O alecrim da outra é sempre mais verde

Começou de novo. Quando explico que estou em Beirute passando uma temporada de três meses as pessoas imediatamente me perguntam: “Onde você mora?”. Respondo: “Em Beirute” e termino a frase na minha cabeça com “…ora pois!” Mas elas nunca ficam satisfeitas, pois esperam uma resposta definitiva. O que eu não tenho. Continuar lendo “O alecrim da outra é sempre mais verde”

Creme trufado de chocolate

Muitas luas atrás eu postei a receita da sobremesa que mudou a minha vida. Até hoje é a receita que mais recebe visitas  aqui no blog (junto com meu omelete vegano). Eu ainda acho meu creme voluptuoso de chocolate e laranja uma sobremesa absolutamente perfeita, que mora no top 3 das minhas sobremesas preferidas. Sempre que tenho todos os ingredientes à disposição não perco a oportunidade de fazê-la. Mas esse é exatamente o único problema da minha sobremesa perfeita: ter os ingredientes à  disposição. Eu criei esse creme quando morava na Palestina, onde tâmaras do tipo medjool, tão macias que se desfazem sob a menor pressão dos seus dedos, abundam. Onde é produzido um dos melhores tahines do mundo e onde amêndoas deliciosas são vendidas na feira.

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Trufas de chocolate (e não, eu não me ofendo)

Semana passada uma leitora deixou o seguinte comentário aqui no blog: “Receitas ótimas, mas pra quem tem pressa e pouco tempo, a leitura extensa não ajuda! Algo mais pratico seria muito melhor!! No meu caso, com bebê, fica difícil ler quase uma página inteira pra pegar uma receita que deveria ser simples e acessível. Dica: Coloque a receita de uma vez e os comentários, o modo de fazer, os testes, etc, etc, à parte.”

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Cada vez melhor

A vida está cada vez melhor por essas bandas. Faz dois meses e meio que me mudei pra Londres e só agora comecei a sentir a poeira da mudança baixar e ver uma certa rotina surgir. Já não aguentava mais carregar minha mala pelos metrôs londrinos. Felizmente acabei sendo acolhida por um grande amigo inglês da minha avó francesa (essa avó eu adotei quando era estudante universitária em Paris), que conheci 8 anos atrás, quando me ofereci pra traduzir pro Francês o livro que ele estava escrevendo. Andrew era pastor da igreja protestante e há décadas escreve um livro, em quadrinhos, pra explicar o que na opinião dele é a verdadeira mensagem de Jesus. Pra ele Jesus queria fazer uma revolução de classes e não estava nem um pouco interessado em religião. Adorei o projeto e aceitei traduzir parte dele. Quando me mudei pra Palestina abandonei a tradução por falta de tempo e hoje é a minha avó que cuida da versão francesa da obra de Andrew, que tem vários volumes.

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10 coisas muito boas que descobri na Itália

Uma das melhores partes de viajar é, pra mim, descobrir novos ingredientes e ver o que os nativos gostam de fazer com eles. Nem sempre os pratos tradicionais que descubro nas minhas andanças pelo mundo são 100% vegetais, mas eles podem me inspirar de várias maneiras. Porém em alguns lugares os nativos têm uma admirável intimidade com vegetais e fazem as coisas mais surpreendentes e deliciosas com eles. É o caso da Toscana. Na última vez que estive por lá, em outubro, descobri algumas coisas muito boas. Ingredientes, receitas tradicionais e uma tradição gastronômica que eu imagino que deve se repetir em muitos lugares do mundo, mas que eu descobri, e pude participar pela primeira vez, durante essa viagem.

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Quando a saudade aperta

No último post eu disse que apesar de não ter planejado, acabei virando a rainha do makluba (veg). Meu relacionamento com ele começou em 2007, quando cheguei na Palestina. Descobri que era o prato nacional por ali e sempre que era convidada pra comer na casa de alguém, lá estava ele na mesa. Depois fui trabalhar no projeto de mulheres no campo de refugiados de Aida e aprendi, junto com os estrangeiros que participavam das aulas de culinária, a preparar o famoso prato. A versão tradicional é feita com frango, mas como muitos dos nossos ‘alunos’ eram vegetarianos/veganos, consegui convencer Islam (a coordenadora palestina do projeto e nossa cozinheira-mor) a preparar também uma versão 100% vegetal durante as aulas.

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O caldo vegano que cura resfriado

Eu tenho um sério problema com missô. Tudo começou de maneira inofensiva. Comprei um potinho dessa pasta de soja fermentada, um ingrediente tradicional da culinária japonesa, pra fermentar o meu queijo de castanhas. Depois comecei a usar em vinagretes e outros molhos pra salada. Depois comecei a usar na sopa, no lugar do caldo de legumes. Depois comecei a fazer uma sopa de missô com soba e couve que se tornou minha obsessão nos últimos meses, ao ponto de ter me surpreendido degustando a danada no café da manhã (quem precisa de papa de aveia quando se pode tomar sopa de missô às 7 da manhã?). Antes um pote de missô durava meses na minha geladeira. Hoje devoro um pote de 300g por semana.

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Salada agridoce de lentilha, repolho e maçã

A dica do Guia Papacapim de alimentação saudável desse mês é “Faça do feijão uma presença obrigatória no seu cardápio diário”, por isso decidi postar mais receitas que incluam leguminosas por aqui durante as próximas semanas. Não que o blog não esteja recheado de receitas com feijões, grão de bico e lentilha, basta espiar a página ‘Receitas’ pra se dar conta disso, mas acho essa categoria de alimentos tão essencial que estou sempre procurando maneiras criativas de prepara-los pra que eles apareçam ainda mais na minha mesa.

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Ensopado marinho 2

Expliquei uns tempos atrás que minha receita de massa com couve-flor assada e molho de nozes é o que sirvo sempre que tem convidados onívoros em casa, pois ela nunca decepciona. Mas no meu repertório de receitas ‘onívoro-friendly’ tem uma ainda mais simples, mas que sempre agrada: meu ensopado marinho. Essa foi uma das primeiras receitas que publiquei no blog e até hoje o pessoal me escreve dizendo o quanto gostou desse prato. Embora minha massa seja mais sofisticada, o ensopado marinho é com certeza o meu maior sucesso com a família brasileira. O ingrediente principal é o humilde repolho, mas o resultado final é tão saboroso que ninguém adivinha que aqueles pedacinhos de coisa gostosa são na verdade esse legume singelo.

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É bom variar

pasta de grão de bico e tomate seco
Pasta de grão de bico com tomate seco e alho assado

Muito obrigada pelas mensagens de solidariedade e apoio que vocês deixaram no meu último post. Como a ideia de viver de amor e hummus agradou algumas pessoas, acho que esse é um bom momento pra dividir com vocês uma variação da pasta mais amada no mundo (no meu mundo, pelo menos).

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17 pratos em 3 dias

Bolo salgado Assado de lentilha (clique na foto pra ver melhor).

Foi isso que fiz essa semana. Eu já falei em algum post que tenho uma vizinha américo-palestina que visita o país duas vezes por ano pra fazer shows (ela faz “stand-up comedy”) e que sempre me contrata pra preparar todas as suas refeições durante a estada. Ela está aqui no momento, mas dessa vez está hospedada em Ramalla (cidade no norte da Cisjordânia) por isso tive que preparar todas as suas refeições de uma vez. Coloquei a comida em marmitas de alumínio e ela congelou tudo pra ir comendo aos poucos. Maysoon adora os pratos que invento e a coisa que mais gosto na minha profissão, se é que posso me considerar uma profissional da cozinha, é encher a barriga das pessoas de alegria, mas que trabalheira danada! Ainda não consegui dar cabo da louça suja e mesmo depois de uma boa noite de sono e três canecas de café me sinto completamente esgotada. Além do trabalho intenso e das intermináveis horas em pé, a maratona culinária contou com a participação de dois blocos de tofu podres que empestaram a casa durante dias, uma batata malcheirosa supurante que se escondeu embaixo da cesta de frutas e me vez achar que tinha um rato morto na cozinha, até eu descobrir a origem do bodum, gatos pulando na pia em busca de comida e derrubando minhas preparações no chão, algumas micro varizes e muito mau humor. Sobrevivi, mas não aconselho ninguém a aceitar uma missão dessas.

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Intenso, cremoso, delicioso…e saudável!?

Gelato de chocolate

Aqui no blog eu prefiro publicar receitas simples, que usam ingredientes facilmente encontrados, por isso hesitei bastante antes de dividir a receita de hoje.  Mas esse gelato criado acidentalmente é tão gostoso que seria um crime guardá-lo só pra mim.

Uma noite eu queria uma sobremesa gelada. Decidi pegar meu liquidificador e ir misturando um pouco disso, um pouco daquilo… Coloquei tudo no congelador e esperei a mistura congelar parcialmente. Eu tinha feito uma porção bem pequena e meia hora depois minha sobremesa estava pronta. Provei e pensei: “Tem potencial”. Então fui adaptando a receita, juntando outros ingredientes e, três tentativas depois (tenho que agradecer minhas cobaias pelas dicas), nasceu um gelato de chocolate vegano que deixaria minha nona italiana orgulhosa, caso eu tivesse uma. A textura é perfeita: densa e ultra cremosa, como todo bom gelato. O curioso é que embora tenha uma quantidade significativa de banana, o que predomina é um sabor de chocolate ao leite, que lembra um certo picolé famoso que eu adorava quando criança (ainda existe “chica bon”?).

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Minha rispidez, um bolo e uma entrevista

Bolo de coco e cenoura

Minha irmã caçula me deu uma bronca por causa do post sobre o pavê de banana. Ela disse que eu fui muito ríspida com meus leitores. Desde então me sinto culpada. Essa irmã tem o dom de me fazer sentir culpada, mas na maior parte do tempo isso é uma coisa boa. Ela me faz refletir sobre meus atos e palavras, o que me ajuda a evoluir e a me tornar uma pessoa melhor. O problema é que ela também é… ríspida. Parece que a rispidez é algo que todos nós herdamos na  família.

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O que faz um bom chocolate

Tenho uma relação estranha com chocolate. Eu não gosto de comê-lo puro mas gosto de preparações com chocolate. Chocolate quente, por exemplo. Eu provei vários chocolates quentes na minha vida. A maioria não passava de leite com achocolatado totalmente sem graça. Na Espanha o chocolate quente é  bem espesso (tomado tradicionalmente com churros) e tem quase uma conscistência de pudim. Continuar lendo “O que faz um bom chocolate”