Zaaki*

livro projeto

No início desse mês o livro de receitas palestinas que eu criei pra arrecadar fundos pro projeto de mulheres no campo de refugiados de Aida ficou (enfim!) pronto. Além de ensinar a fazer 15 receitas tradicionais, o livro explica a situação dos refugiados palestinos e conta a história do projeto. Ele é o fruto de três árduos meses de trabalho e quando o segurei nas mãos pela primeira vez senti uma mistura de alegria e alívio. Nunca imaginei que fazer um livro (sozinha) fosse tão penoso: entre recolher as receitas, fotografar os pratos, escrever os textos e fazer o design/layout, quase perco o juízo. Mas agora que ele está aqui olhando pra mim, estou extremamente feliz por ter controlado a vontade de desistir e ter ido até o final. (Clique nas imagens pra aumenta-las.)

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Abraço

abraço

O muro construído por Israel na Cisjordânia mutila ainda mais as terras palestinas, isola cidades e seus habitantes e priva agricultores de seus campos. Ele foi julgado ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça em 2004, mas continua avançando. O muro de segregação, como é chamado pelos defensores dos direitos humanos, é onipresente aqui em Belém. É difícil esquecer os crimes cometidos pela ocupação israelense quando nos deparamos com esse ‘lembrete’ de concreto de 8 metros de altura cada vez que levantamos o nariz.

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Saiba decifrar embalagens de alimentos industrializados

temperos

Continuando a descascar o Guia Papacapim de alimentação saudável, a dica a ser tratada esse mês é:

Saiba decifrar embalagens de alimentos industrializados.

Apesar de continuar insistindo que comida de verdade não tem embalagem nem lista de ingredientes, e que essa é a comida que deve aparecer no seu prato em absolutamente todas as refeições, nem todo mundo está disposto a preparar toda a sua comida na própria cozinha. Eu, por exemplo, não faço macarrão em casa e sempre compro a versão industrializada. Outras comidas industrializadas que você vai encontrar sempre na minha cozinha: aveia em flocos, vinagre, azeite, cacau, chocolate, sal marinho, tahina, fécula de araruta, amido de milho, tomate seco, levedo de cerveja, missô, xarope de bordo, farinhas…

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É certo estender o veganismo ao seu animal de companhia?

gatos

Se você leu o título desse post e pensou: “Que absurdo!” eu peço que, por favor, não julgue tão rápido e continue lendo pra entender melhor esse assunto espinhoso, mesmo entre veganos, mas que deveria interessar a todos, vegs e onívoros.

Veganos, e boa parte dos vegetarianos, decidiram parar de se alimentar com a carne de animais por razões éticas, então quando eles adotam um cachorro ou um gato aparece essa dúvida: é certo alimentar o meu companheiro de quatro patas com a carne de outros animais se eu acho que comer animais é imoral? Vez ou outra meus gatos aparecem por aqui e nos últimos meses alguns leitores me perguntaram sobre a alimentação deles.  Senti que era necessário abordar essa questão no blog.

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Coma comida de verdade

cerejas

Quando escrevi o ‘Guia Papacapim de alimentação saudável’ prometi explicar melhor um dos doze pontos a cada mês. E a primeira dica que dei, e a que considero a mais importante de todas, foi:

 Coma comida de verdade.

Cresci achando, como muita gente, que comida industrializada era ruim por dois motivos: ela oferecia calorias vazias (ou seja, aquela comida ia encher o meu estômago, mas não era capaz de fornecer os nutrientes que o meu corpo precisa) e engordava. Foram necessários muitos anos de pesquisas pra eu conseguir, enfim, entender toda a amplidão do estrago que esses pseudo-alimentos causam na nossa saúde.

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Histórias palestinas: Tareq Jawabrah

tareq

Conheci Tareq na ONG palestina onde eu trabalhei durante meus dois primeiros anos aqui. Ele participava do grupo de teatro e me ajudou a organizar atividades físicas pros meus “alunos” uma vez por semana e a montar uma peça com as crianças do grupo, ensinando a importância de escovar os dentes. Nossa amizade foi crescendo com o tempo e também me tornei muito próxima da esposa dele, Sara. Ele é professor de tecnologia em uma escola secundária, ela é tradutora e juntos eles formam um dos poucos casais que conheço aqui que desafiaram a tradição e se casaram por amor (geralmente os casamentos são organizados pelas famílias).

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A fórmula da sopa

Estive pensando muito sobre sopas ultimamente. Alguns leitores me falaram da dificuldade em se alimentar bem quando se tem pouquíssimo tempo pra cozinhar e pediram dicas. Acho que esse assunto merece um post inteiro, mas como a primeira coisa que faço quando sei que não terei muito tempo pra cozinhar durante a semana é preparar sopa, pensei em tratar desse assunto hoje.

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Guia Papacapim de alimentação saudável

cenoura

Eu organizo regularmente oficinas de nutrição nos campos de refugiados e em escolas e esse é um dos trabalhos que mais gosto de fazer. Por saberem que trabalho com educação nutricional, amigos e parentes estão sempre me perguntando como ter uma alimentação mais saudável. Nessas horas percebo que, apesar de tanta informação circulando por aí, a maioria das pessoas se sente perdida e não sabe o que fazer concretamente pra melhorar a alimentação.

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Os melhores posts de 2012

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Quando, no último dia de dezembro, olho pra trás e analiso o ano que passou sempre tenho a impressão que ele foi mais movimentado do que o ano anterior. Mas acho que 2012 se superou em intensidade. Nesse ano que passou eu dediquei mais tempo do que nunca ao blog e postei com mais frequência. Resultado: com tantas receitas e artigos ficou difícil escolher os melhores posts de 2012. Mas antes de eleger as melhores receitas que saíram da minha cozinha nos últimos doze meses, uma pequena retrospectiva dos acontecimentos que fizeram com que esse ano tenha sido tão intenso, enriquecedor, mas também difícil.

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Natal vegano com a família onívora

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Natal e outras grandes celebrações em família podem ser um pesadelo pra nós, veganos e vegetarianos. Exatamente um ano atrás eu escrevi esse post com a esperança de ajudar os leitores vegs a sobreviver em uma família onívora, mas hoje eu gostaria de dar algumas dicas específicas pra essa época do ano, quando nos reunimos com família e amigos com mais frequência e a comida ganha um papel ainda mais importante.

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Da azeitona ao azeite: como é feito o azeite de oliva

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Depois da colheita, os palestinos levam as azeitonas pra prensa o mais rapidamente possível. Idealmente, as azeitonas devem ser prensadas nas 24 horas que seguem a colheita, mas por ter poucas prensas na região de Belém, as azeitonas acabam esperando um pouco mais. O centro da produção de azeite palestino fica em Nablus, no norte, e lá tem mais prensas do que aqui. Porém, o azeite de Belém e das duas cidades vizinhas (Beit Jala e Beit Sahour) tem fama de ser o melhor de toda a Palestina. Meu amigo Tawfic explicou que essa região tem um micro clima perfeito pra produção de azeitonas e por isso o sabor do azeite daqui é superior. Eu posso confirmar: o azeite de Tawfic é o melhor que já provei na vida! Ele tem uma nota verde intensa, com um gosto de mato depois da chuva (nunca comi mato depois da chuva, mas tenho certeza que o gosto é idêntico ao cheiro), mas ao mesmo tempo é aveludado e tão cremoso que chega a ser (pasmem!) amanteigado. É difícil descrever um sabor tão complexo, só mesmo provando pra entender.

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Colheita de azeitonas na Palestina

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Entre os meses de outubro e novembro é época de colher azeitonas na Palestina. Essa é uma das atividades mais antigas aqui. Muitas oliveiras são centenárias e algumas têm mais de mil anos. A mais antiga (talvez a oliveira mais velha do mundo) fica no vilarejo de Al Walaja, pertinho de Belém, e tem entre 4000 e 5000 anos ! (Infelizmente essa árvore está ameaçada pelo muro de separação que Israel está construindo ao redor de Al Walaja.)

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As últimas semanas

Hoje é o segundo dia desde que o cessar-fogo começou em Gaza (vejam as fotos do último dia de ataques e da festa quando a trégua começou no blog de Anne) e as coisas estão voltando aos poucos ao normal aqui do outro lado dos territórios palestinos. Alguns dias atrás Belém estava fervendo e várias pessoas do campo de refugiados de Aida, onde trabalho, foram presas pelo exército ocupante. Mas, como disse, a situação se acalmou bastante.

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Notícias

Nos últimos dias recebi mensagens de leitores (comentários aqui no blog, e-mails e recados na página facebook do Papacapim) perguntando como eu estava e como andava a situação aqui na Palestina. A última semana foi intensa, muito intensa. Longas horas de trabalho passadas realizando o novo projeto do grupo de mulheres no campo de refugiados (prometo contar mais em breve). Tive problemas tecnológicos : faz uma semana que o computador pifou e fui obrigada a reduzir drasticamente minhas atividades « internéticas ». E teve o ataque de Israel na faixa de Gaza.

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Manual do sanduíche vegano

Na nossa sociedade onívora tem uma categoria de comida que é extremamente ingrata com os veganos: sanduíches. Tenho a sorte de morar na Palestina, onde o sanduíche nacional, falafel, é vegano, mas a situação é bem diferente no Brasil. Já tentou ir a uma lanchonete tradicional no nosso país e pedir um sanduíche vegano? É mais provável Jodie Foster me pedir em casamento do que você achar um sanduíche vegetal por lá. A menos, claro, que você ache que pão com alface e tomate pode ser chamado de sanduíche…

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O caminho que escolhi

Ainda não expliquei aqui no blog o porquê do meu veganismo, pois sempre tive receio que isso provocasse reações negativas em alguns leitores onívoros. No início do mês fez cinco anos que me tornei vegana e pra comemorar essa data tão especial pra mim resolvi passar por cima do meu receio e escrever esse post. Mas antes de continuar a leitura aqui vai um aviso. Esse texto explica o que o veganismo significa pra mim. Não tenho ambição nenhuma de ser a porta voz do movimento e estou certa que minhas opiniões divergem consideravelmente da opinião de outros veganos. Também não é minha intenção impor meus valores aos leitores onívoros e vegetarianos, nem criticar suas escolhas. O único objetivo desse texto é dividir com vocês uma parte importante da minha história, que fez com que eu seja quem eu sou hoje e sem a qual o Papacapim não teria vindo ao mundo.

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Vegano no churrasco: guia de sobrevivência

Churrasco nunca foi a minha praia, mesmo na minha época pré-vegana. Eu detestava tudo nesse tipo de evento (ambiente, música, fumaça), então quando me tornei vegana nunca mais voltei a pensar no assunto. Porém nos últimos dois anos participei de alguns churrascos feitos por amigos estrangeiros morando aqui em Belém e fiquei menos churrascofóbica. Por razões éticas ainda prefiro não frequentar churrascos, principalmente os do tipo “três quilos de carne por pessoa, farofa e vinagrete”, que é a norma no Brasil. Mas meus amigos europeus não cresceram com a cultura do “quanto mais carne melhor” e não atribuem à carne a mesma importância (nem status social) que os brasileiros, tornando a experiência bem mais agradável pra mim (o fato desses churrascos parecerem mais com almoços/jantares ao ar livre, sem música, contribuiu bastante, claro). Eles sempre respeitaram meu veganismo, sempre preparam vários pratos vegetais pra todos (os acompanhamentos vegetais são tão importantes quanto a carne pra eles) e a quantidade de carne consumida é muito mais modesta do que no Brasil, além de ter sempre uma grelha exclusiva pros vegetais (que, como disse, são apreciados por todos).

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Mais sobre o projeto no campo

Quem acompanha a página Facebook do Papacapim viu que ontem foi um dia muito especial pro meu projeto aqui na Palestina. Dias atrás uma jornalista que trabalha pra Al Jazeera me ligou dizendo que queria escrever um artigo sobre o projeto de mulheres que dirijo no campo de refugiados de Aida, em Belém. Já falei sobre o projeto nesse post e quem quiser mais informações pode visitar o nosso site (em Inglês). Mas a alegria de ver Islam, que criou o projeto comigo, na primeira página do site Al Jazeera foi tão grande que eu precisava dividir isso com vocês. Por isso hoje eu gostaria de mostrar mais um pouco desse trabalho, que ocupa a maior parte do meu tempo e me enche de felicidade.

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Os dawalis de Draguitsa

Waraka dawali u qussa: folhas de parreira e legumes recheados com arroz.

Queria falar de duas coisas hoje: meu prato palestino preferido e Draguitsa, uma das minhas melhores amigas que, olha que coincidência maravilhosa, faz esse prato divinamente bem.

Como em vários lugares do mundo, os palestinos gostam de rechear folhas de parreira. Na Palestina esse prato é chamado de “waraka dawali” (ou só dawali, pros íntimos) e as folhas são recheadas com uma mistura de arroz e especiarias. Geralmente os dawalis são preparados com abobrinhas e berinjelas, recheadas com o mesmo arroz. Os legumes são colocados em camadas na panela, com um frango inteiro, e tudo cozinha junto. Algumas pessoas também colocam carne moída no arroz. Porém existe uma versão sem frango e sem carne (“dawali siami”), preparada pelos palestinos cristãos durante a quaresma.

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