Abraço

abraço

O muro construído por Israel na Cisjordânia mutila ainda mais as terras palestinas, isola cidades e seus habitantes e priva agricultores de seus campos. Ele foi julgado ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça em 2004, mas continua avançando. O muro de segregação, como é chamado pelos defensores dos direitos humanos, é onipresente aqui em Belém. É difícil esquecer os crimes cometidos pela ocupação israelense quando nos deparamos com esse ‘lembrete’ de concreto de 8 metros de altura cada vez que levantamos o nariz.

Uns tempos atrás uma associação palestina, com o apoio de uma ONG holandesa, criou um projeto de resistência através do conto, onde palestinos dividem histórias pessoais relacionadas com a ocupação. Cartazes com essas histórias foram colados ao longo do muro em Belém e o objetivo é sensibilizar os turistas que passam por aqui, mas que não têm a mínima ideia do que acontece com os palestinos há décadas (a maioria dos peregrinos acha que Belém fica em Israel…). Um desses depoimentos me emocionou tanto que eu fiquei com vontade de publica-lo aqui. (O texto original é em Inglês e foi traduzido por mim.)

Abraço

Durante a primeira intifada tanques israelenses ficavam na frente da nossa casa. Nossos rapazes (palestinos) tinham que passar por aqui pra ir pros seus trabalhos em Jerusalém. Os soldados israelenses paravam os rapazes e os obrigavam a esperar. Às vezes eles eram forçados a ficar horas em pé, com o rosto contra o muro da nossa casa. Um dia os soldados pararam dois rapazes. A gente não conseguiu escutar a conversa, mas os soldados começaram a espanca-los. De repente uma mulher na rua se aproximou gritando. A gente escutou ela dizer que os rapazes eram seus filhos. Ela abraçou os rapazes e perguntou aos soldados o que eles queriam. Ela salvou os dois rapazes, que na verdade ela não conhecia.

Melvina, Belém.

O exemplo dessa mulher abraçando os rapazes e protegendo com o próprio corpo a vida de dois desconhecidos foi uma das maiores lições de amor ao próximo que tive a honra de receber. Tantas vezes ouvi pessoas falarem: “As mães palestinas não sentem amor pelos filhos. Elas os criam pra se tornarem homens-bombas do outro lado da fronteira.” Se algum dia vocês escutarem uma declaração injusta e racista como essa, contem a história dessa palestina, que arriscou a vida pra salvar os filhos de outra.

13 comentários em “Abraço

  1. Obrigada, Sandra. A história é mesmo muito tocante. Gostaria de compartilhá-la pelo Facebook. Você me permite?
    PS: Sou amiga de sua irmã Lila

  2. Eu também estou compartilhando.
    E estoou muito preocupada com você e seus amigos, por conta dos acontecimento dos últimos das na Palestina. A situação dos presos sem acusção formal não só vai totalmente contra a Declaração Internacional de Direitos Humanos como também é antiético.

    1. Não se preocupe, Yoko. Apesar de estarmos atraverssando um período tenso, as notícias que chegam aí fora dão sempre a impressão de que a coisa é maior do que a realidade que vemos aqui.

  3. Que história linda. Você deveria escrevar mais a respeito, comida e política não dá indigestão não. Eu conheço pouco sobre o conflito entre Israel e Palestina, a maioria das pessoas compra a idéia midiática de um povo louco, e tão religiosamente cegos que são capazes de se matar em ataques bombas. O que os nossos meios midiáticos (falo brasileiros que é o que eu tenho contato) desconsideram é a profundidade politica do conflito, que de longe não é totalmente religiosa(como se fala), os indicadores sociais alarmantes e a miséria que vive os homens bombas, que em sua suma encontra-se em estado tão paupérrimo que aceita o suicidio como forma de ir para o paraíso. Ninguém fala sobre a culpa da europa e USA sobre o conflito, é mais fácil bestializar todo um povo e os culpar.

    1. Obrigada pelo incentivo, Nina. Estou escrevendo cada vez mais sobre a Palestina aqui no blog e espero continuar levando informações que geralmente não chegam no exterior. Mas preciso esclarecer um ponto: o que motivou atentados suicidas aqui na região NÃO foi a pobreza, nem a perspectiva de ir pro paraíso, e sim a injustiça e o desespero causado pelos crimes cometidos pelo ocupante. A Cisjordânia não atravessa uma crise humanitária (em Gaza é diferente), o problema aqui é outro: ocupação militar, colonização e violações dos direitos humanos.

      1. Tá vendo só? A mídia só fala na perspectiva de religiosos lunáticos, e na escola só fala sobre a extrema pobreza e a culpa do imperialismo americano.

  4. Um gesto sublime, de puro amor, digno daqueles corações que são realmente grandes.
    O povo palestino merece o nosso respeito, a nossa solidariedade por tudo o que tem passado e mostrado ao resto do mundo.

    Obrigada, Sandra, por compartilhar essa passagem tocante que não apenas enche os nossos olhos de lágrimas (fosse só isso seria muito pouco…), mas nos abre os corações, levando-nos ao encontro de uma viva essência, de uma beleza inesgotável, profunda, delicada e, sobretudo, infinitamente nobre.

    Beijos,
    Vagaluminha (Marjorie)

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