Não publico muitas receitas de entradas (saladas ou sopas) porque no dia a dia prefiro preparar pratos completos. É mais prático, rápido e suja menos louça. Só faço saladas leves pra acompanhar pratos mais pesados, como minha lasanha preferida ou gratin dauphinois, e essas saladas são tão simples que não são exatamente uma receita. Geralmente rasgo uma grande quantidade de alface ou outra folha, tempero com azeite e um pouquinho de vinagre e pronto. Nem sal eu coloco. Mas hoje vez fiz uma saladinha bem fresquinha (não no sentido literal) e ficou tão boa que resolvi fazer uma exceção.
Continuar lendo “Resolvi fazer uma exceção”Autor: papacapim
A polenta e os gatos
Quando eu era criança Lila, minha irmã mais velha, gostava de fazer quarenta pra gente jantar. Quarenta é um prato à base de fubá, mas diferente do cuscuz que costumamos comer no Nordeste. O cuscuz é cozinhado no vapor, enquanto que quarenta é feito misturando o fubá com água e cozinhando em uma panela, mexendo sempre. Depois de cozido, Lila despejava a mistura em uma forma de bolo, daquelas com um furo no meio, e deixava amornar. Então era só desenformar e degustar fatias grossas do quarenta. Nunca vi ninguém preparar esse prato fora da minha família e depois que minha irmã saiu de casa* nunca mais comi quarenta. Ele virou uma memória empoeirada na gaveta dos sabores que fizeram parte minha infância (junto com, entre outros, uma fruta do sertão chamada “pêlo” que só comi uma vez quando tinha uns oito anos e desde então nunca mais vi). Até o dia que descobri polenta.
Continuar lendo “A polenta e os gatos”Fibras: porque comer e onde encontrar
Eu não sei vocês, mas muitos dos meus parentes e amigos têm prisão de ventre. Outro dia eu estava conversando com minha amiga Samira, que sofre de prisão de ventre crônica, tentando convencê-la a comer mais fibras. Ela respondeu que não tem jeito, ela prefere arroz e pão branco. Eu já tive conversas desse tipo várias vezes. Muita gente acredita que a única maneira de aumentar a quantidade de fibras de dieta é consumindo cereais integrais e produtos (industrializados) feitos com cereais integrais. Por isso há tempos que venho ruminado esse post, pra ajudar as pessoas a entender melhor de onde vem as fibras e como se livrar da danada da prisão de ventre. Mas comecemos pelo começo. Continuar lendo “Fibras: porque comer e onde encontrar”
Tudo sobre missô

Naquele post onde expliquei a anatomia de uma salada, algumas pessoas comentaram que não têm intimidade nenhuma com missô. Acho esse um ingrediente tão interessante e versátil que preciso dividir o pouco que sei com vocês.
Missô (ou miso) é uma pasta naturalmente fermentada, feita a partir de grãos de soja cozinhados, sal e às vezes cevada. Embora seja produzido/consumido em diversos lugares da Ásia, o missô mais comum (e famoso) é o japonês. A conscistencia pode ser lisa ou granulada e a cor varia de amerelo claro até marrom escuro. Missô pode ter um sabor suave e pouco salgado ou forte e muito salgado. Ele é interessante do ponto de vista nutricional, pois tem proteínas completas, vitaminas e bactérias do bem que protegem a flora intestinal e facilitam a digestão (como toda comida naturalmente fermentada). Mas o que mais me interessa no missô é o seu intenso sabor que realça qualquer prato, graças à alta concentração de substâncias umami. Se você não conhece o quinto gosto, chamado de umami, é só clicar aqui. Eu espero.
Continuar lendo “Tudo sobre missô”Duas semanas
Durante meus anos de universitária em Paris eu levava uma vida tão corrida que ao escutar o despertador tocar de manhã eu só desejava uma coisa: mandar a faculdade e o trabalho sem graça pras cucuias, me mudar pra um sítio em algum lugar remoto e passar o resto dos meus dias criando galinhas. Essa vontade estranha de criar galinhas não durou muito, mas o sentimento de estar vivendo a vida errada e querer mudar radicalmente de vida me acompanhou durante bastante tempo. Continuar lendo “Duas semanas”
Leguminosas e as suas vantagens
Meu amor por feijão já foi declarado nos quatro cantos desse blog. Ele entra na lista das minhas cinco comidas preferidas e sempre me traz reconforto, o que só entende quem mora longe das terras tupiniquins há muitos anos. Mas além do sabor, que adoro, o que me atrai nos feijões e leguminosas em geral é o valor nutricional desse grupo de alimentos. Alguns dias atrás uma leitora (oi, Fernanda!) deixou um comentário interessante em um post onde eu dizia que feijão é pra mim o melhor substituto da carne. Ela escreveu: “Ano passado eu assisti à uma palestra do Dr Eric (Slywitch) no Ibirapuera onde ele mostrou, por uma série de estudos e gráficos, que o melhor substituto para carne realmente são os feijões, especialmente por suas qualidades/quantidades de proteínas biodisponíveis e ferro.” O Dr Slywitch é responsável por boa parte dos meus conhecimentos em nutrição vegana (se um dia eu tiver a honra de encontrá-lo pessoalmente preciso cozinhar um jantar pra ele como forma de agradecimento) e ele confirmou o que eu já tinha descoberto de maneira intuitiva.
Continuar lendo “Leguminosas e as suas vantagens”Mais do mesmo
Vocês pediram e aqui vai mais uma receita de salada-refeição. Acredito que salada é o tipo de prato que não precisa de receita. A gente vai misturando os ingredientes que encontramos na geladeira e o resultado, mesmo se às vezes não é nada espetacular, é sempre satisfatório. Decidi publicar mais uma das minhas saladas-refeição simplesmente pra servir de inspiração e pra mostrar, mais uma vez, como usar a fórmula que dei duas semanas atrás. Dessa vez fiz uma porção dupla, pois preparei esse prato em um dos raros dias em que tenho companhia pro almoço.
Continuar lendo “Mais do mesmo”Histórias palestinas: Mustafa e Mohamad Alafandi

Alguns leitores pediram pra eu falar mais sobre a minha vida aqui na Palestina, mas sempre fico receosa quando se trata de misturar comida vegetal e conflito no Oriente Médio. Como abordar a questão sem causar indigestão nos meus leitores? Decidi então mudar o foco: ao invés de falar sobre minha experiência aqui ou o que aprendi sobre o conflito, prefiro escrever uma série de posts contando a história de alguns palestinos. Estatísticas, acordos, convenções, relatórios, nada disso traduz o que significa viver nos territórios palestinos ocupados. Mas talvez se eu apresentar pra vocês alguns dos meus amigos mais próximos, vocês terão uma ideia mais precisa da situação atual nessa terra tão castigada, mas, ao mesmo tempo, tão cativante.
Continuar lendo “Histórias palestinas: Mustafa e Mohamad Alafandi”Legumes do mar
Muito obrigada pelos comentários sobre o meu último post. Se depender de mim o Papacapim vai comemorar muitos outros aniversários. Alguns de vocês sugeriram que eu falasse mais sobre minha vida aqui na Palestina (pretendo fazer isso em breve) e uma leitora (opa, Yoko!) teve uma ótima ideia: escrever um post sobre restaurantes veganos aí no Brasil e pedir que os leitores dividam seus endereços preferidos. Pretendo escrever sobre isso na minha próxima viagem ao Brasil (em breve), mas se eu esquecer, por favor, me cutuquem novamente.
Continuar lendo “Legumes do mar”Dois anos
Nem parece, mas já faz dois anos que o Papacapim existe. O blog foi criado em fevereiro de 2010, mas passei meses desenvolvendo o conteúdo das páginas antes de torná-lo público. Só avisei os amigos da existência dele no mês de maio. Então decidi comemorar o aniversário do blog em abril, pra coisa ficar ainda mais bagunçada. Organização nunca foi o meu forte e lembrar datas de aniversário menos ainda.
Pra comemorar a ocasião preparei uma lista com os melhores posts Papacapim de todos os tempos. Dividi em categorias, pois, se no início minha intensão era criar um blog de culinária vegetal, com o passar do tempo ele foi evoluindo e passei a incluir temas mais variados, como nutrição vegana, viagens, dicas práticas e até minha vida pessoal, que aparece cada vez mais frequentemente por aqui.
Continuar lendo “Dois anos”Essa também tem suas vantagens
O entusiasmo causado pelo meu último post me surpreendeu. Eu não imaginava que tanta gente por aqui se interessava por saladas completas. As cutucadas que recebi nos comentários foram as seguintes:
Continuar lendo “Essa também tem suas vantagens”Anatomia de uma salada
No post inaugural do blog falei que tenho uma certa raiva de saladas. Na verdade salada é uma das coisas que mais adoro comer, mas as saladas que preparo em casa não têm nada a ver com as misturas anêmicas que alguns restaurantes oferecem como consolo aos veganos. Uma salada bem preparada e arquitetada pode ser deliciosa, nutritiva e servir de refeição. O segredo é misturar ingredientes de categorias diferentes, formando um prato completo. As vantagens são inúmeras. Uma salada-refeição é capaz de alimentar sem deixar aquele peso no estômago, pode ser preparada em menos tempo que um prato quente e ainda pode ser transportada sem problemas (amigos procurando ideias de marmita*, venham por aqui). Além, claro, de aumentar consideravelmente a quantidade de fibras da sua dieta. Se você gostaria de comer mais verduras (e garanto que você deveria), trocar seu almoço convencional por uma salada-refeição algumas vezes por semana é uma maneira prática e eficiente de atingir esse objetivo.
Continuar lendo “Anatomia de uma salada”Visita
Alguns dias atrás falei que estava com visita brasileira aqui em casa. Cibele, a leitora do blog que virou minha amiga (na verdade amiga da família toda) e que foi me visitar em Natal ano passado, está passando uns dias de férias aqui conosco. Eu estou me esforçando pra mostrar à moça as delícias veganas da culinária local como ful (pasta de feijão), hummus, tomate cozido com cebola, falafel, mutabal e mudjadara.
Continuar lendo “Visita”Tudo sobre chocolate
No último post falei que estava com visita brasileira aqui em casa. Minha visita é muito generosa e trouxe metade da mala com presentes, a maioria comestíveis. No meio dos presentes tinha chocolate da marca “Chokolah“, que eu não conhecia. Ganhamos duas barras, uma de chocolate puro e outra com castanhas, ambas com 62% de cacau. Achei o chocolate tão bom que decidi comentar aqui no blog, pois sei o quanto é difícil achar chocolate de qualidade e vegano no Brasil. Resolvi aproveitar o ensejo pra falar um pouco sobre esse manjar dos deuses que (quase) todo mundo adora, mas que nem todo mundo parece conhecer bem.
Continuar lendo “Tudo sobre chocolate”Aloo masala
Esse post vai ser breve, pois estou com visita do Brasil aqui em casa (mais detalhes em breve).
Continuar lendo “Aloo masala”Cozinhas
Eu tenho um carinho todo especial por cozinhas. Na minha família a cozinha sempre foi o coração da casa. Todas as conversas, das mais triviais às mais importantes, aconteciam na cozinha, ao redor da mesa de mármore preto. O mármore foi comprado pra servir de lápide pra minha avó paterna, mas acabou não sendo usado e se transformou no tampo da nossa mesa. Quando escutei essa história passei a ter medo da mesa e evitei ficar sozinha na cozinha durante meses. Mas, além da minha pequena pessoa, ninguém parecia achar aquilo mórbido e o local de reunião preferido de todos continua sendo a cozinha. Alguns até afirmam que a conversa é mais gostosa se os pratos da refeição anterior não forem retirados. Melhor ainda se tiver alguns farelos sobre a mesa pra entreter os dedos enquanto a boca trabalha. Reuniões de família pra discutir assuntos importantes? Anúncio de divórcio ou reconciliação? Aviso de viagem de três meses (que já passou dos dez anos) ao exterior? Tudo acontece na cozinha.
Continuar lendo “Cozinhas”Sobre o livro (e um molho)
Eu bem que tentei. Passei semanas sentada na frente do computador, bebendo dois litros de chá e um de café por dia, e só parava de encarar a tela quando sentia que meus olhos tinham deixado as órbitas e se instalado confortavelmente na ponta do meu nariz. Enfrentei problemas de logística climática e geográfica, que eu tinha ingenuamente ignorado, e problemas com minha máquina fotográfica, que está defeituosa desde que voltei do Brasil em dezembro. Depois de dar muitas voltas na cozinha, enquanto preparava a décima caneca de chá do dia, tive que me render às evidências: eu não conseguiria terminar meu livro em abril. E nem adiantava acionar o plano B, que era ascender velas na igreja da Natividade, atravessar a praça e dar uma rezadinha na mesquita que fica do outro lado, só pra garantir (acho prudente me pegar com os santos e deuses locais, mesmo não sendo nem cristã nem muçulmana). Então escrevi pra minha editora no Rio, que está grávida de seis meses e realmente não precisava de mais preocupação ou contrariedade, e disse:
Continuar lendo “Sobre o livro (e um molho)”O que fazer com restos de arroz
Além de não ser fã de macarrão, eu não gosto muito de arroz. Nem de batata, caso estejam interessados em saber. Meu desgosto por carboidratos brancos é geral e a razão não é, como alguns podem imaginar, porque eles são pobres do ponto de vista nutricional, mas sim porque são pobres do ponto de vista gustativo (na minha opinião). Mas a outra residente da casa adora arroz (e macarrão e batata), então sou obrigada a cozinhá-lo de vez em quando. Como só ela come, acaba sempre sobrando um pouco. No dia seguinte me deparo com aquele resto de arroz que não é suficiente pra duas porções, mas que precisa ser consumido. Pra resolver o problema faço salada de arroz (misturando com legumes crus e temperando com azeite e vinagre balsâmico), mas se o tempo estiver frio uso uma das duas receitas abaixo. O que mais gosto nessas receitas, além da praticidade e grande capacidade de adaptação, é que no final tem mais legumes do que arroz. Elas não pertencem à grande gastronomia, mas fazem parte de um grupo ainda mais bacana: o das receitas improvisadas, que limpam os restos da geladeira e transformam legumes solitários em uma refeição gostosa.
Continuar lendo “O que fazer com restos de arroz”Um agrado coberto com chocolate
Muito obrigada por todos os comentários que vocês deixaram no post sobre o meu trabalho no campo de refugiados de Aida. Gostaria de retribuir tanta gentileza, então pensei em fazer um agrado aos meus leitores. Um agrado coberto com chocolate.
Essa receita acabou de entrar na minha vida, mas tenho certeza que ela veio pra ficar. Em algumas lojas daqui é possível encontrar passas cobertas com chocolate (grãos de café torrado também), mas nunca dei atenção, pois o chocolate da cobertura é ao leite. Porém eu sei que passas com chocolate é uma combinação muito boa. Sempre que viajo preparo um saquinho com passas, amêndoas e avelãs e uns quadradinhos de chocolate amargo pra comer no caminho. A mistura, além de deliciosa, sacia minha vontade de comer uma coisinha doce, mas nutritiva, capaz de distrair meu estômago até a próxima refeição. Uma receita de passas cobertas com chocolate vista na internet semana passada era o que faltava pra me dar vontade de misturar os ingredientes do meu lanchinho de aeroporto e fazer uma versão melhorada das passas chocolatadas vendidas aqui. E agora não posso mais viver sem elas.
Continuar lendo “Um agrado coberto com chocolate”Meu trabalho no campo de refugiados
Acredito que os leitores do blog, pelo menos os que leram a página “sobre”, sabem que trabalho em um campo de refugiados aqui em Belém. Quando escrevi o texto “Só pela subversão” eu quebrei uma promessa que fiz a mim mesma: manter o Papacapim apolítico e não misturar ocupação militar e comida pra evitar indigestão. Mas quem eu estava tentando enganar? Comer é um ato político. A maneira como me alimento e as receitas desse blog são motivada por razões políticas (e éticas). Faz quatro anos que sou ativista pelos direitos humanos e animais em tempo integral e política ocupa a minha mente na maior parte do meu tempo acordada (dormindo também). O conteúdo desse blog é fortemente influenciado pelas minhas opiniões e princípios, logo o Papacapim é fundamentalmente político. Por isso decidi mostrar hoje uma parte da minha vida que até então ficou de fora do blog.
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