Comidas amazônidas – Acre

Ano passado, durante os meses de outubro e novembro, estive na Amazônia fazendo um projeto multimídia com Anne, a talentosa fotógrafa que eu tenho a honra de chamar de esposa. São muitas camadas de material coletado (entrevistas, sons, fotos, vídeos, anotações) e de experiências, que vai decantando conforme os meses passam e vamos publicando aos pouquinhos (por enquanto em jornais e revistas aqui na Europa). Aqui no blog gostaria de tratar de uma parte da viagem que tem tudo a ver com a minha pesquisa pessoal sobre cultura alimentar, que ainda é o tema principal do Papacapim. Como o assunto é vasto, vou publicar por partes.

Comecemos pela castanha, a rainha absoluta da floresta. Tanto pela majestosa castanheira, uma árvore que pode atingir 50 metros de altura (um prédio de 16 andares) e viver 5 séculos, quanto pela riqueza da castanha em si. Estou falando aqui da fonte de renda de vários povos da floresta e da sua presença na culinária tradicional do Acre.

Momento polêmico: como chamar o que ficou conhecido fora da Amazônia como “castanha do Pará”? Só quando cheguei no Acre e me vi rodeada de castanheiras me dei conta que essa castanha é encontrada na Amazônia, não apenas no Pará. É mais lógico, e mais justo, chamar de “castanha-da-Amazônia”. Me oponho à “castanha-do-Brasil”, porque Amazônia vai muito além do território conhecido como Brasil. Correndo o risco de ofender minhas amigas paraenses, não só passei a chamar de “castanha-da-Amazônia”, como te incentivo a fazer o mesmo. (A menos que eu esteja no Pará, aí volta a ser “castanha-do-Pará” pra mim.) E se você se pergunta como o pessoal do Acre chama, chamam apenas de “castanha”. Faz sentido, pois aquele é o território dessa castanha. No RN, terra de cajueiros, nós também chamamos o que é conhecido fora do Nordeste como “castanha de caju” simplesmente de “castanha”.

Eu tive a honra de entrevistar o seringueiro Severino Silva, um dos anciãos da Reserva Chico Mendes, e ele me disse: “O leite de castanha era o tempero do seringueiro.” Seu Severino contou que era costume usar o leite de castanha pra preparar tudo, do feijão aos animais de caça, passando por vegetais (o jerimum com leite de castanha é particularmente apreciado). Saiba que a primeira vaca chegou no Acre em 1971, até então não existia pecuária no estado. Consequentemente, não existia leite de vaca naquele território. Além de preparar tudo com leite de castanha (segundo seu Severino, “a única coisa que não presta fazer com leite de castanha é galinha”), também se extraía o óleo da castanha pra cozinhar, embora, por ser mais trabalhoso, o mais comum era usar o leite, deixar apurar bem e isso servia como a fonte de gordura do prato preparado. Tive a sorte de encontrar óleo de castanha em Rio Branco e achei o sabor deliciosamente delicado. Uma maravilha pra temperar saladas (não usaria algo tão precioso pra cozinhar).

E o sabor da castanha fresca? Só depois de ter visitado a Amazônia descobri que castanha-da-Amazônia, quando fresca, tem uma textura leitosa similar ao coco maduro (aquele que usamos pra fazer leite). Confesso que desde então penso nelas quando mordo uma castanha desidratada. Sim, porque as castanhas que compramos e consumimos Brasil e mundo afora foram desidratadas antes de serem embaladas e comercializadas. Mas essa iguaria vai continuar reservada aos povos da floresta, ou quem decidiu morar por lá pois quando fresca, ela se estraga muito rápido.

Sabe o que também é originário da Amazônia? O cacau. (Como ele subiu até o México e se tornou moeda de troca e bebida popular entre os Astecas, eu ainda não pesquisei.) E quando estive no Reserva Extrativista Chico Mendes, descobri o “cacauí” (Theobroma speciosum), um parente do cacau e do cupuaçu. Ele é menor do que o cacau e o sabor, embora um pouco mais ácido e mais floral, é bem próximo do cacau. Pelo menos foi o que minhas papilas me disseram enquanto eu enchia a barriga de cacauí, mas eu teria que fazer uma comparação lado a lado pra confirmar essas impressões. As pessoas não dão muita bola pro pobre cacauí, que cresce de maneira selvagem na floresta, mas eu fiquei absolutamente encantada pensando nas sobremesas incríveis e nos chocolates que poderiam ser feitos com ele. Meu novo sonho é voltar pra Resex e trabalhar as potencializadas gastronômicas da floresta ali, junto com a população local.

Eu viajo com os olhos, ouvidos e papilas abertas e vou provando tudo que é comestível ao meu redor (animais são parentes, não comida). Fernando, que trabalha na Resex e aceitou que a gente o acompanhasse durante quatro dias lá dentro, vendo que eu queria provar tudo, fazia questão de compartilhar comigo os tesouros da floresta. Frutas (foi ele que me deu o primeiro cacauí) e coisas que eu nem imaginava que poderiam ser comestíveis! Desconfio até que ele me fez comer umas coisas só pra tirar onda com a minha cara, como as sementes de sumaúma (foto abaixo à direita). Mas eu adoro essas aventuras, então achei tudo maravilhoso.

Um dia ele me deu um fruto do jatobá (foto abaixo à esquerda) e disse que tinha comido muito aquilo quando era criança. Sim, jatobá, aquela árvore grande! Uma pena eu não ter feito uma foto pra mostrar como é por dentro. Fiquei surpresa com a textura (como um pó compactado e levemente úmido) e o sabor (muito doce e levemente enjoativo) e imediatamente pensei…nas possibilidades gastronômicas daquele fruto. Pra ajudar a entender a peculiaridade do jatobá, deixa eu dizer que se assemelha (sem ser idêntico, longe disso) a um leite em pó doce. Pensei: pudim de jatobá, sorvete de jatobá, doce de leite de jatobá…

Outra coisa que eu descobri no Acre, mas que existe em outras partes do Brasil, é macaxeira amarela (macaxeira manteiga). Que delícia! Cozida e sem nada além de sal ela já era uma delícia, mas grelhada com um pouco de gordura (azeite ou, como na foto abaixo, uma manteiga vegana à base de óleo de coco e palma) fica um desbunde. Um dia servi essa macaxeira cozida com cogumelos salteados e foi um grande sucesso. Se eu tivesse um restaurante colocaria esse prato no cardápio, com certeza.

Cuscuz com banana foi outra coisa que descobri no Acre, graças à minha amiga Cibele (que é de Sergipe, mas se mudou pra Rio Branco alguns anos atrás), mas que é consumido em outras partes do Brasil. Gostei tanto que postei a receita aqui ainda quando estava em Rio Branco. Abaixo uma foto minha em pleno trabalho de fotografia, pra provar de uma vez por todas que quem faz as fotos do blog sou eu, mesmo.

Abaixo algumas refeições que fiz em Rio Branco, com pratos que pretendo reproduzir em casa. 1-Kibe de macaxeira recheado com jambu (que na verdade é um croquete, mas independente de como você chamar, é uma delícia) 2- moqueca de banana da terra com pirão (menos colorida do que as que fazemos no Nordeste, mas adorei a ideia de usar uma parte do caldo pra fazer pirão) 3- ceviche de caju (como nunca pensei nisso antes? e olha que nem tem muito cajueiro no Acre, já que essa árvore é nativa do meu território e se dá melhor por lá) 4- purê de banana da terra e 5- tacacá com lentilhas. Esse último prato é criação da chef Rafaella Brozzo, que comanda a cozinha do restaurante do Tribunal de Justiça e que também fez o ceviche de caju. Eu sei que não é ortodoxo e entendo se houver reações negativas da parte das amazônidas lendo esse blog.

O Acre está bem longe de ser um lugar que ganharia um selo “vegan friendly”. Não tem nenhum restaurante vegano na capital, Rio Branco (muito menos nas cidades menores), e o que o pessoal me indicava como “comida tradicional” era sempre churrasco de vaca. Vaca, uma comida tradicional na Amazônia? A primeira vaca chegou no Acre em 1971, lembra? Então claro que o “tradicional” aqui é bastante novo. Mas o fato é que o estado está colonizado (e escolhi essa palavra intencionalmente) de restaurantes-churrascarias.

Porém eu trouxe essa informação aqui pra dizer que comida vegetal não precisa de selo “vegano” nem é exclusividade de restaurantes “veganos”. Mesmo nos restaurantes onde a especialidade era carne de animais (domesticados, trazidos pelos colonizadores, explorados como ferramenta de expansão/roubo territorial e de destruição da floresta – o tempero do churrasco no Brasil), ainda assim nós encontramos comida vegetal suficiente pra nos alimentar. Sempre tinha um feijão sem animais, verduras cozidas, verduras cruas e cereais (arroz e/ou macarrão). E até alguma fruta fresca (na parte das saladas cruas), que servia de sobremesa pra mim. Claro que estou falando aqui de restaurantes no peso (self-service), que sempre salvam as veganas em viagem.

Anotem aí. Comida “vegana” é feijão, arroz, farinha, verduras, frutas e tudo mais que sai da terra. E isso (ainda) é encontrado na maior parte dos lugares que servem comida no peso. Quem acha que precisa de um(vários) prato(s) com etiqueta “vegana” pra poder “ser vegana”, não entendeu do que se trata o veganismo.

Os três pratos abaixo são exemplos perfeitos disso. Comi o primeiro num restaurante meio chique em Rio Branco (reparei que quanto mais chique o restaurante, menos opções 100% vegetal). O segundo veio de uma churrascaria de bairro, também em Rio Branco. O terceiro prato foi degustado em Brasiléia, quando estávamos indo de Rio Branco pra Reserva, num restaurante bem simples. Como sempre, o foco principal do restaurante era carne de animais domesticados, mas mesmo assim tinha uma parte “buffet” com opções suficientes pra compor uma refeição vegana.

Também tive a honra de ser alimentada por pessoas acreanas, que vivem na Reserva, e entendi muita coisa compartilhando a mesa com elas. Abaixo, um jantar na casa de uma família que pratica agroecologia, além da coleta da borracha, e produz boa parte do que consome. Macaxeira manteiga, feijão, verduras e a farinha de mandioca deliciosa daquelas bandas. E às vezes o almoço era só feijão com arroz (as pessoas não veganas com quem estávamos comeram ovo frito também) e tudo bem.

Percebi que as pessoas que comem verduras são as que ainda as plantam. Me parece lógico pra quem mora na floresta, longe de feiras e sacolões. Já as pessoas que passaram a criar animais pro abate foram deixando as roças de lado e, consequentemente, as verduras sumiram do prato. Triste.

E um dia, quando já não tem mais nada pra comer e estávamos todas azul de fome, a gente parou embaixo de uma mangueira carregada, na beira do caminho. O chão estava coberto de frutas e ainda conseguimos tirar algumas (mais firmes) do pé. Manga, minha fruta preferida. Num dia de muita fome, elas fizeram a alegria do nosso grupo e ficaram gravadas na minha memória como algumas das mangas mais saborosas que já comi na vida.

Agora deixa eu falar um pouco dos horrores alimentares que vi por lá. Veja as fotos abaixo e se perguntem comigo: em que ônibus subimos pra chegar nesse ponto? Que obsessão com proteína (e creatina) é essa que precisam pegar algo tão importante na nossa cultura alimentar, a tapioca, e transformar em ultraprocessado? Faz meses que fiz essas fotos e ainda me revolto quando as vejo.

Algo que me chocou bastante no Acre (e olha que muita coisa me chocou no Acre) foi descobrir que todas as cozinhas são turbinadas no glutamato monossódio (“Ajinomoto”, como é mais conhecido entre nós). Lembra que um dia o leite de castanha-da-Amazônia já foi o “tempero do seringueiro”? Pois hoje é o tal do glutamato. Segundo minhas fontes locais, o glutamato é presença obrigatória até nos mais tradicionais tacacás. E você tinha ficado chocada com as lentilhas no tatacá da chef Rafaella…

Também fiquei decepcionada com a qualidade das frutas que encontrei nos mercados. Cibele me explicou que as frutas não nativas (que não crescem na Amazônia) vem de longe, o que faz sentido. Encontrei até melão de Mossoró, no RN (meu estado). Uma pena as frutas locais não serem mais facilmente encontradas (cacauí nem é comercializado!).

E já que o assunto é fruta, uma nota sobre açaí. Que decepção! O açaí da foto abaixo é puro, que eu recheie com algumas coisas (tapioca, castanha, banana e paçoquinha), o que não é tradicional, eu sei. Foi um lanche rápido que fiz na casa da amiga que estava nos hospedando. Mas a decepção não veio desse lanche. Você achava que toda a Amazônia comia o açaí tradicional, não adoçado e acompanhado com farinha? Descobri que a maior parte do açaí consumido no Acre já é vendida misturada com leite condensado, creme de leite e gordura hidrogenada, chamado de “açaí cremoso”. Olha o que o colonialismo alimentar, e a ditadura dos laticínios (palmas pra Nestlé e seu projeto de dominação), fizeram com a cultura alimentar nessa parte da Amazônia!

Pra não terminar esse post com algo tão negativo, deixa eu falar dos óleos da Amazônia. Eu só conheci alguns (buriti, patauá, tucumã, andiroba, copaíba, além da castanha-da-Amazônia) e fiquei encantada. Muitos (todos?) são medicinais e vários tem um potencial culinário incrível. Fiquei pensado que num país onde tem tantas possibilidades de óleos deliciosos, não faz sentido nenhum seguir priorizando o azeite de oliva, que é importado. Um dia eu volto pro Acre pra aprender mais sobre tudo isso e, quem sabe, ajudar a levar essas possibilidades pra cozinha fora de lá.

Volto em breve pra falar das comidas amazônidas nos outos lugares que visitei e com a receita da minha versão de X-caboquinho. Só de lembrar fico com água na boca.

Um passeio por Natal

Nos últimos dias tirei folga das responsabilidades e decidi descansar passeando por Natal. É muito gostoso ser turista na sua própria cidade e posso preencher páginas e mais páginas sobre essa experiência. Mas isso vai ficar pra outro dia. Hoje eu queria levar vocês nesse passeio comigo, então o post de hoje é visual.

Pra que seja um passeio em imagens, não vou legendar as fotos. Mas adianto que quase todas as fotos foram feitas no centro de Natal (que chamamos de Cidade Alta), mas também tem os bairros das Rocas e Mãe Luíza. Os nomes das praias que aparecem aqui são: praia dos Artistas, praia do Meio, Areia Preta e Miami. A última foto foi do almoço de hoje, no Café Libre, onde encerrei meus dias de folga e vim escrever esse post.

Fui na Pinacoteca Potiguar pra ver uma exposição muito linda, chamada “Nordeste Expandido : Estratégias de (re) Existir”. As obras acima, à esquerda, são da artista Silvana Mendes, do Maranhão (Afetocolagens: Reconstruindo Narrativas Visuais de Pessoas Negras na Fotografia Colonial). O bordado, à direita, foi feito pelas bordadeira do Curtume/Mulheres do Jequitinhonha.

O final de junho

Semana passada tive a sorte de poder descansar longe da cidade por uns dias. O mês de junho foi intenso pra mim, porque a cuidadora da minha mãe saiu de férias e fiquei no lugar dela. Também foi o mês em que fiz minha estreia na sala de aula e me tornei educadora em um cursinho popular aqui em Natal. No final do mês eu estava exausta, com o juízo aperreado e com muita dificuldade pra funcionar durante o dia. Então assim que a cuidadora da minha mãe voltou, me dei folga da casa, do trabalho (todos eles) e da função de cuidadora. Fui pra uma cabana entre o rio e o mar e passei três gloriosos dias sozinha, sem falar com ninguém. Quer dizer, sem falar com ninguém da espécie humana.

Sempre fui introvertida, o que não é sinônimo de ser tímida. Mas sinto que os anos passaram e minha introversão aumentou muito. E como ela se misturou com um amor cada vez maior pela contemplação, hoje só penso em fugir pras montanhas (ou pra floresta). Vou continuar por aqui porque sou uma militante sincera e dedicada, mas juro que se todas as revoluções tivessem sido feitas, eu me embrenharia mato adentro e passaria o resto dos meus dias lavrando a terra, conversando com os bichos e tomando banho de rio.

Dois anos atrás li um livro que falava sobre como resistir à economia da atenção. O livro, escrito pela estadunidense Jenny Odell, se chama “How to do nothing”, mas foi traduzido pro Português como: “Resista – não faça nada”. “Economia da atenção” é um termo que eu descobri com esse livro e que nomeou algo que me incomoda profundamente há anos. A ideia, bastante difundida, de que “se é gratuito, então o produto é você” não é verdadeira. Nas redes sociais o verdadeiro produto, a moeda de troca mais preciosa, é a sua atenção. Como moro em um país onde o uso do celular/internet/redes sociais é bem menor do que no Brasil (nosso paí é o vice-líder mundial em uso de internet: cada brasileira passa nada menos que 9h32 por dia conectada, enquanto na França, a utilização diária é de 5h26), sempre que estou desse lado do Atlântico fico assustada ao ver como a atenção das pessoas é sugada em permanência pelo celular.

Consegui uma parte significativa da minha atenção de volta vivendo sem redes sociais, mas isso foi só metade da mudança. Escolher pra onde vai a atenção reconquistada é, talvez, a parte mais importante nesse processo de resistência à economia da atenção. Prestar atenção no que e em quem está ao meu redor não é nem um pouco difícil. Me perder nos meus pensamentos, passar horas escutando passarinhos ou observando minhocas é puro deleite pra mim. Às vezes eu sentava na frente da minha horta de quintal e passava um longo momento com o nariz quase dentro da terra, assistindo fascinada a tudo que se passava ali (minha horta era agroecológica e fervilhava com os mais diferentes tipos de vida). Então largar o celular é fácil. O verdadeiro desafio, pra mim, é conseguir me afastar dos compromissos e conseguir momentos de introspecção.

Na sociedade capitalista em que vivemos, onde se sobrecarregar de trabalho é a condição de sobrevivência de 99% da população, tempo livre é um luxo pra poucas. Mas estou falando aqui sobre escolher não deixar o celular drenar minha atenção em todos os momentos do cotidiano. E, quando as circunstâncias permitem, escolher dar minha inteira atenção ao mundo material ao meu redor e ao mundo imaterial dentro de mim. Semana passada vivi dias deliciosos de silêncio e encontros com animais outros que humanos. Nada alimenta mais minha alma que esses momentos.

E falando em alimento, praia é um dos lugares mais difíceis de encontrar comida (pro corpo) quando se é vegana e já escrevi sobre isso anos atrás (Praia vegana: guia de sobrevivência). As dicas que compartilhei naquele post ainda são válidas, só queria acrescentar que hoje, oito anos depois, minha alimentação está ainda mais simples, principalmente quando cozinho apenas pra mim mesma.

Gosto de comer tapioca no café da manhã, então levei goma fresca, mais alguns recheios (tofu mexido, queijo cremoso de castanha e muta’bal). Preciso comer feijão todo dia pra ficar feliz e levei feijão macaça, lá da terra do meu pai, que comi no almoço e jantar (temperado só com sal ou com verduras). Também gosto de comer tubérculos diariamente, então levei batata doce e cará, que entravam no prato com o feijão. E acompanhei todas as refeições com frutas. Como não ligo muito pra sobremesas nem doces em geral, levei apenas um pedaço de chocolate 100% (sim, totalmente amargo) e uma soda preta (quitute típico do meu território, feito com rapadura), que gosto de comer com café. Mas nada melhor do que lanchar frutas frescas, principalmente na praia.

O lugar onde me hospedei tinha a particularidade de estar exatamente onde um rio potiguar encontra o mar, então dependendo da maré, a baía era preenchida pelo mar (foto abaixo, à esquerda) ou pelo rio (foto à direita). O momento em que o rio voltava, empurrando a água salgada e verde de volta pro mar e inundando tudo com sua água doce e escura era de uma lindeza que enchia meus olhos de lágrimas. No primeiro dia fui surpreendida pelo espetáculo, mas depois passei a sentar e esperar por ele, e a alegria era tão intensa quanto da primeira vez.

Quando voltei pra casa e contei sobre a pororoquinha que eu via todos os dias, minha irmã perguntou por que eu não tinha filmado. A ideia de deixar de “viver o momento” pra “filmar o momento”, me pareceu revoltante. Me dá um arrepio de prazer saber que aqueles momentos estão guardados dentro de mim, sem cópias na memória do celular. Não me importo se minha memória (humana, logo, falha) vai deformar os acontecidos conforme o tempo for passando. Faz parte da vida. Também gosto de contar o que vi e vivi pras pessoas que amo, olhando nos olhos delas, ao invés de simplesmente mostrar algo numa tela. Sei que isso foi normalizado, mas ainda me incomoda muito quando o celular se faz presente nas conversas com pessoas que estão na minha frente.

Já estou mergulhada novamente na rotina, entre trabalho, militância e cuidados com minha mãe. Aliás, ela está precisando da minha atenção nesse momento preciso.

Termino esse post com mais um espetáculo: o pôr do sol atrás do rio.

Porto Alegre

O avião se aproximou de Porto Alegre e eu fiquei impressionada em avistar tanta água. Era a minha primeira vez na cidade e, admito com vergonha, não sabia que ela era banhada pelo rio Guaíba. Aliás, descobrir o nome daquele rio foi uma surpresa. No bairro onde cresci, no outro Rio Grande, as ruas tem nome de rio e a rua Rio Guaíba é vizinha da nossa. Então ficava ali o rio que eu atravessava todos os dias, na sua versão rua, pra ir pra escola?

O rio Guaíba, em Porto Alegre

Eu estava indo pra Porto Alegre pra realizar atividades militantes, quando a UVA organizou a Jornada do Veganismo Popular contra o Fim do Mundo, em novembro de 2022. Fui muito bem recebida por camaradas do coletivo vegano local associado à UVA, que foram me buscar no aeroporto, me ofereceram pouso e comida, me levaram pra conhecer a cidade e trocaram ideias e conhecimentos comigo. Depois de me impressionar com aquele corpo d’água imenso e com a hospitalidade das pessoas que encontrei, fiquei maravilhada com as árvores: gigantes e lindas. Talvez seja porque minha família é do Sertão, onde quase tudo é arbusto (“árvores acocoradas”, como disse Josué de Castro). O fato é que não importa quantos anos eu vivi e quanta coisa eu vi, árvores altas continuam sendo algumas das coisas que me mais me impressionam no mundo.

Acompanho, como o coração apertado e o peito cheio de revolta, a catástrofe causada pelas enchentes no RS todos os dias desde que voltei pro Brasil. Todos os dias, penso nas pessoas que conheci lá. Penso no assentamento que visitei, que produz tanta coisa além do famoso arroz orgânico, e que ficou completamente embaixo d’água. Penso no sofrimento do povo gaúcho que perdeu muito mais do que é possível contabilizar, nos animais que ficaram pra trás e morreram, nos que foram resgatados e estão em abrigos superlotados, nas voluntárias que estão fazendo um trabalho admirável salvando pessoas humanas e não-humanas… Penso também no meu irmão, que é bombeiro e saiu de um Rio Grande pro outro pra resgatar as vítimas das enchentes, sem data pra voltar pra casa.

E se a revolta com quem contribui pra que esse desastre acontecesse, sejam autoridades locais ou os poluidores do Norte do globo, ocupa uma parte dos meus pensamentos, ver a solidariedade das pessoas, a ajuda mútua (um dos pilares do compromisso anarquista) todos os dias é o que coloca alento dentro de mim. Claro que estou escrevendo essas linhas de um lugar bem longe, no seco e abrigada.

Hoje abri o telefone procurando as fotos da minha única passagem por Porto Alegre e percebi que apesar de ter compartilhado algumas fotos quando falei da Jornada do Veganismo Popular contra o Fim do Mundo, ainda não tinha feito um post contando o que vivi na cidade.

Enquanto sonho em voltar praquela terra, rever as amigas e camaradas e ver o RS reerguido e fortalecido, compartilho aqui alguns momentos da viagem de 2022.

A cozinha solidária do MTST acolheu a atividade em PoA da Jornada do Veganismo contra o Fim do Mundo.

Tive a honra de visitar o Assentamento Integração Gaúcha, em Eldorado do Sul (região metropolitana de Porto Alegre) e conhecer algumas pessoas maravilhosas por lá, além do famoso arroz orgânico do MST. Quem me levou até lá foi o jornalista Marco Weissheimer, do Sul21. Marco já tinha me entrevistado uma vez em 2018 e 4 anos depois nos conhecemos, enfim, pessoalmente e fizemos mais uma colaboração. Sou muito grata ao Sul21 por me dar espaço, mais uma vez, pra falar do antiespecismo como parte da luta decolonial: A mesa é um território de disputa

Assentamento Integração Gaúcha

Também pude visitar a padaria Pão da Terra, no assentamento. A história dessa padaria é linda demais e fico muito feliz que tenha sido registrada nesse video que o Sul21 fez mostrando nossa visita ao local.

Deixa eu contar um momento bem emocionante pra mim durante a visita à padaria Pão da Terra. Dona Maria Inês, assentada que também trabalha na padaria, nos mostrava os bolos lindos e cheirosos que elas preparam e vendem nas feiras. Perguntei que ingredientes ela colocava nos bolos e quando percebi que todos eram de origem vegetal (muito nutritivos, aliás) perguntei: “A senhora não usa ovo nos bolos por que?” Ela respondeu simplesmente: “Porque não precisa.” Algo óbvio que nós, veganas, sabemos, mas que as pessoas que comem animais e seus derivados ignoram (ou decidem ignorar). Se todo mundo entendesse essa informação tão simples…

A região de Eldorado do Sul foi muito afetada pelas enchentes e foi com muita tristeza que descobri que o assentamento Integração Gaúcha, todas aquelas roças lindas, os campos de arroz e aquela padaria tão especial, tinham ficado completamente embaixo d’água. Hoje Marco me enviou um vídeo da filha de uma das assentadas que conhecemos mostrando o estado que ficou a padaria. Ele também escreveu esse artigo contando como está sendo organizada a solidariedade pra reerguer a comunidade: Feiras Ecológicas lançam campanha para ajudar assentamentos atingidos pelas enchentes

Foi durante essa viagem que visitei, pela primeira vez na vida, um santuário animal. Pude conhecer o santuário Voz Animal e encontrei Feu, um dos fundadores do santuário e membro da UVA.

Encontrar cada animal vivendo ali foi lindo demais e descobrir o trabalho por trás do santuário me encheu de admiração por Feu e Fernanda, sua companheira e também fundadora do Voz Animal. E como se não fosse suficiente, essas pessoas estão atualmente na linha de frente resgatando animais vítimas das enchentes em Porto Alegre e organizando a solidariedade material nos abrigos.

Agradeço mais uma vez o carinho e a generosidade de todas as pessoas que conheci em Porto Alegre. Um obrigada especial a Monique, que me levou pra todos os lugares e me deu queijo (vegetal), a Bruno, que me deu pouso, mate e um livro, a Feu, que passou o dia me mostrando o santuário e a Marco, que decidiu levar minha voz e minha mensagem pras leitoras do Sul21:) A vontade de voltar pra rever vocês e estar aí mais uma vez é grande. Nosso reencontro, junto com o pessoal do MTST, as outras compas do coletivo Mova e Bruna Crioula vai ser potente. Um cheiro pra todas e vocês não saem do meu pensamento.

Organizando a solidariedade material

Quem puder contribuir materialmente com as pessoas e animais no Rio Grande do Sul, deixo aqui algumas recomendações de pessoas que conheço pessoalmente, que fazem um trabalho sério e que estão precisando de ajuda no momento.

Bruna Crioula criou o Fundo Crioula “em apoio ao povo negro e aos animais que sofrem os impactos do racismo ambiental no Rio Grande do Sul”. Doações via pix, chave: oi.crioula@gmail.com

As doações pro Santuário Voz animal vão ajudar os animais que moram no santuário (são 300 animais!), mas também os que foram vítimas das enchentes, fortalecendo o @aubrigo_scooby a UTI pra animais @op.resgateanimal , o Hospital de Campanha do Gasômetro @operacaoresgatepetpoa e Abrigo de Animais de Grande Porte de Viamão @naomedeixepratras . Você também pode doar diretamente pra cada uma dessas iniciativas.

Sinal de vida e o segredo do quiabo sem baba

Nunca tinha ficado tanto tempo ser aparecer por aqui. Seis meses! Tanta coisa aconteceu desde o post sobre veganwashing em janeiro que nem sei por onde começar. Vou fazer um resumo dos últimos meses.

Saí de Berlim em fevereiro. Voltei pra Palestina. Tive o prazer de guiar mais dois grupos no tour político-vegano na Palestina (vai ter mais em 2018, aguardem!) e conheci pessoas maravilhosas, como acontece todos os anos. Teve o primeiro congresso sobre direitos animais e humanos na Palestina, organizado pela PAL (Palestinian Animal League). Depois fui pra Paris e realizei um projeto novo: tours veganos gastronômicos na cidade luz. Foram dois grupos e a viagem, como era de se esperar, foi deliciosa. Logo depois vim pro Brasil e cá estou há um mês e meio. Continuar lendo “Sinal de vida e o segredo do quiabo sem baba”

“Estou disposto a fazer a minha parte”

O último tour político-ativista-vegano-feminista na Palestina aconteceu em março desse ano. Assim como durante o tour de fevereiro, vivemos momentos difíceis, chocantes e revoltantes. Também vivemos momentos cheios de emoção, onde a humanidade e força das pessoas que encontramos nos tocou profundamente. Pela quinta vez pude ver as pessoas que participaram da viagem passarem pelas mesmas etapas que eu passei quando cheguei pela primeira vez na Palestina, 10 anos atrás. Surpresa, indignação, lágrimas, revolta, impotência, dor. Sempre que acompanho um grupo nessa montanha russa de emoções chega um momento em que me pergunto por que faço isso com essas pessoas tão bacanas que vieram de tão longe pra estar ali comigo. Mas elas nunca deixam de me lembrar a razão que me fez decidir fazer esse trabalho. Eu tenho uma responsabilidade moral em divulgar a realidade cruel da colonização e ocupação militar israelense na Palestina. Elas estão ali porque decidiram mostrar solidariedade ao povo palestino e se juntar às pessoas que lutam por justiça, a condição primeira pra se obter paz.

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Guia Vegano São Francisco – parte II

A primeira parte foi sobre comida, a segunda será sobre todo o resto: passeios, parques, museus, LGBTs e um pequeno parênteses consumista.

Alugamos uma casa exatamente na interseção dos bairros Noe Valley, Castro e Mission e foi muito feliz, pois eles acabaram sendo os meus preferidos na cidade. Nessa área você praticamente só vê casas, as ruas são tranquilas e as pessoas parecem estarem todas de férias, tamanho o relaxamento delas.

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Guia Vegano São Francisco – parte I

 

No final de abril viajamos em lua de mel pela segunda vez. Dessa vez o destino foi São Francisco/EUA. A primeira lua de mel, anos atrás, foi na Irlanda e ainda sonho em voltar lá.

Anne sempre quis visitar São Francisco e apesar dos EUA nunca terem estado na minha lista de destinações sonhadas, SF era a única cidade de lá que me interessava. Ela sempre existiu na minha imaginação como um lugar alternativo, tolerante e totalmente diferente do resto do país. Minha irmã caçula, que morou dois anos nos EUA e visitou várias cidades lá, me falou que era exatamente isso. E o momento era perfeito. Anne já estava nos EUA, em uma turnê de um mês apresentando o último projeto dela sobre Gaza, Obliterated Families, e o final da turnê coincidia com o final do meu trabalho com os tours políticos/ativistas na Palestina. Decidimos então nos encontrar em SF, eu vindo da Palestina (com uma passagem por Paris) e ela de Seattle.

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Tour político-ativista-vegano-feminista na Palestina, 2017

O quarto e o quinto tour Papacapim na Palestina aconteceram em fevereiro e março. Mais uma experiência transformadora, pras pessoas que participam do tour e pra mim mesma. As participantes terminam o tour meio sequeladas ou, como disse meu amigo Rogério, “acordadas”! Reviver, de novo e de novo, a montanha russa de emoções provocadas pelas atividades do tour e explicar, de novo e de novo, a injustiça e violações dos direitos humanos cometidas pela ocupação israelense na Palestina é doloroso pra mim. Claro que a dor que sentimos não pode nunca, nem de longe, ser comparada à dor vivida pelo povo palestino, mas não deixa de ser uma vivência difícil pra nós. Planejar esses tours exige meses de trabalho, muitas horas respondendo emails e tirando dúvidas de pessoas interessadas em participar, semanas coordenando as atividades com as pessoas palestinas que nos guiam e participam da programação… No final das contas acompanhar os grupos durante 11 dias é a menor parte do trabalho, mas é a parte que provoca um esgotamento físico e emocional que me obriga a ficar de cama por alguns dias depois de cada tour.

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Guia Vegano Beirute

No início do ano passado fui morar em Beirute por três meses. Sempre tive vontade de visitar a cidade, conhecer as belezas do Líbano e provar a maravilhosa culinária libanesa na fonte. Aproveitei pra fazer um curso de Árabe escrito e foi uma experiência muito enriquecedora, em todos os sentidos. Já cheguei em Beirute decidida a fazer um Guia Vegano da cidade, pra compartilhar os tesouros gastronômicos que eu iria descobrir por lá. Levei um ano pra realizar o guia e hoje, pensando sobre o porquê disso, me dei conta que o fato de ainda não ter digerido completamente minha vivência em Beirute estava criando essa resistência. Quando me perguntam: “O que achou de Beirute?” nunca sei o que responder. A cidade é muito interessante, com lugares lindos e outros ainda carregados de cicatrizes da guerra civil, as pessoas são calorosas e simpáticas e a comida é a melhor parte de tudo, mas… Tem um “mas” gigante.

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Ainda dá tempo

Janeiro ainda não acabou e eu já dormi em dez camas diferentes esse mês. Dez! Mas é com muita felicidade que digo que essa décima cama será minha por três meses inteirinhos. Sei que parece pouco, mas quando você anda arrastando sua mala há mais de dois anos, três meses são suficientes pra te deixar feliz e sentindo que tem uma casa.

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Muitos convites

Semana passada fiz uma pausa (merecida) no trabalho e passei alguns dias na praia. Estou preparando um guia de sobrevivência pra veganas na praia, pois esse sempre foi, pra mim, um dos lugares mais difíceis de se alimentar com comida 100% vegetal. Mas antes de tirar esse post do forno passei aqui rapidinho pra compartilhar minha agenda nos próximos dias e convidar vocês pra fazer coisas bacanas comigo.

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19 de setembro

Primeiramente, fora Temer. O fato de não ter sido uma surpresa não quer dizer que o golpe parlamentar me deixou menos revoltada. Compartilho agora o sentimento das pessoas ao meu redor: meu luto é verbo.

Segundamente: ainda estou em Pindorama. Fico por aqui, me revoltando, cozinhando e comendo tapioca, até dezembro. Vim passar uma chuva grande dessa vez e vocês me acharão em Natal, mas também em Recife e João Pessoa. E se bobear apareço pelo Sudeste e pelo Distrito Federal também.

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Berlim

Algumas semanas atrás eu fui visitar Anne em Berlim, onde ela está morando atualmente. Eu estive na cidade alguns anos atrás, também durante o verão, e adorei. Até escrevi um Guia Vegano da cidade. As opções veganas aumentaram ainda mais desde a primeira vez que estive lá e o guia merece uma segunda parte. Berlim é sem dúvida a capital vegana da Europa. É incrível ver como veganismo é algo comum e bem aceito por lá. Comi em vários restaurantes veganos, mas também em restaurantes tradicionais, pois é comum ter opções veganas em praticamente todos os lugares. Você pode sair pra comer com suas amigas onívoras e ter a certeza que vão encontrar facilmente um lugar que vai deixar a barriga de todo mundo satisfeita.

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É assim que vou lembrar

Esse é o meu último mês em Beirute e já comecei a fazer listas do que quero fazer antes de ir embora. Três meses aqui é pouco pra penetrar nas camadas mais profundas da cidade. Tenho a impressão que até agora só consegui arranhar um pouquinho a superfície. Então decidi parar de tentar dar um sentido pra esse emaranhado de fios, culturas, contradições e desigualdades e vou passar as próximas semanas só admirando, absorvendo e gravando na memória cada momento e cada esquina. E aqui vão algumas imagens da cidade pra vocês verem um pouco do que estou vivendo. Não são fotos trabalhadas e fiz todas com o telefone (com excessão de duas fotos feitas por Anne), mas é assim que vou lembrar de Beirute.

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Tour Papacapim na Palestina – 2017

Eu disse que não teria outro, porém seguindo o ditado francês que diz que “só os idiotas não mudam de ideia” vim aqui anunciar oficialmente que vai ter mais um tour político-ativista-gastronômico-vegano na Palestina ano que vem. Na verdade dois. O primeiro acontecerá em fevereiro e o segundo em março. Dessa vez estou avisando com bastante antecedência porque muitas pessoas queriam participar dos tours em 2014 e 2015, mas não viram o anúncio a tempo e não conseguiram se juntar ao grupo. Dessa vez vocês têm um ano pra organizar a viagem (pedir férias, procurar as passagens mais baratas etc.).

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3 dias em Paris

Semana passada passei três dias inteiros em Paris, encontrando amigas, explorando a cena vegana da cidade, que continua aumentando, e curtindo um pouco essa cidade que eu tanto adoro. Aconteceu assim.

Cheguei em Paris de trem, vindo do interior da França, num domingo à noite. Sempre que chego em Paris sou invadida por um sentimento de familiaridade e estranheza ao mesmo tempo. Como quando você volta pra casa dos seus pais, depois de ter morado muito tempo na sua própria casa. Você se sente em casa e ao mesmo tempo ali não é mais a sua casa. Quando eu morava em Paris era diferente. Eu voltava pra cidade depois das férias, mesmo quando as férias eram no Brasil, e assim que chegava na minha rua soltava um suspiro feliz de “lar doce lar”.

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Guia Vegano – Marselha (França)

Acabo de chegar de dez dias de férias em Marselha. “Chegar” é modo de falar, pois na verdade eu não chego, eu passo. E estou novamente de passagem no interior da França, mas já de malas prontas pra próxima aventura. (Lembrando a quem não sabe: o Papacapim está no Instagram e sempre compartilho fotos das minhas andanças e comilanças pelo mundo.)

Mas então, Marselha. Apesar de ter morado seis anos inteirinhos em Paris, nunca tinha me aventurado pelo sul da França. Um grande erro que decidi corrigir. Quando eu levava minha vida tranquila de universitária na cidade luz meus amigos parisienses diziam: “Marselha? Oh, la, la! É uma cidade suja, barulhenta e perigosa!” E eu pensava com os meus botões que essa noção de “cidade perigosa” é relativa e que não podia ser pior do que as grandes metrópoles brasileiras. Pois tenho a satisfação de informar que meus amigos parisienses estavam errados. Marselha, a segunda maior cidade da França, é incrível, vibrante, um caldeirão cultural com praias lindas de águas cristalinas e pessoas gentis e simpáticas. Sim, a criminalidade existe, principalmente em certos bairros (longe do circuito turístico), exatamente como em todas as cidades onde as desigualdades sociais são gritantes e a discriminação racial rola solta. Mas em nenhum momento me senti em perigo. E sim, a cidade é menos “arrumadinha” que a capital e tem graffiti em praticamente todos os muros e portas, mas não considero isso sujeira: adoro arte de rua. Sem falar que com tanta gente falando Árabe ao meu redor me senti em casa.

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O segundo tour na Palestina (de 2015)

Faz exatamente um mês que passei aqui pelo blog. A causa da ausência foi o trabalho na Palestina (quem me segue no Instagram acompanhou toda a aventura). Esse foi o terceiro Tour Papacapim na Palestina que organizei e, como sempre, gostaria de dividir com vocês alguns dos momentos que passamos juntos. As fotos foram feitas por mim, mas principalmente por Carol e Marcelo e mostram um pouco do que vivemos durante as duas semanas do tour. Talvez as imagens pareçam um pouco confusas pra quem olha de fora e não conhece muita coisa sobre a Palestina, mas elas traduzem bem o espírito dessa viagem.

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