Esses aqui me fizeram pular

Acho que já escrevi aqui no blog que tenho uma vizinha palestina-americana que faz stand up comedy e que passa por aqui de vez em quando pra fazer shows na região. Quando ela vem à Belém sempre me contrata como sua “personal chef”, o que significa que durante uma semana eu preparo todas as suas refeições. Além de poder colocar alguma coisa na carteira, é uma oportunidade pra preparar pratos ultra caprichados que eu nunca teria coragem de preparar no dia-a-dia.

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Quase

Pasta de feijão com tomate e coentro

Os apreciadores de feijão se dividem em dois grupos : os que gostam de feijão com caldo ralinho, feito no dia, e os que gostam de feijão do dia anterior, com o caldo mais espesso. Eu faço parte da segunda categoria. Já encontrei gente que só comia feijão se tivesse sido preparado no mesmo dia, mas eu sempre achei que feijão é uma dessas coisas que ficam ainda melhores com o tempo. Minha mãe faz o melhor feijão que já comi (e totalmente vegano!) e era sempre uma alegria pra mim achar uma panelinha de dois dias atrás dando sopa no fogão ou na geladeira. Eu gostava de comer frio, mesmo, degustando com um imenso prazer aquela iguaria de textura cremosa e sabor apurado. Infelizmente nunca consegui fazer um feijão tão bom quanto o da minha mãe, embora ela tenha me mostrado várias vezes sua técnica.

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Desastres e sucessos

Gazpacho

Felizmente, poucas receitas viraram desastre nas minhas mãos. Claro que não estou contando com minha tentativa de fazer patê com salsicha e cebola crua, afinal eu era criança, não sabia o que estava fazendo e achei o resultado ótimo. Estou me referindo às vezes em que tentei preparar algo e acabei com uma porcaria que só o lixo aceitou engolir. Acho que devo isso ao fato de ser uma cozinheira sensata. Tenho um certo conhecimento gastronômico, mesmo nunca tendo feito curso sobre o assunto, e uma boa dose de intuição culinária. Não colocaria, por exemplo, mangericão em um prato marroquino, nem curry em uma feijoada. Claro que às vezes preparo pratos que não merecem que eu repita a receita, mas é raro sair algo intragável da minha cozinha. Deve ser por isso que me lembro tão bem dos desastres. Meu primeiro gazpacho foi um deles.

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Antes das férias… saladas

Panzanella

Todo ano vejo o mesmo fenômeno se repetir: as quatro semanas que antecedem as férias são as mais ocupadas do ano inteiro. Parece que as atividades vão se acumulando lentamente e discretamente, pra não chamar minha atenção, durante os outros onze meses do ano e um mês antes das férias, bum!, elas explodem na minha cara. Acredito que isso aconteça com a maioria das pessoas, às vezes mais de uma vez por ano (eu também estava nesse estado antes do natal). Mas eu aguento caladinha porque no final tem uma super recompensa: férias. Só eu, minhas olheiras e meus músculos doloridos sabemos o quanto preciso de descanso. Sem contar que minha cabeça cheia precisa ser esvaziada, pelo menos parcialmente, do seu conteúdo pra deixar espaço pra idéias novas se instalarem.

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A arte de fazer risotto vegano

Risotto de alecrim e limão com tomates cereja assados

Ontem comecei um projeto novo e totalmente inusitado. Passamos o dia inteiro, eu e Anne, minha parceira na crime (e na vida), realizando essa idéia maluca. Não posso contar nada por enquanto, mas vem surpresa por aí.

Enquanto isso estou curtindo as últimas noites fresquinhas, antes do calorão contínuo do verão, com jantares à luz de velas no nosso pátio e risotto primaveril. Nunca tinha comido risotto na vida quando me deparei com a receita nas costas de uma caixinha de arroz. Achei interessante e quis experimentar. Degustei meu primeiro risotto em casa, preparado no meu fogãozinho elétrico que queimava o fundo de todas as panelas. Pra ser sincera achei que aquilo era uma versão sofisticada do arroz de leite que comemos na minha terra, mas como adoro arroz de leite achei risotto muito bom. Anos depois tive o prazer de provar um autêntico risotto italiano, preparado nas regras da arte, e percebi que minha versão caseira não passava de uma pálida (e grudenta) imitação. Mas eu tratei de aprender a fazer risotto de verdade e corrigi o problema.

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Como preparar tomate

Outro dia vi uma chef vegetariana de Nova York dizer “Qualquer um consegue preparar um hamburguer, mas deixem os legumes pros profissionais”. Já escrevi sobre o assunto aqui e como acredito que todos deveriam saber preparar vegetais de maneira a extrair o máximo de sabor de cada um deles, continuo a série de posts “Como preparar…”.

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O que fiz pra merecer isso?

Espaguete com molho de tomate, hortelã e raspas de limão

Há dias que sofro de um mal estranho e inédito pra mim: não tenho vontade de comer quase nada e toda a comida que preparo me deixa enjoada. Como é mais fácil Macabéa (minha vaca) perguntar ao meu pai o que andei fazendo esses anos todos enquanto ela pastava tranquilamente no interior do RN do que eu estar grávida, me pergunto o que está acontecendo comigo. Ficar enjoada com comida é bastante desagradável, mas pra uma cozinheira é uma verdadeira maldição. O que fiz pra merecer isso? Eu ajudei à atraversar a rua todos os velhinhos que cruzaram meu caminho. Não dei o dedo a ninguém, nem mandei ninguém tomar naquele lugar. Outro dia eu até comprei toda a mercadoria do senhorzinho que vende sálvia na calçada de uma loja do centro, só pra ele poder voltar pra casa e descansar (os dez ramos de sálvia apodreceram na minha cozinha antes que eu pudesse usá-los todos). Eu realmente não mereço esse castigo.

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Na cozinha

Sopa cremosa de tomate

Saudações da terra dos ocupados! Aqui em casa o nível de atividades nunca esteve tão intenso. Minha vizinha que mora nos States, e que vem aqui duas vezes por ano, me contratou pra fazer todas as suas refeições durante uma semana (café da manhã, almoço, jantar e uns lanchinhos). Ela já tinha contratado meus serviços ano passado e gostou tanto que quis repetir a experiência. Por isso desde sábado passo a maior parte dos meus dias cozinhando, além de continuar todas as minhas outras atividades (oficinas de nutrição pra crianças, aulas de francês, projeto social no campo de refugiados) no tempinho livre que sobra entre as refeições. De noite eu desmaio e Anne me carrega escada acima até a cama. Mas não vou reclamar, afinal não é todo mundo que tem o privilégio de ganhar dinheiro fazendo o que mais gosta.

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A sopa que me fez mudar de idéia

Minestrone vegano

Eu já declarei meu amor por sopa aqui no blog mas vou dizer mais uma vez: eu amo sopa. Poderia comer sopas todos os dias (ah, meus anos de universitária!) sem nunca reclamar. Especialemente no inverno. Pra mim nada reconforta e aquece mais que um prato de sopa fumegante. Quando meu estômago conversa comigo é isso que ele sempre pede e o fato de estar provisoriamente sem aquecedor está contribuindo pra aumentar ainda mais esse meu desejo. Há semanas que venho me alimentando desse prato abençoado e tenho tantas receitas de sopa que poderia criar um blog só sobre esse tema. Mas poderia ser pior. Conheço muitos estômagos que exigem bolo de chocolate, brigadeiro e pizza, então não vou reclamar porque o meu só pensa em algo extremamente nutritivo.

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Delicioso neologismo

Amassado de grão de bico com tomate

A semana foi cansativa, ô como foi cansativa! Gostaria de comemorar o início do fim de semana com makis veganos, um banho quentinho e um filme embaixo dos cobertores com a minha amada. Mas vejam só, faltam-me forças pra preparar um prato que exige mais de uma hora de trabalho ativo, não tem água quente pra encher a banheira e Anne está cheia de trabalho e não irá pra debaixo das cobertas antes da madrugada chegar. Então vou me contentar com os restos que achar na geladeira, ferver um pouco d’água e tomar banho de balde e deixar o filme pra outro dia. Mas antes de realizar esses planos ultra excitantes, vim publicar um prato fácil, rápido e delicioso, pois pensei que talvez vocês estivessem precisando.

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Gripada, mas sempre faminta

Ratatouille

Desde a semana passada convivo com uma gripezinha chata que vai e volta sem no entando me deixar de vez. É muito raro eu ficar doente, acredito que devo isso à minha dieta super natural, então não vou reclamar. Até porque a gripe que me acompanha atualmente, além de não ser das mais pesadas, tem uma característica muito estranha: abriu meu apetite. Parece que quando o tempo esfria nada consegue calar meu estômago. Passei a semana me sentindo febril, com dor de cabeça e nariz escorrendo, mas isso não me impediu de fazer sopa atrás de sopa (meu jantar preferido no inverno) e até assar uma dúzia desses bolinhos maravilhosos.

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Você merece lasanha

Minha lasanha preferida

Foi uma semana difícil. Daquelas em que nada dá certo e os problemas não param de se multiplicar. A nuvem negra foi tão pesada que atingiu até minha cozinha. Fiz um bolo de maçã que foi parar no lixo (apesar da minha consciência ter doído, como acontece sempre que desperdiço comida) e almocei paratha (um pão indiano) cru, pois a receita não deu certo e a massa não assou direito (depois do episódio do bolo, não tive coragem de estragar comida pela segunda vez na mesma semana). Torço pra que o culpado disso tudo seja o tal do inferno astral, já que meu aniversário está próximo. Mas sem querer esperar a mudança de idade pra ver o fim dessa onda de acontecimentos negativos, resolvi tomar meu destino em mãos e melhorar a situação imediatamente. Fazendo lasanha. Continuar lendo “Você merece lasanha”

Minha receita preferida de grão de bico

Grão de bico catalão

Faz alguns dias que estou em Natal visitando a família e, embora desde que cheguei ainda não tenha passado um só dia sem cozinhar (minha família gosta de explorar meus dotes culinários), nada do que fiz até agora merece aparecer aqui. Preparei panelas e mais panelas de feijão, arroz, couve, saladas e proteína de soja, mas quem não sabe preparar esses pratos? Tento aproveitar ao máximo a companhia dos meus parentes então o tempo anda curto pra criar receitas mais elaboradas. Porém sinto falta estar mais presente aqui. Felizmente achei nos meus arquivos a foto de um prato que há tempos queria dividir com vocês. Continuar lendo “Minha receita preferida de grão de bico”

Bruschetta

Quando você leva pra casa os tomates mais estupidamente vermelhos e suculentos que você já viu, e que ainda por cima eles são orgânicos, o que fazer com eles? Se por acaso acontecer de você também ter levado pra casa um pão rústico, denso na medida certa e com uma bela crosta a resposta é uma só: bruschetta. Essa entrada italiana, que pode igualmente ser servida como aperitivo, é provavelmente a receita mais simples do meu repertório, mas dependendo dos ingredientes usados ela pode atingir um surpreendente nível de gostosura. Sei que uma fatia de pão tostada, com um pouco de alho e azeite, generosamente coberta com tomates parece humilde demais pra ser gostoso, mas só quem já provou uma autêntica bruschetta sabe do que estou falando. Mais uma vez, o segredo é usar ingredientes frescos e de primeira qualidade.

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Sobre idéias e cevada

Risotto de cevada com tomate e abobrinha

Passo uma parte considerável do meu dia pensando em comida. Não em “comer comida”, mas sim em “preparar comida”. Certo, depois de preparar a comida ela acaba invariavelment no meu estômago, mas isso é uma consequência, não o objetivo. Fico pensando: “Se eu misturar isso com aquilo e salpicar um pouco daquilo outro…” E de repente surge uma idéia genial. Anoto então no meu caderno de “idéias comestíveis geniais”, pra não esquecer e poder preparar mais tarde. O engraçado é que às vezes, pesquisando nos blogs de cozinha ou lendo livros/revistas de culinária, me deparo com… a minha idéia genial. Alguém pensou nela antes de mim! Acho interessantíssimo isso de duas pessoas (ou mais) tão distantes fisicamente terem exatamente a mesma idéia. A receita de hoje é um exemplo disso. Mas deixemos de lado essa conversa metafísica e passemos ao que interessa aqui: comida.

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Descobrindo sabores autênticos

Pappa al pomodoro

Quando viajo sempre faço uma pesquisa detalhada pra saber quais são os pratos típicos do local. Antes mesmo de entrar no avião eu já sei exatamente o que quero comer durante a viagem. Minhas últimas férias, há exatamente um ano, foram na Toscana. Essa região da Itália é de tirar o fôlego, com campos de girassóis a perder de vista e uma luz belíssima que deixa tudo com cara de conto de fadas. Porém, mais do que qualquer outra coisa, eu estava interessada na comida que iria encontrar por lá.

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