Pequeno guia do macarrão perfeito

Espaguete com abobrinha grelhada, espinafre e alho

Graças ao amor incondicional que Anne tem por macarrão, pude criar infinitas receitas de massas. Já que sou obrigada a comer macarrão pelo menos uma vez por semana, procuro criar pratos que me agradem, acrescentando sempre uma dose generosa de legumes. O bom de comer algo que não gosto muito é que sou extremamente exigente com essas receitas e acabei me tornando uma expert em macarrão, o que nem de longe eu sonhava em ser antes de Anne entrar na minha vida. Sabe como é, quando a gente adora um tipo de comida qualquer versão dela (bem preparada ou não) agrada. Eu sou louca por sopa e, independente do que coloco na panela, dificilmente acho o resultado final ruim. Sopa pra mim é uma delícia de qualquer jeito. Já macarrão, que raramente sinto vontade de comer, precisa ser muito, muito bom pra me empolgar.

Pensando nisso resolvi dividir com vocês algumas dicas pra preparar macarrão capaz de empolgar até quem torce o nariz pra ele. Sei que todo mundo sabe como cozinhar esse cereal e ele é um dos primeiros pratos que aprendemos a preparar (em alguns casos, o único). Mas vi tanto macarrão sendo massacrado por aí que achei que algumas dicas seriam mais que úteis. Lá vai:

-Os italianos costumam dizer que fora da Itália cozinhamos o macarrão demais e salgamos a água do cozimento de menos. Pra cozinhar o macarrão nas regras da arte, leve uma grande quantidade de água ao fogo e quando começar a ferver junte uma dose generosa de sal (se você acrescentar o sal no início, a água demorará mais pra ferver). O que significa “uma dose generosa de sal”? Na Itália é costume dizer que a água onde cozinhamos o macarrão deve ser tão salgada quanto o mar Mediterrâneo. Nunca deixo minha água tão salgada quanto o mar, pois tenho pena de estruir tanto sal (afinal aquela água toda vai embora pela pia depois que escorremos o macarrão), mas chego perto. Prove um pouco da água e se não estiver quase tão salgada quanto o mar, junte mais sal.

– Cozinhe o macarrão al dente. Isso significa que ele deve ficar macio, mas ainda ligeiramente firme. Não precisa ter medo de comer macarrão cru no jantar. Durante o processo de escorrer a massa, misturar com o molho (que também deve estar quente) e servir, ela continua cozinhando e quando você começar a comer estará perfeitamente cozida. Pode confiar. Se, ao contrário, você esperar o macarrão cozinhar totalmente antes de escorrer, ele vai acabar passando do ponto. E nada menos apetitoso do que papa de macarrão.

– Antes de escorrer a massa, retire uma xícara da água do cozimento e reserve. Essa água, rica em amido, ajuda o molho a “colar” na massa e também serve pra afinar um molho que ficou espesso demais. Nem sempre uso a água reservada, mas às vezes ela é extremamente útil (principalmente quando uso molhos à base de creme).

– Outra regra de ouro: sempre prepare o molho antes de cozinhar o macarrão. O molho pode esperar (e ser requentado sem problemas), já o macarrão, não. A exceção aqui é macarrão ao alho e óleo, já que o molho fica pronto em segundos e não pode ser requentado.

– A única maneira de fazer com que sua massa não grude é escorrer o macarrão e misturá-lo imediatamente ao molho. Mais uma razão pra fazer o molho antes de cozinhar a massa. Esqueça essa história de colocar óleo na água do cozimento e nem pense em “enxaguar” seu macarrão depois de cozido (além de esfriar o macarrão, o enxague retira o amido que envolve a massa e o molho não vai aderir).

– Cada forma de macarrão casa melhor com um certo tipo de molho, mas acho que é importante levar em consideração suas preferências. Aqui em casa gostamos de usar espaguete com molhos de tomate leves e com legumes ao azeite (como a receita de hoje). Usamos massas longas e chatas, como fettuccini e linguini, com molhos à base de creme e molhos brancos. Já massas curtas, como pene, parafuso e concha, ficam ótimas em saladas frias e em gratinados. Mas se suas preferências são diferentes, siga seu instinto. Minha dica aqui é: esqueça os manuais e escolha a massa que preferir. O mais bacana de fazer a própria comida é que podemos deixa-la exatamente do jeitinho que a gente gosta e garanto que a polícia do macarrão não vai bater na sua porta se você servir espaguete com molho branco.

– Mais uma dica que vai contra a tradição. Sabe como os italianos vivem dizendo que nós (os não italianos) colocamos molho demais no macarrão? É verdade e eu serei a primeira a concordar que isso estraga um pouco o prato. Pra mim três fios de macarrão nadando em uma piscina de molho está mais pra sopa do que outra coisa. Porém macarrão é algo tão pobre em nutrientes (a composição da maioria das massas secas vendidas em supermercados é farinha de trigo e água, ou seja, carboidrato com pouca proteína e praticamente nenhuma vitamina nem mineral) que acho importante juntar uma quantidade boa de ingredientes nutritivos. Não precisa afogar sua massa no molho, mas não tenha medo de carregar nos legumes, leguminosas e ervas. Sua saúde e suas papilas vão agradecer.

– Nem só de parmesão vive o macarrão. Se você é vegano e está a procura de um substituto vegetal saboroso pra esse queijo, ou se você é onívoro/vegetariano, mas gostaria de ampliar seus horizontes em matéria de cobertura pra massas, experimente meu mix de sementes ou meu parmepão. Outra maneira simples e de aumentar o sabor e os nutrientes da sua massa é polvilhá-la com castanhas do Pará raladas.

– E já que estamos falando de ingredientes pra “finalizar” o macarrão pronto, pimenta do reino moída na hora e sal marinho (de preferência em flocos) polvilhados diretamente sobre o prato, no momento de servir, fazem uma imensa diferença no produto final. Pimenta do reino em pó perde seu aroma rapidamente e se você ainda não tem um moinho de pimenta, corra e compre um. E se você tem um azeite extra virgem especial (aquela garrafinha que custou uma fortuna), um fio sobre o prato pronto realçará bastante o sabor de suas massas (com uma exceção: molhos brancos cremosos não precisam da dose extra de azeite).

Agora passemos à receita de hoje. Esse espaguete com abobrinha e espinafre foi a minha adaptação de uma ideia simples que Anne teve outro dia. Lembram que passei duas semanas com o pé enfaixado, com o tendão de Aquiles do pé direito inflamado? Anne acabou preparando vários jantares durante minha convalescência e um deles foi macarrão com abobrinha. Confesso que quando ela anunciou o menu desconfiei que aquilo não ia ser muito bom, mas pra minha surpresa o prato era uma delícia. Desde então preparei esse espaguete várias vezes, mas não pude resistir à tentação de fazer algumas melhoras. Como a criadora do prato aprovou a minha versão, e que esse blog tem poucos pratos com massa, fiquei com vontade de publicar a receita aqui.

Imaginem que um espaguete no alho e óleo se juntou com abobrinhas grelhadas e espinafre cozido. O prato é suculento, perfumado e extremamente saboroso. Eu, que nunca gostei de macarrão no azeite e exigia sempre molho de tomate ou molho branco cremoso na minha massa, estou encantada com essa receita.

Espaguete com abobrinha grelhada, espinafre e alho

Cozinho os legumes na mesma frigideira, em etapas, por isso é importante usar a maior e mais funda que você tiver. Pra transformar essa receita em um prato completo, junte 1x de grão de bico cozinhado (escorrido e temperado com sal) aos legumes antes de acrescentar o macarrão. Também gosto de polvilhar esse prato com castanhas do Pará raladas: fica ainda mais gostoso e nutritivo.

2 abobrinhas pequenas (aproximadamente 5x depois de cortadas)

200g de espinafre

4-8 dentes de alho (de acordo com o seu gosto)

200g de espaguete cru

Azeite, sal e pimenta do reino

Prepare os legumes. Lave as abobrinhas e corte cada uma ao meio, no sentido do comprimento. Em seguida corte cada metade em fatias finas, criando meia luas.  Corte o alho em fatias finíssimas. A quantidade vai depender do seu gosto, mas acho que quanto mais alho você usar, mais saboroso ficará o prato. Lave o espinafre e pique finamente. Aqueça 1cs de azeite em uma frigideira grande e doure as fatias de abobrinha em fogo alto. Mexa bem pra dourar as fatias do outro lado. Esse processo é bem rápido e a abobrinha pode passar de dourado pra queimado em poucos segundos, logo não saia de perto do fogão. Baixe o fogo e deixe cozinhar mais alguns minutos, até ela ficar bem macia. Empurre pros lados da frigideira, despeje um pouquinho de azeite no centro e doure o alho em fogo baixo. Mais uma vez, fique de olho, pois o alho só precisa de alguns segundos pra dourar e queima muito facilmente. Misture o alho frito com as fatias de abobrinha e empurre tudo pra um cantinho da frigideira, deixando espaço pra cozinhar o espinafre. Despeje o espinafre picado (não precisa acrescentar mais azeite) e cozinhe até ele murchar e quase toda a água evaporar. Misture todos os legumes, tempere com sal e pimenta do reino a gosto e reserve, coberto, enquanto cozinha o espaguete. Ferva bastante água em uma panela grande. Quando começar a ferver, junte um dose generosa de sal e o espaguete cru. Cozinhe até ficar al dente (macio, mas ainda ligeiramente firme). Pouco antes do macarrão ficar pronto, aqueça os legumes. Escorra o espaguete e despeje na frigideira com os legumes. Regue com 1cs de azeite e misture bem. Prove e corrija o tempero. Sirva imediatamente, polvilhado com mais pimenta do reino (melhor se for moída na hora) e, se quiser, castanhas do Pará raladas. Rende 2 porções como prato principal.

17 comentários em “Pequeno guia do macarrão perfeito

  1. Sandra, adorei o post. Eu amo macarrão, como muita gente por aí. Mas nunca gostei daquilo de ‘macarrão-com-molho-pronto’, assim sozinho.

    Sempre que faço macarrão, ou coloco legumes, verduras (e isso da castanha ralada é o máximo! desde que experimentei, coloco sempre que tem castanha em casa) e ervas, ou faço uma salada pra acompanhar. Do contrário, não tem a mesma graça. Mesmo meu macarrão ao alho e óleo tem que ter ao menos um tiquinho de verde, nem que seja salsinha, rs.

    Abobrinha é uma das coisas que mais gosto e vou fazer essa receita urgentemente!
    🙂

    1. Que maravilha, Fernanda! Fico tão feliz quando as pessoas testam, e aprovam, minhas receitas. Às vezes fico com receio delas não agradarem porque são “verdes” demais, então é sempre um prazer (e um alívio) ver que tem mais amantes de vegetais por aí:)

      1. O problema é que ficou tão bom, que o restinho que sobrou eu já executei! Agora tô com a consciência pesada de ter comido tanto macarrão, hehehe! Mas pelo menos era macarrão integral… né? rs
        Obrigada mesmo pelas receitas maravilhosas, eu vinha tentando ter uma alimentação vegan há muito tempo, mas sem sucesso por causa de acreditar que tinha que substituir a carne, o leite e cia., por produtos à base de soja.
        Beijos e boas inspirações para novos pratos deliciosos!

  2. Fiz hoje, muito bom!
    Fiz esse macarrão, da maneira que você explicou e uma salada de rúcula, tomate e cebola pra acompanhar. Ficou uma maravilha!
    Eu não tinha o grão-de-bico… fica pra próxima esse adicional, que certamente vai tornar a receita mais nutritiva, pq deliciosa ela já é..
    Parabéns pelo blog, inspirador!

  3. Olá, Sandra! Mais um post delicioso e uma receita que vou experimentar em breve! Gostei também do parmepão e do mix de sementes. Eu faço um parmesão vegano que leva também amêndoa ralada, além do pão ralado, alho em pó e levedo de cerveja. Agora já tenho mais estas tuas versões para variar. Adoro comer macarrão com salada de rúcula!
    Publiquei no meu blogue algumas fotos de receitas que fiz aqui do Papacapim, no âmbito da Semana Vegetariana, que ocorreu a semana passada, se tiveres um tempinho passa por lá para ver.
    Bjos

    1. Lina, passei lá no Aroma de café e deixei um comentário, mas como ele não apareceu imediatamente, tentei novamente. Se você vir dois comentários meus idênticos, pode apagar um:) Foi uma semana e tanto no seu blog, hein? Parabéns!

  4. Estou apaixonada pelas suas receitas! Fiz hj esse macarrão e adicionei o grão de bico e a castanha do para ralada e ficou sublime, ainda sou onívora mas tenho experimentado cada vez mais pratos veganos e tenho me surpreendido com os sabores cleans e sofisticados proporcionados por essa experiência e cada vez mais tenho me inclinado para abolir de vez os derivados de leite e peixe da minha dieta para abraçar mais esse estilo de vida que encara a comida do ponto de vista nutricional e ético e não apenas como um alimento para saciar a fome ou o desejo. Engraçado que eu nunca tinha pensado em ralar a castanha mas ficou muito bom e provei um pouco do macarrão com queijo parmesão tb mas achei o sabor do prato sem o queijo muito superior, mais fresco e saboroso. Meu filho tb adorou. Foi a segunda receita que fiz daqui e novamente deixo meus parabéns por sua sensibilidade em saber combinar tão bem os sabores.
    Abraços
    Renata

  5. Sandra, esta receita é fantastica a vários niveis! Nao só nutricionais como a niveis de textura, o crocante do alho e da courgette é divinal!
    Uma força enorme para a continuidade do site e um obrigada ainda maior porque toda a informação que usas por aqui é detalhada! 🙂

  6. Eu sou do time da Anne, se pudesse comia macarrão todo dia, hahaha, amo! <3

    Quintas e sextas são meus dias de almoço solitário e quando não sobra dos jantares anteriores, faço macarrão (às vezes faço quando tem sobra também, rs). Geralmente compramos macarrão integral, mas de vez em quando dá vontadinha de comer massa comum. Obrigada pelas dicas de preparo, tenho usado elas!

    Sobre a receita, ontem eu fiz um macarrão meio improvisado com abobrinhas, espinafre, cenoura e tomate. Depois de pronto lembrei que tinha uma receita parecida aqui no seu blog. Fiz então hoje com a dica do grão de bico (grão de bico e macarrão foi uma descoberta maravilhosa que fiz aqui! <3 ) e nossa, que delícia! Obrigada por compartilhar suas receitas! 🙂

  7. oi, Sandra, com certo atraso (de novo) venho dizer que fiz essa receita na semana passada e me deliciei. Sobrou um pouco para o dia seguinte, refoguei mais espinafre e alho, ficou mais gostoso ainda! Já congelei alguns pedaços de melancia para fazer o suco rosa. um beijo, Ana

Deixe uma resposta para papacapim Cancelar resposta