A vinaigrette de Céline

Menos de dois meses em Paris e a vontade de escapar dessa selva de pedra e respirar um ar mais puro já estava batendo no teto. Felizmente a poucas horas de trem daqui fica o vilarejo do meu sogro, no interior da França. A região é verde, cheia de bosques e vulcões adormecidos e a casa dele tem um jardim lindo de 1ha, além de dispor de uma lareira na sala. Eu brinco que a casa dele é um resort de luxo pra mim e ele responde que eu posso visitar o resort dele sempre que quiser.

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A pessoa mais popular do churrasco

Viagens são sempre um desafio pra quem quer se alimentar bem, ainda mais se você for vegano(a). Tento comer frutas e vegetais frescos durante minhas viagens, mas nem sempre é possível e muitas vezes passo dias e dias comendo pão com hummus, porque são as únicas opções vegetais disponíveis. Apesar de ter degustado alguns pratos deliciosos durante minha última viagem pra Paris, quando voltei pra casa só conseguia pensar em sopa. Muita, muita sopa. Então fiz um sopão com os vegetais que consegui encontrar naquele dia, mais lentilhas verdes, e criei exatamente o tipo de prato que o meu corpo pede pra voltar a se sentir bem. Mas, como a foto acima indica, esse posto não é sobre sopa.

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Pesto de verdade

Por alguma razão misteriosa (eu culpo as forças ocultas), até algumas semanas atrás eu nunca tinha feito pesto de verdade. Adoro meu molho de majericão com amêndoas, que já apareceu aqui no blog acompanhando meus nhoques, mas ele não é pesto. Um dia li um longo artigo sobre a arte de fazer pesto, picando tudo com uma faca grande (ou, melhor ainda, com uma mezzaluna) e pensei “Sou tão feliz com meus pesto cremoso falsificado, então por que me dar todo esse trabalho?”. Até que durante as férias na França uma vontade aguda de pesto me invadiu e como não tinha nenhum liquidificador por perto fui forçada a usar o método tradicional manual. Ô dia feliz!

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Geleia natural de morango e chia

geleia morango chia

Esse mês pretendo tratar da questão do açúcar na alimentação, mas antes de dividir com vocês todas as informações que juntei nos últimos anos (preparem-se que o negócio é pesado), achei que seria interessante publicar uma ou outra receita doce sem açúcar por aqui.

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Como secar ervas aromáticas

Em sentido horário, começando por baixo: camomila, alecrim, sálvia, verbena e tomilho. Tudo desidratado na minha cozinha.

Talvez algumas pessoas não saibam, mas é muito fácil secar ervas aromáticas e medicinais em casa. Tenho potinhos de alecrim e manjericão no pátio e a vizinha cultiva algumas ervas medicinais no jardim que divide conosco. Além disso, o mercado de Belém, com toda a sua abundância de sálvia e tomilho, entre outras ervas, fica pertinho de casa e vez ou outra trago lindos buquês verdes de lá. Aqui na Palestina a bebida tradicional é uma mistura de chá preto e sálvia (às vezes chá preto e hortelã), por isso os buquês vendidos na feira são bem grandes. Por mais que eu adore ervas frescas, às vezes minha cozinha fica inundada de ervas (buquês comprados na feira, presentes da vizinha, ramos das minhas plantinhas que precisaram ser podados…) e é impossível usar aquilo tudo nas minhas receitas antes que elas apodreçam na geladeira. A solução é transformá-las em ervas secas, pois assim elas se conservam por muito mais tempo.

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Geleia natural de ameixa

Muitas luas atrás, uma leitora deixou um comentário perguntando se eu tinha alguma receita legal de geleia, pois todas as receitas que ela encontrava tinham quilos e quilos de açúcar. Respondi que não, mas fiz uma pequena anotação mental: criar uma receita de geleia sem açúcar. Eu gosto pouco de geleia e Anne não gosta nada, então levou muito tempo pra ideia sair da cabeça e entrar na panela.

Assim que voltei das férias me deparei com uma quantidade e variedade imensa de frutas na feira de Belém. Nessa época do ano as barracas se enchem com as minhas frutas preferidas: manga, pêssego, ameixa… E como as famílias palestinas são grandes, os feirantes têm costume de vender tudo em grandes quantidades, o que é sempre mais barato. Aqui tem até uma medida de peso equivalente à 3kg, o “raatel”. Assim que comecei a fazer minhas compras na feira ficava totalmente perdida. Eu perguntava quanto era o quilo da uva, por exemplo, e eles respondiam “10 NIS o raatel”. Eu colocava uns cachinhos na sacola, pagava um preço diferente do que o feirante tinha dito (claro, já que eu nunca comprava 3kg de uma vez) e saía sem entender nada. Mas hoje aproveito quando é época dos meus vegetais preferidos e sempre compro em raatel, pois, como disse, fica bem mais em conta.

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Meu pai e as pimentas

Venho de uma família de grandes apreciadores de pimenta. Eu gosto muito, meus irmãos adoram e até minha sobrinha de 12 anos é fã. Mas ninguém aqui gosta mais de comida ardida do que meu pai. Ele gosta de cozinhar, bem mais do que minha mãe, e de vez em quando prepara condimentos apimentados pra incrementar suas refeições. Quando cheguei aqui, algumas semanas atrás, tive a sorte de provar sua última invenção: um molho de pimenta bem temperado, muito perfumado e ardido na medida certa. Sei que pimenta não é algo que agrada muita gente, mas se você gostar da coisa, essa receita é uma verdadeira pérola!

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Como fermentar legumes

Repolho fermentado

Temos cerca de dez vezes mais bactérias no intestino do que células no corpo.  Isso significa que passeamos pelo mundo com cem trilhões de bactérias dentro da barriga (um verdadeiro universo paralelo!) e devemos cuidar muito bem do nosso zoológico interior. Boa parte da nossa saúde depende da saúde de nossa flora intestinal (faria muito mais sentido charmar de “fauna intestinal”, não?). Por isso devemos cuidar das nossas bactérias ingerindo alimentos que as fortalecem. Comida boa pra nossa fauna intestinal é comida fermentada, que traz uma enxurrada de amiguinhas pra nossa população de bactérias (não se preocupe, ainda cabe mais aí dentro).

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Tudo sobre missô

Molho de cenoura e gengibre, sobre repolho roxo, broto de soja e pepino (mais couve-flor assada e quinoa).

Naquele post onde expliquei a anatomia de uma salada, algumas pessoas comentaram que não têm intimidade nenhuma com missô.  Acho esse um ingrediente tão interessante e versátil que preciso dividir o pouco que sei com vocês.

Missô (ou miso) é uma pasta naturalmente fermentada, feita a partir de grãos de soja cozinhados, sal e às vezes cevada. Embora seja produzido/consumido em diversos lugares da Ásia, o missô mais comum (e famoso) é o japonês. A conscistencia pode ser lisa ou granulada e a cor varia de amerelo claro até marrom escuro. Missô pode ter um sabor suave e pouco salgado ou forte e muito salgado. Ele é interessante do ponto de vista nutricional, pois tem proteínas completas, vitaminas e bactérias do bem que protegem a flora intestinal e facilitam a digestão (como toda comida naturalmente fermentada).  Mas o que mais me interessa no missô é o seu intenso sabor que realça qualquer prato, graças à alta concentração de substâncias umami. Se você não conhece o quinto gosto, chamado de umami, é só clicar aqui. Eu espero.

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Sobre o livro (e um molho)

Mojo

Eu bem que tentei. Passei semanas sentada na frente do computador, bebendo dois litros de chá e um de café por dia, e só parava de encarar a tela quando sentia que meus olhos tinham deixado as órbitas e se instalado confortavelmente na ponta do meu nariz. Enfrentei problemas de logística climática e geográfica, que eu tinha ingenuamente ignorado, e problemas com minha máquina fotográfica, que está defeituosa desde que voltei do Brasil em dezembro. Depois de dar muitas voltas na cozinha, enquanto preparava a décima caneca de chá do dia, tive que me render às evidências: eu não conseguiria terminar meu livro em abril. E nem adiantava acionar o plano B, que era ascender velas na igreja da Natividade, atravessar a praça e dar uma rezadinha na mesquita que fica do outro lado, só pra garantir (acho prudente me pegar com os santos e deuses locais, mesmo não sendo nem cristã nem muçulmana). Então escrevi pra minha editora no Rio, que está grávida de seis meses e realmente não precisava de mais preocupação ou contrariedade, e disse:

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Parmepão

Os posts sobre cosméticos deram o que falar! Muito obrigada pelas dicas deixadas nos comentários. Essa troca de conhecimentos é uma das coisas que mais aprecio aqui no blog. Também gostaria de agradecer a Lia, que chamou minha atenção pra algumas informações erradas na parte do texto sobre os gânglios linfáticos (isso que dá escrever sobre um assunto que não domino, mas já corrigi), e a Simone, uma dentista que generosamente compartilhou um pouco de sua experiência conosco. Seguindo os conselhos de Simone, estou usando sempre a escova sozinha pra limpar os dentes (às vezes com uma gotinha do óleo essencial de hortelã) e na última escovação do dia, depois de passar o fio dental e a escova sozinha, espalho delicadamente um pouco do pó dental pra complementar a limpeza. Assim diminuo o risco de desgastar o esmalte dos dentes e aproveito os benefícios do pó dental (dentes mais claros, menos bactérias na boca e ph da saliva balanceado).

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Verdoso, mas gostoso

Pesto de coentro e pistache

Aqui na Palestina o pessoal não é muito chegado a coentro. Eles colocam salsinha em todas as saladas, usam hortelã e sálvia no chá e temperam vários pratos com tomilho. Tem até um condimento típico que eles adoram chamado za’tar, uma mistura de tomilho seco e gergelim, que eles gostam de misturar com azeite e comer com pão. Mas coentro? Eles usam a semente em pó, mas nunca a erva fresca. Pelo menos nunca vi minhas amigas palestinas cozinhando com coentro e nem sequer vendem coentro na feira.

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Sal com salsão

Faz um certo tempo que venho pensando em criar uma nova categoria de receitas aqui no blog. O sucesso de um prato, na minha opinião, depende em 90% da qualidade dos ingredientes utilizados, mas o tempero é responsável pelos 10% restantes. A qualidade dos produtos utilizados em uma receita não depende do cozinheiro, mas é na hora de acertar o tempero que o talento do chef brilha (ou não). Usar a erva ou a especiaria certa, escolher um condimento ou molho que case perfeitamente e realce o prato faz toda a diferença, principalmente quando você não dispõe de ingredientes de primeira.

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