outra leguminosa, e dá uma pasta cremosa, ele entrou aqui cumprindo o função da tahina no hummus. Sem contar que amendoim é uma ótima fonte de proteína (pergunte ao povo da maromba), deixando a pasta ficou ainda mais nutritiva.

“Ah, mas fica com gosto de amendoim?”. Óbvio, e isso não é um problema! Se você detesta amendoim, sugiro que procure outra receita. Clique na página “receitas” e escolha uma das muitas pastas e patês que já postei aqui. Porém posso sugerir que você teste uma dessas receitas e tente aprender a gostar do bichinho? Você tem tudo a ganhar.

Usar ingredientes locais e baratos, que respeitem nossa cultura alimentar, é importante pra mim. Mas tem que ser muito gostoso também. Então tenho a satisfação de anunciar que servi essas pastas pra minha família e elas foram aprovadas por todas.

A primeira que criei leva só feijão macaça (fradinho), pasta de amendoim, coentro, alho, limão e sal. Ouso declarar que a combinação feijão macaça + amendoim é tão perfeita quanto o clássico árabe grão de bico + gergelim. A segunda pasta fez ainda mais sucesso aqui em casa, graças ao acréscimo de jerimum (abóbora) cozido. Sabia que as nativas do RN somos chamadas de “papa-jerimum”? Essa pasta, que ainda leva um pouco de leite de coco, é o meu território em versão cremosa. Desde que fiz essas pastas ando comendo com tudo: dentro da tapioca, acompanhando macaxeira cozida, cuscuz…

Pelas caridades, não vá imaginar que estou dizendo pra cancelar o hummus! Minha intenção com esse blog sempre foi mostrar a imensa diversidade da comida vegetal e mostrar como a culinária da terra transborda possibilidades. As duas receitas abaixo ilustram isso perfeitamente e são uma opção mais acessível no nosso território. Já falei que elas são deliciosas também?

PS Lembra do hummus cubano que minha irmã me ensinou? Se ainda não fez, saiba que amendoim e grão de bico também dão muito certo juntos. E se amendoim for a sua praia, esse creme fermentado de amendoim é a versão vegetal, descolonizada e muito melhor do requeijão.

Pasta de feijão macaça e amendoim

A ordem dos ingredientes é do usado em maior quantidade pra menor quantidade, assim você tem uma noção das proporções mas as quantidades ficam ao gosto da freguesa. Vá colocando um pouco disso, outro tanto daquilo e provando pra saber se está do seu agrado. Confie no seu paladar.

Feijão macaça/fradinho cozido (reserve um pouco do líquido de cozimento)

Pasta de amendoim (pura, sem açúcar)

Coentro

Alho

Óleo (usei de babaçu, mas qualquer um serve)

Suco de limão

Sal e pimenta preta

Frite o alho picado/amassado em um pouco de óleo (fique de olho pra não queimar). Bata todos os ingredientes no liquidificador, acrescentando colheradas do caldo do feijão, até conseguir uma textura cremosa e densa. Se passou do ponto e ficou líquido demais, junte mais feijão e pasta de amendoim. Prove e corrija os temperos (mais limão? mais sal?), se necessário.

Creme de feijão macaça com jerimum e amendoim

Nessa receita usei uma sobra de jerimum (abóbora) cozinhada com leite de coco (caseiro) e ficou um espetáculo. Pra conseguir um resultado parecido, você pode simplesmente usar um pouco de leite de coco (caseiro) na receita. Mas na falta de leite de coco, basta bater os ingredientes com o caldo do feijão, como na receita acima. Usei a mesma quantidade de feijão e jerimum aqui e a pasta ficou bem suave e cremosa.

Feijão macaça/fradinho cozido (reserve um pouco do líquido de cozimento)

Jerimum/Abóbora, cozida no vapor (com ou sem casca)

Pasta de amendoim (pura, sem açúcar)

Leite de coco – OPCIONAL (receita aqui)

Alho

Suco de limão

Sal e pimenta preta

Frite o alho picado/amassado em um pouco de óleo (fique de olho pra não queimar). Bata o feijão, o jerimum, a pasta de amendoim, o alho frito, o suco de limão, o sal e a pimenta preta no liquidificador, acrescentando colheradas de leite de coco (caseiro) ou do caldo do feijão até tudo se transformar em um creme homogêneo. Prove e corrija o tempero, se necessário. Servi polvilhado com páprica doce defumada, pra ficar bonito ,e ficou ainda mais gostoso.

Creme fermentado de amendoim

A tarefa de descolonizar a alimentação se torna mais importante pra mim a cada dia que passa. Ao ponto de ser hoje um dos pilares principais da minha militância antiespecista e a minha maior inspiração na cozinha. Por isso que a receita de hoje é um verdadeiro tesouro! 

Lembra quando eu falei sobre nós sermos o povo do amendoim? Agora imagine se essa leguminosa (sim, é da família do feijão) pudesse se transformar em algo cremoso e nutritivo, barato e delicioso, pra usar em todos os lugares que você usaria um, digamos, requeijão? Se ao invés de usar um produto ultraprocessado (quase sempre), vindo da exploração e sofrimento animal (sempre) e que é uma das principais marcas da colonização dos nossos hábitos alimentares (as vacas foram levadas pro Brasil pelos invasores europeus durante a colonização) a gente acompanhasse nossas tapiocas matinais com um creme delicioso feito com o amado amendoim?

Fruta-pão cozida, quiabada, tapioca com creme fermentando de amendoim e café com leite de coco
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Molho de amendoim e gengibre

Eu tinha planejado publicar essa receita semana passada, mas a situação de violência colonial israelense na Palestina ocupada explodiu novamente e desde então falar de qualquer outra coisa se tornou absurdo. Quem me acompanha no Instagram viu que compartilho informações e artigos por lá diariamente, na maior parte do tempo traduzidos de outras línguas. É um trabalho intenso, mas a Palestina não deixou de estar no centro da minha militância quando eu saí de lá.

Então vamos fazer assim. Por hora, passem no meu Instagram pra acompanhar os acontecimentos na Palestina. E sigam as outras pessoas/coletivos/mídias de confiança que recomendo por lá. E aqui, focaremos na comida, pelo menos por enquanto.

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A minha tentativa de descolonização do chutney

As ameixas estavam se estragando no cesto das frutas. Anne comprou dois quilos (promoção de fim de feira) e elas já chegaram em casa maduras demais. Expliquei que nunca daríamos conta de comer tudo a tempo, mesmo assim comemos todas as que pudemos nos dois dias que seguiram. Tem essas regras de economia doméstica, como “comprar uma quantidade grande de uma fruta que já está madura demais e que não pode ser congelada não é economia, mesmo se for uma promoção, porque vai se estragar antes que você possa comer tudo”, que quem não cozinha com frequência geralmente ignora. Eu compro banana madura demais (ou frutas vermelhas) pra congelar e colocar nas vitaminas, mas ainda não me animei pra colocar ameixa fresca na minha vitamina. Isso foi na terça e hoje, sexta, um terço das ameixas que não tinham sido devoradas estavam apodrecendo e eu precisava agir.

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Cafés da manhã tropicais

Minha estada no Brasil, mistura de férias e trabalho, está chegando ao final. Ainda viajo mais um pouco por aqui, já que domingo que vem tem uma oficina-brunch-palestra em Fortaleza (mais informações aqui), mas pretendo passar os últimos dias antes de voltar pra Europa em casa, comendo toda a comida típica que passar pela minha frente. Continuar lendo “Cafés da manhã tropicais”

Retiro gastronômico na Serra Negra

Passei o último fim de semana na cozinha, ajudada por muitos pares de mãos e cercada por sorrisos. O retiro gastronômico na Serra Negra-PE, organizado pelo pessoal da SVB Recife, foi uma delícia em todos os sentidos. Um grupo de pessoas maravilhosas, reunidas em um lugar lindo pra degustar alguns dos meus pratos preferidos! Foram dois dias nos esbaldando com quitutes veganos e nos sentido vingados por todas as vezes que viajamos e não encontramos nada (NADA!) 100% vegetal pra colocar no prato. A experiência foi tão gostosa que fiquei até com vontade de abrir uma pousada vegana na serra, com direito a restaurante gourmet, e fazer muitos veganos felizes (começando por mim mesma). Aqui vão algumas fotos pra dividir com vocês um pouquinho da gostosura que foi o retiro. (Preparem-se pra salivar: rolou até fondue de queijo vegano.)

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Um jantar na Toscana

Faz menos de 24 horas que cheguei em Tel Aviv e estou escrevendo essas linhas da casa da minha amiga Johanna. Ontem tomei café da manhã em Paris. Antes de ontem no interior da França e dois dias antes disso eu estava na Itália. Passar de um país pra outro nessa velocidade me deixou tonta e meu cérebro ainda está processando as mudanças.

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A berinjela de dona Laura

Graças ao blog tive a honra de conhecer pessoas formidáveis. Uma delas foi Patrick (um doce de rapaz), que me ajudou a publicar essa entrevista na Revista Fórum. Ele chegou ao blog graças à esposa, Juliana (um doce de menina), que trabalhava com minha irmã caçula, que faz propaganda do blog pra todos que passam pela sua frente (obrigada, Lulu!). Na última vez que estive em Natal tive o imenso prazer de conhecer essa casal adorável e até improvisamos uma aula de gnocchi no apartamento deles. Nesse dia acabei conhecendo a mãe de Juliana, dona Laura, uma portuguesa que mora no Brasil há muitos anos. Naquela noite dona Laura preparou a melhor berinjela que já comi na vida! Eu tinha ido ensinar os meus amigos a fazer gnocchi e voltei pra casa com uma receita pra lá de especial.

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Antipasto tricolor

Estou escrevendo essas linhas diretamente de um pub na Bretanha, que muitos consideram como a região mais bonita da França. Vou ficar uns dias por aqui, respirando o ar marinho e comendo galettes de trigo sarraceno e algas marinhas, duas especialidades desse lugar. Como não tenho muito tempo pra escrever esse post, vamos direto ao ponto.

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Patê de cebola caramelizada

patê cebola

Apesar de estar muito sem tempo esses dias, faço questão de continuar comparecendo algumas vezes por semana aqui no blog. Então o post de hoje será curto, mas delicioso.

Faz tempo que procuro criar um patê de cebola que me agrade. Eu tenho uma receita de patê de cebola à base de tofu muito boa, mas queria ver se era possível substituir o tofu por um ingrediente mais fácil de encontrar (muitos leitores falaram da dificuldade de encontrar tofu nas suas cidades). Minha ideia era usar uma leguminosa, pois elas são nutritivas e proteinadas, baratas e abundantes. Tentei com feijão branco e não gostei do resultado. Tentei com grão de bico e também não gostei. Em um momento de loucura tentei com batata cozida e obtive um purê com sabor de cebola, mas nada de encontrar A receita de patê. Então acabei voltando pra versão com tofu.

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É bom variar

pasta de grão de bico e tomate seco
Pasta de grão de bico com tomate seco e alho assado

Muito obrigada pelas mensagens de solidariedade e apoio que vocês deixaram no meu último post. Como a ideia de viver de amor e hummus agradou algumas pessoas, acho que esse é um bom momento pra dividir com vocês uma variação da pasta mais amada no mundo (no meu mundo, pelo menos).

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A Palestina em versão comestível

pasta azeitona amêndoa

Meses atrás comprei um potinho de pasta de azeitona e amêndoa em uma mercearia perto de casa. Eu não compro praticamente nenhuma comida industrializada, com exceção de macarrão e chocolate, mas além de ser um produto natural (só tinha três ingredientes: azeitonas verdes, amêndoas e azeite) a pasta é produzida por uma pequena empresa palestina que só trabalha com ingredientes tradicionais, locais e orgânicos. A economia palestina pena pra existir sob ocupação, então acho importante incentivar esse tipo de projeto.  No fundo comprei pensando em fazer uma boa ação, mas chegando em casa descobri que a pasta era uma delícia. O conteúdo do potinho desapareceu em tempo recorde e como esse tipo de produto é muito caro pra entrar no meu orçamento semanal, tratei logo de fazer uma versão da pasta na minha cozinha.

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Menu de natal 4, parte 1

Como prometido, aqui vai a quarta sugestão de menu de natal vegano. Esse menu, todo inédito, vai chegar aos pouquinhos: hoje  publico uma entrada/aperitivo, amanhã o prato principal e quinta, a sobremesa.

Tapenade é uma pasta de azeitonas (tradicionalmente pretas, mas também existe tapenade de azeitonas verdes) típica do sul da França. A receita original leva anchovas, mas essa é minha versão veganizada. Se o gosto forte da azeitona preta não te agrada, fique longe dessa receita, mas se você joga no time de Olívia Palito essa pasta vai fazer sucesso. Eu adoro tapenade e desde que aprendi a fazer em casa é difícil ficar sem um potinho dela na geladeira. E além de deliciosa, essa pasta é muito versátil. Ela casa maravilhosamente bem com uma baguete fresquinha e crocante, mas pode ser usada como condimento e incrementar uma salada de macarrão (ela desempenha um papel semelhante ao pesto), uma torta salgada, uma pizza ou um sanduíche. Mas por ter um sabor potente, é melhor usar em pequenas quantidades. Você vai precisar de azeitonas de ótima qualidade, estilo grega (aquelas conservadas no azeite), mas os outros ingredientes são fáceis de encontrar e a preparação não podia ser mais simples (e rápida). Esforço mínimo, resultado máximo. Meu tipo preferido de receita.

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Quase

Pasta de feijão com tomate e coentro

Os apreciadores de feijão se dividem em dois grupos : os que gostam de feijão com caldo ralinho, feito no dia, e os que gostam de feijão do dia anterior, com o caldo mais espesso. Eu faço parte da segunda categoria. Já encontrei gente que só comia feijão se tivesse sido preparado no mesmo dia, mas eu sempre achei que feijão é uma dessas coisas que ficam ainda melhores com o tempo. Minha mãe faz o melhor feijão que já comi (e totalmente vegano!) e era sempre uma alegria pra mim achar uma panelinha de dois dias atrás dando sopa no fogão ou na geladeira. Eu gostava de comer frio, mesmo, degustando com um imenso prazer aquela iguaria de textura cremosa e sabor apurado. Infelizmente nunca consegui fazer um feijão tão bom quanto o da minha mãe, embora ela tenha me mostrado várias vezes sua técnica.

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Eu tenho bons motivos

Creme de feijão branco com alho e alecrim

Sei que falar de creme de feijão branco somente três dias depois de ter publicado uma salada de feijão vermelho pode parecer repetitivo (pelo menos eu vario as cores!), e que alguns vão sugerir que eu troque o nome do blog pra “papafeijão”, mas tenho bons motivos pra dividir a receita de hoje com vocês. Primeiro: esse creme consegue a proeza de misturar ingredientes absolutamente banais e transformá-los em algo muitíssimo saboroso. Segundo: no Brasil não usamos muito feijão branco, mas ele é uma delícia e deveria ser consumido com mais frequência. Esqueça essa bobagem fazer dieta com extrato de feijão branco. Aproveite o grão na forma natural que faz mais sentido e é muito mais gostoso. Terceiro: receitas de cremes, pastas e patês veganos nunca são demais. Assim, da próxima vez que perguntarem “Você não come queijo?!” você pode responder “E você come queijo?! No meu pão eu passo isso, isso, mais isso, mais isso…”

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Atendendo a pedidos

Patê de tofu com tomate seco e ervas

Em 2009 passei uma longa temporada em Natal e levei uma (recém adquirida) máquina de fazer leite de soja. Quem acompanha o blog há algum tempo sabe que não sou fã de leite de soja, mas acontece que adoro tofu e tinha sido informada que encontrar tofu decente em Natal é uma missão impossível. Tofu feito em casa é muito superior ao encontrado no mercado em matéria de sabor, mas sem uma prensa industrial a textura é bem mais mole do que a do tofu que eu tinha costume de comer. Então comecei a fazer patê com meu tofu caseiro mole e o sucesso foi imediato. Minha família e meus amigos adoraram e cheguei até a vender vários potinhos por semana. Meus clientes eram onívoros, mas muitos eram intolerantes à lactose e enfrentavam o mesmo problema que nós veganos enfrentamos: depois de ter tirado a manteiga, requeijão e queijo da dieta o que passar na nossa fatia de pão?

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Eu também não sei viver sem queijo

Queijo de castanha fermentado

Não é mistério que a pergunta que nós veganos mais escutamos dos onívoros é : “Mas você come o que?” Porém alguém sabe o que os veganos mais escutam dos vegetarianos? “Eu não conseguiria nunca viver sem queijo”. Essa frase também entra no top 5 das frases que mais escutamos dos onívoros, logo depois de “A gente precisa de carne pra viver”, “Você vai ficar doente” e “Isso é coisa de malucos irresponsáveis e você deve ter o juízo frouxo” (ok, a última geralmente é dita com os olhos enquanto a pessoa te examina da cabeça aos pés, balançando a cabeça da esquerda pra direita e dando longos suspiros de exasperação).

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Patê globalizado

Muhammara (patê de pimentão vermelho grelhado e nozes)

 Cumprir minhas promessas parece missão impossível nesse fim de ano. A receita de hoje, que eu deveria ter publicado ontem, é minha última descoberta em matéria de patê vegetal. Eu estou sempre procurando/criando novas receitas de patês por vários motivos. Primeiro porque é minha maneira preferida de usar oleaginosas (se você perdeu meu último post sobre essas maravilhas da natureza clique aqui) e a garantia de me fazer comer castanhas, amêndoas e nozes diariamente. Segundo porque é uma das preparções culinárias mais práticas e versáteis que conheço. Fica ótimo dentro de um sanduíche, serve de recheio pra maki vegetal e rolinhos primavera crus, pode se transformar em molho pra macarrão e funciona até como mistura* na hora do almoço, ao lado de algum cereal e salada.

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Inovações

Guacamole com maçã

Algumas semanas atrás falei do meu patê preferido. Na verdade eu tenho dois patês preferidos: mutabal e guacamole.

Eu nasci em uma cidade pobre em diversidade gastronômica. Tirando os restaurantes italianos (e dezenas de pizzarias), e alguns restaurantes chineses e japoneses, a Natal onde cresci só oferecia comida regional e muito, muito churrasco. Hoje a cidade conta com mais opções de comida estrangeira, incluindo um ótimo restaurante tailandês, mas quando, aos vinte anos, arrumei as malas e fui estudar na Europa, eu não tinha provado muita coisa além de tapioca, cuscuz e umas comidas pseudo-italianas que prefiro não comentar. A comida do nordeste, principalmente macaxeira, ainda tem um lugar especial no meu coração, mas confesso que depois de ter descoberto delícias de outras cozinhas senti um pouco por ter sido privada delas por tanto tempo. Comida mexicana, por exemplo. Como pude ter vivido tantos anos sem guacamole?

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Melhorando o que já era bom

Patê de falafel (cru)

Há algum tempo comecei um « restaurante ocasional ». Duas vezes por mês transformo minha casa em restaurante very privê, só pra amigos e amigos dos amigos. Sábado passado servi um menu completamente cru, da entrada à sobremesa. Os dias que antecedem a comilança são preenchidos com tensão, expectativa e muito trabalho. Sou naturalmente insegura e extremamente perfeccionista na cozinha, uma combinação nem um pouco feliz. Sempre fico com medo dos convidados não gostarem da comida. Às vezes esse medo, como aconteceu sábado passado, chega perto de “pavor”. A grande maioria dos meus clientes é onívora, mas são pessoas gastronomicamente abertas e curiosas, que gostam de descobrir novos sabores. Porém um menu completamente vegano e cru talvez fosse demais pra eles. Ledo engando! Estou descobrindo a culinária viva (crua) e apesar da minha pouca experiência nessa área o jantar foi um sucesso. Não tenho a intenção de me tornar crudívora mas como cozinheira gourmet que sou, estou sempre tentando expandir meus horizontes culinários, descobrir novos ingredientes e técnicas e nesse sentido a culinária viva é uma mina de inspiração.

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