Eu tenho uma pequena lista de assuntos sobre as quais eu gostaria de escrever. Aconteceu muita coisa nos últimos dias que me fizeram refletir e uma das razões que me levam a alimentar esse blog é ter um espaço pra compartilhar essas reflexões (minha pobre família já não aguenta mais minhas palestras cotidianas). Mas aí eu estava encarregada do fazer o almoço hoje e fiz algo tão gostoso que pensei que falar de qualquer outra coisa antes de compartilhar a receita seria um erro.
Continuar lendo “Creme de milho e cebola”Categoria: Pratos principais
…mas tem quiabo também
Na última vez que estive aqui, no final do ano passado, Fábio, um dos feirantes da CECAFES (Cooperativa Central de Comercialização da Agricultura Familiar de Economia Solidária, do lado da CEASA), que é onde minha irmã Lu compra frutas e verduras pra nossa família, nos contou que preparava quiabo no leite de coco. Dessas coisas lindas que acontecem quando você conhece as pessoas que vendem (no caso da CECAFES, que plantam) a comida que você come: trocamos dicas e receitas. Eu nunca tinha ouvido falar dessa maneira de preparar quiabo, mas como adoro esse vegetal, fiquei curiosa pra testar a versão dele. Acontece que eu gosto tanto de quiabo grelhado que sempre que tinha quiabo em casa eu grelhava o danado e acabei voltando pra França sem preparar o tal do quiabo no coco. Já Lu, mais aventureira em se tratando de quiabo, resolveu seguir a dica de Fábio e foi um sucesso absoluto com a minha família (todo mundo adora quiabo aqui).
Continuar lendo “…mas tem quiabo também”23 de outubro
Pensei em fazer um breve apurado da minha vida no momento, como eu costumava fazer quando esse blog era uma mistura de caderno de receitas e diário de bordo. Era gostoso conversar por aqui, mas acabei afastando o conteúdo pessoal desse espaço porque, aos poucos, minhas leitoras e leitores forma migrando pro Instagram, outras chegaram por lá e nunca vieram pro blog. E, apesar de reclamar regularmente sobre isso, acabei seguindo o movimento e aparecendo mais por lá do que por aqui. Grande erro. Então vim anunciar a volta daquela que não foi.
Continuar lendo “23 de outubro”Tagine de berinjela
Por causa do covid não pude visitar minha família no Brasil esse ano. Então esse verão (europeu) eu passei umas semanas na casa do meu sogro, no interior da França, junto com o resto da família francesa. Nessas ocasiões cozinho bastante, pois minhas cunhadas adoram minha comida. Os homens também gostam, mas as mulheres são as minhas maiores fãs (eu ouvi “A política sexual da carne”?). As irmãs de Anne (ambas vegetarianas) gostam de tudo que eu faço, mas minha cuncunhada alemã (que come animais, mas prefere, de longe, comer vegetais) tem seus pratos preferidos e espera o ano inteiro pra poder degustá-los. E a minha especialidade que ela mais ama e sempre pede pra eu fazer de novo é tagine.
Continuar lendo “Tagine de berinjela”A quiche que realmente era quiche
Eu tenho receitas de quiche deliciosas, que estão aqui no blog desde 2011. Tem uma de abobrinha e tomate seco e uma de cogumelo e sálvia e ambas fazem muito sucesso por onde passam. Mas veja, embora eu adore as duas, se eu for bem honesta elas são tortas salgadas, não quiches. A base do recheio delas é tofu, o que apesar de muito saboroso produz um resultado com textura bem diferente do que se espera de uma quiche. Isso é um problema? Nunca foi!
Continuar lendo “A quiche que realmente era quiche”Fiz uma campanha de financiamento coletivo – e cozinhei feijão
Outro dia uma moça me enviou uma mensagem pelo Instagram dizendo “Acompanho você desde os 11 anos, quando virei vegetariana. Estou com 21 anos agora e vegana há 5 anos.” Além da alegria proporcionada por esse momento Xuxa, me emocionei em saber que tem pessoas que acompanham meu trabalho há dez anos. Quanta honra!
Sim, esse blog completou 10 anos em fevereiro. Já contei como tudo começou?
Continuar lendo “Fiz uma campanha de financiamento coletivo – e cozinhei feijão”Fermente seu grãomelete
O texto poderia ter só essa frase, mas vou desenvolver a ideia, caso você precise ser convencida.
Lembram do meu grãomelete, o omelete à base de grão de bico? Lembram que fiz uma versão atualizada com farinha de grão de bico? Pois vim atualizar essa receita novamente e tenho ótimas razões pra isso.

Crepes de sarraceno
Umas semanas atrás escrevi esse post sobre sarraceno, uma das melhores descobertas gastronômicas que fiz na vida (obrigada, veganismo, por ter expandido tanto os meus horizontes gastronômicos) e prometi a receita dos meus famosos crepes de sarraceno. Vou começar dizendo que essa receita não foi uma invenção minha, longe disso. Crepe de sarraceno é um prato típico da Bretanha, região no Noroeste da França. Lá eles são chamados de “galettes au blé noir” (“galettes de trigo negro”, como o sarraceno também é conhecido em Francês) ou simplesmente “galettes Bretonnes”.
Continuar lendo “Crepes de sarraceno”Unidas por um prato de grão de bico
Três meses depois de ter me mudado pra Berlim, ainda não encontrei um lar permanente. Atualmente estou em um apartamento lindo, mas que alugamos por apenas algumas semanas, enquanto o proprietário curte as férias na Tailândia. Além das mudanças constantes dificultarem o desenvolvimento de uma rotina, indispensável pro meu bem estar e pro meu trabalho, essa instabilidade me faz sentir como se eu ainda não tivesse chegado de verdade. Parece que estou suspendida por algum fio invisível e só colocarei os pés no chão quando tiver um cantinho pra chamar de meu. Por isso ainda me parece que cheguei antes de ontem.
Continuar lendo “Unidas por um prato de grão de bico”Uma semana quase crua
Me mudei novamente exatamente uma semana atrás. O apartamento novo é lindo, luminoso, espaçoso, minimalista, numa área calma, com o pé direito alto, piso de madeira, varanda e fica a poucos metros de um parque. Tudo que eu procuro em um lar. Uma pena que é mais um lar temporário e só ficarei algumas semanas aqui. O único problema é que o fogão não funciona. O eletricista deveria ter consertado isso no dia seguinte, mas não consertou nada e estou há uma semana sem a possibilidade de cozinhar em casa.
Continuar lendo “Uma semana quase crua”A fórmula do mexidão RO
Uma das poucas coisas da minha época de onívora que ainda me fazia falta era a capacidade de improvisar uma refeição completa em poucos minutos, simplesmente quebrando um ovo em cima dos restos que eu achasse na geladeira. Não sei se vocês faziam isso, mas eu era uma enorme consumidora de ovos na minha existência pré-vegana.
Continuar lendo “A fórmula do mexidão RO”Agradecendo com risoto
Já faz mais de um mês que, passando por cima de um medo gigantesco, publiquei a carta que escrevi pro meu irmão aqui no blog e, imediatamente depois, desliguei o computador, apaguei as luzes e me escondi embaixo da coberta. Naquela noite tive febre e vários pesadelos. Acordei com o corpo moído, os olhos inchados e um vazio em algum lugar do meu corpo que não consegui identificar. Precisei de algumas horas pra ter coragem de entrar aqui. Li os comentários de vocês dentro do ônibus e à medida que meus olhos percorriam as palavras deixadas aqui eles se enchiam de lágrimas.
Continuar lendo “Agradecendo com risoto”E a minha vida nunca mais foi a mesma
Prometi receitas libanesas e uma hora elas chegarão por aqui. Mas por enquanto tenho me deliciado com a culinária local em restaurantes e na feira de produtores locais, onde uma cooperativa de mulheres sírias refugiadas oferece pratos tradicionais desse país. Ainda não cozinhei nada típico em casa porque estou aproveitando enquanto posso a oportunidade de comer quitutes preparados por mãos libanesas e sírias. Degusto tudo com atenção, provando cada tempero, cada erva, cada legume, pedindo explicações detalhadas e fazendo anotações. Acho que só vou cozinhar pratos típicos daqui quando eu for embora e a saudade começar a apertar.
Continuar lendo “E a minha vida nunca mais foi a mesma”Responda com uma dança interpretativa
Quando me mudei pra Londres, em Março, trabalhei por alguns meses em um café vegano/vegetariano. Nada indicava a ausência de carne no nome do café (Moveable Feast) e apesar de ter uma plaquinha do lado da entrada dizendo que aquele era um café vegetariano, quase ninguém se dava o trabalho de ler. Então apesar de boa parte dos clientes ser veg, muitos onívoros iam parar ali desavisados. Todo os dias aparecia gente pedindo um burrito de frango (eu cozinhava a parte de inspiração mexicana -e totalmente vegana- do menu), ou perguntando que tipo de carne nós servíamos. Continuar lendo “Responda com uma dança interpretativa”
Cada vez melhor
A vida está cada vez melhor por essas bandas. Faz dois meses e meio que me mudei pra Londres e só agora comecei a sentir a poeira da mudança baixar e ver uma certa rotina surgir. Já não aguentava mais carregar minha mala pelos metrôs londrinos. Felizmente acabei sendo acolhida por um grande amigo inglês da minha avó francesa (essa avó eu adotei quando era estudante universitária em Paris), que conheci 8 anos atrás, quando me ofereci pra traduzir pro Francês o livro que ele estava escrevendo. Andrew era pastor da igreja protestante e há décadas escreve um livro, em quadrinhos, pra explicar o que na opinião dele é a verdadeira mensagem de Jesus. Pra ele Jesus queria fazer uma revolução de classes e não estava nem um pouco interessado em religião. Adorei o projeto e aceitei traduzir parte dele. Quando me mudei pra Palestina abandonei a tradução por falta de tempo e hoje é a minha avó que cuida da versão francesa da obra de Andrew, que tem vários volumes.
Continuar lendo “Cada vez melhor”10 coisas muito boas que descobri na Itália
Uma das melhores partes de viajar é, pra mim, descobrir novos ingredientes e ver o que os nativos gostam de fazer com eles. Nem sempre os pratos tradicionais que descubro nas minhas andanças pelo mundo são 100% vegetais, mas eles podem me inspirar de várias maneiras. Porém em alguns lugares os nativos têm uma admirável intimidade com vegetais e fazem as coisas mais surpreendentes e deliciosas com eles. É o caso da Toscana. Na última vez que estive por lá, em outubro, descobri algumas coisas muito boas. Ingredientes, receitas tradicionais e uma tradição gastronômica que eu imagino que deve se repetir em muitos lugares do mundo, mas que eu descobri, e pude participar pela primeira vez, durante essa viagem.
Continuar lendo “10 coisas muito boas que descobri na Itália”Quando a saudade aperta
No último post eu disse que apesar de não ter planejado, acabei virando a rainha do makluba (veg). Meu relacionamento com ele começou em 2007, quando cheguei na Palestina. Descobri que era o prato nacional por ali e sempre que era convidada pra comer na casa de alguém, lá estava ele na mesa. Depois fui trabalhar no projeto de mulheres no campo de refugiados de Aida e aprendi, junto com os estrangeiros que participavam das aulas de culinária, a preparar o famoso prato. A versão tradicional é feita com frango, mas como muitos dos nossos ‘alunos’ eram vegetarianos/veganos, consegui convencer Islam (a coordenadora palestina do projeto e nossa cozinheira-mor) a preparar também uma versão 100% vegetal durante as aulas.
Continuar lendo “Quando a saudade aperta”A arte de reciclar restos
Já abriu a geladeira e encontrou vários restos de comida, mas nenhum em quantidade suficiente pra se transformar em uma refeição? Se isso nunca aconteceu na sua cozinha, provavelmente você é do tipo que joga restos de almoço e jantar fora (ou do tipo que nunca cozinha em casa). Pare com isso imediatamente! Aquilo que sobrou na panela não é o resto da sua última refeição, é o começo da próxima.
Continuar lendo “A arte de reciclar restos”Ensopado de alho-poró, tomate e feijão branco
Tive mais uma dessas semanas intensas, com emoções fortes, maratonas no trabalho e inúmeras coisas acontecendo ao mesmo tempo. Vi documentários extremamente interessantes sobre o controle dos EUA na América do Sul (vou colocar os links aqui porque acho que todos deveriam ver: “A revolução não será televisionada” e “The war on democracy“), me emocionei com o discurso de coming out de Ellen Page, quase tenho um infarto quando vi que Bolsonaro podia ser o novo presidente da Comissão dos Direitos Humanos, passei três dias cozinhando pra algum monge tibetano famoso (que eu não conhecia) e seus discípulos (30!), fiz uma oficina de culinária pra um grupo de dez pessoas e meia (uma das alunas tinha 3 anos) que terminou à meia noite, preparei dezenas de refeições no meu trabalho de ‘chef a domicílio’, almocei com um amigo português que acha o meu dialeto hilário (a recíproca é verdadeira:) …
Continuar lendo “Ensopado de alho-poró, tomate e feijão branco”Como ter uma alimentação vegana e orgânica sem gastar muito
Muitas luas atrás escrevi um post explicando porque NÃO é mais caro ser vegetariano/vegano. No texto chamei a atenção pro fato das pessoas que acusam o vegetarianismo de ser uma opção mais cara confundirem comida vegetariana com comida orgânica e compararem coisas que não são comparáveis. Explico. Não faz sentido comparar o custo da alimentação de um onívoro que compra verduras não-orgânicas e escolhe sempre as marcas mais baratas no supermercado com o custo da alimentação de um vegano que compra verduras orgânicas e marcas especiais em lojas de produtos naturais. Na época em que eu fazia pesquisas na faculdade aprendi que pra comparar duas coisas temos que ter apenas uma variante. Na comparação que descrevi acima, que é o que a maioria das pessoa faz, tem duas variantes:
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