Às vezes dá muito certo

Salada de macarrão e grão de bico com abobrinha, tomate e rúcula

Fiz uma longa lista com tudo que tenho que fazer antes de viajar, mas parece que minha cabeça entrou de férias antes do meu corpo! Ando me arrastando pela casa, com vontade de fazer siestas, tomar longos cafés da manhã admirando a folhagem e ler revistas de culinária no sofá. E, o mais importante, não trabalhar, não limpar a casa e não responder emails. O único ítem que consigui respeitar da lista (até então) é “esvaziar a geladeira e o congelador”.

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Depois do vídeo, a receita

Gnocchi com tomate cereja e molho de manjericão e amêndoas

Muito obrigada a todos que deixaram comentários no post anterior dizendo que tinham apreciado o vídeo. O entusiasmo de vocês me comoveu muito. Ainda não posso garantir nada, mas acho que outros vídeos virão.

Como prometido, aqui vai a receita dos gnocchi em versão escrita. Quando filmei a receita estava nervosa e acabei falando bobagem. Aproveito então pra fazer as devidas correções. Por favor, amassem as batatas quentes. De tanto refilmar a cena onde amasso as danadas das batatas (por alguma razão misteriosa, meu cérebro empacou e eu não sabia mais como falar a palavra “batata”), elas esfriaram e acho que isso acabou me confundindo. Amassem a polpa da batata quando ela ainda estiver bem quente, depois esperem esfriar completamente antes de juntar a farinha. Minha adorável irmã mais velha me mandou um email dizendo “Adorei o vídeo mas acho que seus gnocchi ficaram salgados”. Ela tinha razão: enchi demais as colherinhas de sal. Já tentaram cozinhar na frente de uma câmera? É estressante, amigos! O gnocco (singular de gnocchi) sozinho ficou salgadinho, mas misturado com o tomate cereja, que estava super doce, e o molho ficou perfeito. Mas cada um salgue a massa de acordo com suas preferências (pro meu grande espanto Anne quis colocar mais sal no seu prato, mas eu não deixei). Minha irmã também disse: “Você meteu o dedo dentro do molho duas vezes e lambeu. Quando virar Ofélia acho bom não fazer isso” , mas minha irmã nem sempre tem razão.

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A arte de fazer risotto vegano

Risotto de alecrim e limão com tomates cereja assados

Ontem comecei um projeto novo e totalmente inusitado. Passamos o dia inteiro, eu e Anne, minha parceira na crime (e na vida), realizando essa idéia maluca. Não posso contar nada por enquanto, mas vem surpresa por aí.

Enquanto isso estou curtindo as últimas noites fresquinhas, antes do calorão contínuo do verão, com jantares à luz de velas no nosso pátio e risotto primaveril. Nunca tinha comido risotto na vida quando me deparei com a receita nas costas de uma caixinha de arroz. Achei interessante e quis experimentar. Degustei meu primeiro risotto em casa, preparado no meu fogãozinho elétrico que queimava o fundo de todas as panelas. Pra ser sincera achei que aquilo era uma versão sofisticada do arroz de leite que comemos na minha terra, mas como adoro arroz de leite achei risotto muito bom. Anos depois tive o prazer de provar um autêntico risotto italiano, preparado nas regras da arte, e percebi que minha versão caseira não passava de uma pálida (e grudenta) imitação. Mas eu tratei de aprender a fazer risotto de verdade e corrigi o problema.

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A verdadeira educação e mais burguers veganos

Burguer de trigo e semente de girassol

Mais um ano na Terra Santa! Agradeço às pessoas que mandaram energia positiva pro meu visto sair. Esse tipo de ajuda espontânea, de gente que não te conhece, sempre me deixa maravilhada. No meio de tanta desgraça causada pelos seres humanos, são esses pequenos gestos que me fazem ter esperança.

Alguns anos atrás descobri CouchSurfing e quase caí da cadeira. Eu sempre pensei que seria ótimo ter amigos nos quatro cantos do mundo e nunca mais pagar hotel durante as viagens e alguém tinha pensado exatamente na mesma coisa. Com Couchsurfing você encontra pessoas que queiram te hospedar no mundo inteiro e hospeda pessoas do mundo  inteiro. De certa forma é o resgate da antiga tradição de dar um teto e um prato de comida aos forasteiros que chegavam nos vilarejos. Eu acho esse projeto o máximo e encontrei europeus que viajaram o mundo inteiro sem pagar uma só noite de hotel, usando unicamente Couchsurfing. Mas pra muitas pessoas a idéia de hospedar um estranho, ou ficar hospedada na casa de um estranho, é algo perigoso e totalmente irresponsável. Sinto muito pelas pessoas que encaram o mundo (e as outras pessoas) dessa maneira, sempre esperando o pior, acreditando que ninguém é digno de confiança até que se prove o contrário. Triste.

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O que fiz pra merecer isso?

Espaguete com molho de tomate, hortelã e raspas de limão

Há dias que sofro de um mal estranho e inédito pra mim: não tenho vontade de comer quase nada e toda a comida que preparo me deixa enjoada. Como é mais fácil Macabéa (minha vaca) perguntar ao meu pai o que andei fazendo esses anos todos enquanto ela pastava tranquilamente no interior do RN do que eu estar grávida, me pergunto o que está acontecendo comigo. Ficar enjoada com comida é bastante desagradável, mas pra uma cozinheira é uma verdadeira maldição. O que fiz pra merecer isso? Eu ajudei à atraversar a rua todos os velhinhos que cruzaram meu caminho. Não dei o dedo a ninguém, nem mandei ninguém tomar naquele lugar. Outro dia eu até comprei toda a mercadoria do senhorzinho que vende sálvia na calçada de uma loja do centro, só pra ele poder voltar pra casa e descansar (os dez ramos de sálvia apodreceram na minha cozinha antes que eu pudesse usá-los todos). Eu realmente não mereço esse castigo.

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Makis veganos… e crus

Maki com legumes crus, pasta de gengibre e algas marinhas

Alguns meses atrás falei sobre minha paixão por comida japonesa e publiquei minha receita preferida de makis. Se aquela versão já não era lá muito tradicional, a receita de hoje é ainda menos. Eu  contemplei a idéia de fazer makis crus durante muito tempo antes de me aventurar a prepará-los. Eu gosto tanto dos meus makis que experimentar outra versão, ainda mais ousada assim, me parecia sem sentido. Meus makis já eram perfeitos (pro meu gosto), então porque fazer algo diferente? Ainda bem que minha cabeça dura acabou amolecendo e hoje não entendo porque levei tanto tempo pra experimentar essa delícia.

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As lições de um jantar entre amigos

Quiche de cogumelo, limão e sálvia

Semana passada tivemos o imenso prazer de receber a visita de um dos nossos maiores amigos (aquele que não sabia preparar quinoa). Eu conheci Fred aqui em Belém, onde ele morou, e trabalhou como professor de Francês, durante dois anos. Faz um ano e meio que ele voltou pra França mas ele nos visitou três vezes nesse ínterim. Na véspera da sua partida organizei um pequeno jantar de despedida aqui em casa e convidei os amigos em comum. Graças ao meu “restaurante ocasional”, que abre as portas durante o verão, ganhei uma certa prática em preparar comida pra muita gente. O que ainda não aprendi foi a controlar a ansiedade e a ser menos perfeccionista.

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Como preparar quinoa/quinua

Quinoa: vermelha e amarela

Tem um grande amigo meu de passagem na cidade e antes de sair do seu habitat (as florestas do norte da França) pro meu (os confins do Oriente Médio), ele teve a gentileza de me perguntar se eu queria que ele trouxesse algo pra mim, algo que eu não encontro aqui. Adoro quando me fazem essa pergunta e tratei logo de preparar uma lista, o que obrigou meu amigo a fazer sua primeira visita à uma loja de produtos orgânicos. Ele chegou aqui dizendo que descobriu um mundo novo, exatamente como aconteceu comigo alguns anos atrás. Só tem um problema: ele não sabe como preparar nada desse mundo novo. Depois dessa conversa tive uma ideia: incluir outros produtos, além de vegetais, na série “Como preparar…”.

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Sobre quiche e competição

Quiche vegana de abobrinha, pimentão vermelho e tomate seco

Hoje quero dividir com vocês uma das minhas receitas preferidas, mas antes de começar a falar dessa jóia da gastronomia francesa preciso dizer uma coisa importante (pra mim): “quiche” é fêmea. Pronto, me sinto bem melhor agora. Não sei qual o gênero que atribuem a esse prato no resto do país, mas na minha terra todos os lugares que servem quiche chamam a coitada de “o quiche”. Sei que a confusão de gêneros não atrapalha em nada o sabor da quiche, mas às vezes sou chata assim e me importo com esse tipo de bobagem. Pra ninguém achar que sou esnobe só porque o Francês é minha segunda língua, saibam que também corrijo os franceses, que insistem em dizer “a samba” (eles acham que tudo que termina com “a” em Português é feminino).

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Makis pra iniciantes

Makis veganos

Antes de me tornar vegana eu tinha uma paixão: comida japonesa. Mais especificamente makis. Durante anos, toda sexta feira à noite eu pedia makis por telefone. Era a maneira mais deliciosa de celebrar o final da semana. Quando decidi fazer como Franz Kafka e parar de comer peixe (Vocês sabiam que o grande escritor tcheco era vegetariano? Um dia, ao contemplar um aquário, ele disse “Agora posso observar vocês em paz: eu não os como mais.”) eu achei que minha história de amor com a culinária japonesa tinha chegado definitivamente ao fim. Felizmente eu estava enganada.

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Sabor e saúde no mesmo prato

Salada de trigo, grão de bico e legumes verdes com molho de tahine

Os almoços aqui em casa são sempre bem mais simples que os jantares. Não tenho muito tempo pra preparar algo especial durante a semana então geralmente como os restos do jantar do dia anterior ou improviso com o que encontrar na geladeira. Nessas horas tudo que quero é uma refeição nutritiva, equilibrada, fácil e rápida de preparar. Os resultados são pratos simples, rústicos mas que, embora me satisfaçam perfeitamente, eu não pensaria em servir pra convidados. Mas aqui e acolá, entre esse improviso apressado e os restos da geladeira, nasce algo que vale a pena ser repetido no jantar do fim de semana.

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Está faltando alguma coisa no seu prato?

Burguer de lentilha e beringela

Esse fim de semana hospedamos uma amiga australiana aqui em casa. Eu não conheço muitos australianos, mas parece que o churrasco é uma parte essencial da vida deles. Essa amiga se comportou como uma boa australiana adoradora de churrasco durante os últimos 61 anos, mas mês passado ela recebeu uma notícia que a fez refletir sobre suas escolhas alimentares. Seu médico avisou que com a taxa de colesterol e pressão altíssimas, casos de infarto na família e muitos quilos em excesso, ela se encontrava em uma situação de alto risco. O alarme na cabeça dela disparou e dias depois ela chegou aqui em casa dizendo que queria ser vegana por três meses pra baixar suas taxas e recuperar a saúde perdida. Quando eu disse que Bill Clinton também estava seguindo um regime quase exclusivamente vegano (ele come peixe de vez em quando) pelos mesmos motivos, ela se empolgou ainda mais. Se Bill conseguiu, ela também ia conseguir! Antes de ir embora ela me pediu dicas sobre alimentação vegetal, nutrição e até pegou emprestado um dos meus livros de receitas veganas.

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Delicioso neologismo

Amassado de grão de bico com tomate

A semana foi cansativa, ô como foi cansativa! Gostaria de comemorar o início do fim de semana com makis veganos, um banho quentinho e um filme embaixo dos cobertores com a minha amada. Mas vejam só, faltam-me forças pra preparar um prato que exige mais de uma hora de trabalho ativo, não tem água quente pra encher a banheira e Anne está cheia de trabalho e não irá pra debaixo das cobertas antes da madrugada chegar. Então vou me contentar com os restos que achar na geladeira, ferver um pouco d’água e tomar banho de balde e deixar o filme pra outro dia. Mas antes de realizar esses planos ultra excitantes, vim publicar um prato fácil, rápido e delicioso, pois pensei que talvez vocês estivessem precisando.

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Nutrição x Macarrão

Salada de macarrão com brócolis e pesto

(Você sabia que ao clicar em qualquer foto do blog ela fica do tamanho da tela? Não?! Estranhamente algumas fotos que publico aqui ficam ligeiramente “borradas”, como essa de cima. Experimente ver a foto em tamanho gigante e admire todo o esplendor verdoroso dessa salada.)

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Queda de temperatura e aumento de apetite

Gratin Dauphinois Vegano (batata gratinada com creme)

O clima aqui na Palestina começou (enfim!) a esfriar. Os dias estão mais curtos, o sol se põe as 16h30 e a falta de luz me faz querer passar o dia inteiro de pijama, tomando chá e…comendo. O outono é a minha estação preferida e a que mais abre o meu apetite. Enquanto no verão eu sou capaz de passar semanas me alimentando unicamente de saladas, no outono eu só penso em comida que faz peso no estômago, como batata, aveia, pão e muita, muita sopa.

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Você merece lasanha

Minha lasanha preferida

Foi uma semana difícil. Daquelas em que nada dá certo e os problemas não param de se multiplicar. A nuvem negra foi tão pesada que atingiu até minha cozinha. Fiz um bolo de maçã que foi parar no lixo (apesar da minha consciência ter doído, como acontece sempre que desperdiço comida) e almocei paratha (um pão indiano) cru, pois a receita não deu certo e a massa não assou direito (depois do episódio do bolo, não tive coragem de estragar comida pela segunda vez na mesma semana). Torço pra que o culpado disso tudo seja o tal do inferno astral, já que meu aniversário está próximo. Mas sem querer esperar a mudança de idade pra ver o fim dessa onda de acontecimentos negativos, resolvi tomar meu destino em mãos e melhorar a situação imediatamente. Fazendo lasanha. Continuar lendo “Você merece lasanha”

Minha receita preferida de grão de bico

Grão de bico catalão

Faz alguns dias que estou em Natal visitando a família e, embora desde que cheguei ainda não tenha passado um só dia sem cozinhar (minha família gosta de explorar meus dotes culinários), nada do que fiz até agora merece aparecer aqui. Preparei panelas e mais panelas de feijão, arroz, couve, saladas e proteína de soja, mas quem não sabe preparar esses pratos? Tento aproveitar ao máximo a companhia dos meus parentes então o tempo anda curto pra criar receitas mais elaboradas. Porém sinto falta estar mais presente aqui. Felizmente achei nos meus arquivos a foto de um prato que há tempos queria dividir com vocês. Continuar lendo “Minha receita preferida de grão de bico”

Sobre idéias e cevada

Risotto de cevada com tomate e abobrinha

Passo uma parte considerável do meu dia pensando em comida. Não em “comer comida”, mas sim em “preparar comida”. Certo, depois de preparar a comida ela acaba invariavelment no meu estômago, mas isso é uma consequência, não o objetivo. Fico pensando: “Se eu misturar isso com aquilo e salpicar um pouco daquilo outro…” E de repente surge uma idéia genial. Anoto então no meu caderno de “idéias comestíveis geniais”, pra não esquecer e poder preparar mais tarde. O engraçado é que às vezes, pesquisando nos blogs de cozinha ou lendo livros/revistas de culinária, me deparo com… a minha idéia genial. Alguém pensou nela antes de mim! Acho interessantíssimo isso de duas pessoas (ou mais) tão distantes fisicamente terem exatamente a mesma idéia. A receita de hoje é um exemplo disso. Mas deixemos de lado essa conversa metafísica e passemos ao que interessa aqui: comida.

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Tofu: seu futuro melhor amigo

Tofu mexido

Um dos alimentos mais injustiçados que conheço é o pobre do tofu. Serei honesta: tofu puro, na melhor das hipóteses, tem gosto de absolutamente nada e na pior, tem um gostinho meio estranho (tudo vai depender da qualidade e frescor do tofu). A primeira vez que comi tofu foi em casa, há muitos anos atrás. Aquele bloco de massa branca passou do supermercado pra frigideira pro meu prato com o acréscimo somente de azeite e sal. No final da preparação o gosto tinha passado de “isopor” pra “isopor com sal”. Continuar lendo “Tofu: seu futuro melhor amigo”