Colheita de azeitonas na Palestina

colheita

Entre os meses de outubro e novembro é época de colher azeitonas na Palestina. Essa é uma das atividades mais antigas aqui. Muitas oliveiras são centenárias e algumas têm mais de mil anos. A mais antiga (talvez a oliveira mais velha do mundo) fica no vilarejo de Al Walaja, pertinho de Belém, e tem entre 4000 e 5000 anos ! (Infelizmente essa árvore está ameaçada pelo muro de separação que Israel está construindo ao redor de Al Walaja.)

colheita2

A época da colheita de azeitonas aqui é uma das minhas preferidas. Os palestinos têm uma relação muito forte com a terra e sentem muito orgulho de suas oliveiras. Quase metade das terras cultivadas aqui são cobertas de oliveiras e cerca de 100 mil famílias dependem da colheita pra sua renda. Nos últimos anos ajudei vários amigos a colher azeitonas. Todos os membros da família participam dessa atividade e é comum ver três gerações nos campos. Pras crianças isso está mais pra festa do que pra trabalho, claro, mas os pais também usam essa oportunidade pra ensina-las a amar e respeitar a terra dos seus antepassados. O trabalho é interrompido algumas vezes por canecas de chá e café e no meio do dia tem sempre um grande  piquenique embaixo das árvores. Passar o dia ao ar livre, em contato com a natureza, é extremamente agradável pra quem passa tanto tempo na frente do computador, como eu.

colheita13
Foto feita por Anne.

Mas os estrangeiros não se juntam aos palestinos durante a colheita somente pra aproveitar o ar fresco. Muitas colônias ilegais israelenses (construídas em terras palestinas confiscadas desde 1967) ficam perto dos campos de oliveiras. As agressões cometidas pelos colonos contra os agricultores palestinos aumentam consideravelmente durante a colheita. Em muitos vilarejos palestinos eles cortam as oliveiras, colocam fogo nos campos e agridem fisicamente os palestinos que tentam colher as azeitonas nas suas próprias terras. Em Hebron grupos de colonos roubam as azeitonas de vários agricultores palestinos, sem que eles possam se defender ( uma parte de Hebron é controlada pelo exército israelense). Sem falar que por causa das inúmeras bases militares israelenses construídas dentro de terras palestinas e do muro de separação, que impede os palestinos de terem acesso às suas terras, os agricultores que têm oliveiras nessas zonas precisam de uma autorização do exército israelense pra colher suas azeitonas. Muitas famílias recebem autorizações de apenas dois ou três dias e são obrigadas a tentar a missão impossível de fazer um trabalho que geralmente leva de um a dois meses em poucos dias (claro que não conseguem colher todas as azeitonas e todo ano acabam perdendo uma parte da produção). Então os estrangeiros ajudam fornecendo mais braços e oferecendo uma pequena proteção contra as agressões dos colonos e soldados.

colheita5

Apesar dessa época de alegria ter virado sinônimo de sofrimento em vários lugares aqui, quero compartilhar com vocês hoje os momentos felizes que passei ajudando amigos a colher azeitonas.

colheita7
IMG_0726 copy
colheita8
colheita9
IMG_2907 copy
IMG_2908 copy
IMG_2896 copy

Descubram um pouco mais sobre a colheita de azeitonas na Palestina nesse artigo (do ano passado, mas infelizmente nada mudou). Fotos, informações e vídeos sobre a colheita desse ano aqui. E não deixem de ver as magníficas oliveiras de Gaza fotografadas por Anne aqui (as fotos foram feitas pouco antes do início do ataque israelense).

Tem uma fruta muito estranha no meio dessas azeitonas...
Tem uma fruta muito estranha no meio dessas azeitonas…

E no próximo post vou mostrar como as azeitonas se transformam em azeite. Aguardem.

13 comentários em “Colheita de azeitonas na Palestina

  1. … se não fossem as túnicas e lenços na cabeça das mulheres, diria que este cenário, e este elenco, eram portugueses :o)
    … Abraço desde cá… Obrigada e Força aí (que não estão em falta, não … Parabéns :o)

  2. Que fotos bonitas – transmitem a alegria das pessoas frente ao alimento, não lembrando o triste relato da ocupação.

    Espero sinceramente que o resultado da votação na Assembléia Geral da ONU as coisas mudem para melhor.

  3. Fotografias lindas Sandra 🙂 Acho que lembra um pouco a colheita das uvas e do milho por aqui, que para mim enquanto miúda, não representavam trabalho, mas sim convívio.
    Acho que estas tradições, (e possível fonte de rendimentos para muitos) não se podem perder, mesmo que os confrontos entre povos tentem afectar… E também é interessante ver que os estrangeiros também participam 🙂

  4. Obrigada pelo link, Fernanda. A matéria tem alguns erros, talvez intencionais (tem escrito, por exemplo: “O Brasil é contra os assentamentos por considerar que atrapalham as negociações de paz com os palestinos”, quando a verdade é que a construção de colônias -assentamento é um eufemismo- em território ocupado é ilegal segundo o DIREITO INTERNACIONAL)… Detesto ser estraga prazeres, mas acho que as pessoas têm o direito de saber a verdade, então lá vai. O Brasil apoia de várias maneiras a ocupação israelense na Palestina (leia esse relatório explicando as relações militares entre o Brasil e Israel:
    http://www.stopthewall.org/report-brazils-military-ties-israel-english-and-portuguese
    O link pro arquivo em Português está no final do artigo). Gestos como esse, vazios de significado, não vão levar a justça aos palestinos. Se o governo brasileiro quisesse realmente ficar do lado da justiça, não teria aceitado a entrada de Israel no Mercosul (pouca gente sabe desse absurdo, infelizmente). E se fazer justiça fosse mais importante do que fazer negócios, o governo brasileiro se recusaria a ter relações econômicas com Israel enquanto esse país continuar com o sistema de apartheid, violando o direito internacional, os direitos humanos dos palestinos e cometendo crimes de guerra eles. Mais uma vez agradeço o link e perdão se fui estraga prazeres, mas, como escrevi mais acima, acho que você tem o direito de saber a verdade.

    1. Marly, eu acho que o verdadeiro problema nao é a crueldade de alguns seres humanos (que existe em qualquer lugar do mundo, mas quando a justiça funciona, eles pagam pela sua crueldade), mas sim sistemas como esse (ocupaçao militar israelense) onde a crueldade nao somente é tolerada (incentivada, mesmo), sem que haja puniçao, como a propria organizacao do sistema faz com que até pessoas boas se transformem em monstros la dentro. E como tudo é feito em nome do sistema (“seguindo ordens”, como os soldados gostam de dizer aqui pra justificar todo tipo de crime) essas pessoas que voce chama de “seres humanos cruéis” voltam pra casa, encontram seus filhos, esposas ou maridos, e sao provavelmente otimos pais, filhos etc. sem, em nenhum momento, se considerar “cruél” ou achar injusto o que ele/ela fez durante o servico militar. O verdadeiro demonio é a ocupaçao israelense, nao os insraelenses que fazem parte dela.

Deixe uma resposta