Revolução crua

Espaguete cru de abobrinha com pesto de tomate

Ouvi falar em culinária crua há alguns anos e não sei porque a idéia de comer pratos feitos com ingredientes exclusivamentes crus não me pareceu atraente. Todos nόs comemos pratos crus (ou deveríamos) diariamente e não tem nada de “exόtico” nisso. Por ser vegana, muitas vezes fui obrigada a me contentar de um prato de salada crua (alface, tomate, pepino) porque o menu do restaurante não dispunha de nada vegano. Acho que de tanto escutar “Não come nada de origem animal? Podemos fazer uma salada pra você.” fui ficando com raiva de salada. Não que eu tenha algo contra vegetais crus, muito pelo contrário, mas ser obrigada a almoçar um prato de alface enquanto meus vizinhos de mesa se deliciam com pratos elaborados, marinados, gratinados, cobertos com molhos suculentos é muito frustrante! Deve vir daí minha falta de interesse pela culinária crua. Mas o tempo foi passando e ano passado comecei a me interessar mais pelo assunto. Li um livro muito interessante sobre culinária viva (alguns preferem o termo “culinária viva”) chamado “Lugar de médico é na cozinha”, do Dr Alberto P. Gonzalez. A leitura desse livro, que eu recomendo a todos, bastou pra me convencer dos benefícios da culinária viva. Me “converti” do dia pra noite e não conseguia parar de pensar nas mavarilhas da comida viva. Comecei a tomar o suco verde todas as manhãs (um suco feito de vegetais verdes, frutas e grãos germinados) e a almoçar…. saladas. Eu queria almoçar pratos crus pelo menos uma vez por semana mas meu reportόrio de comida viva era limitado, eu sό conseguia pensar nas velhas (e às vezes detestadas) saladas. Incrementei como pude, coloquei vários legumes diferentes, misturei frutas, grãos, castanhas, molhos… Mas almoçar a danada da salada continuava não me empolgando muito.  Passeando pelos blogs crudívoros, descobri que esse tipo de culinária podia ser muito criativo e variado, indo muito além das saladas de alface com tomate. Então um belo dia  fui pra cozinha com uma idéia na cabeça: macarrão de abobrinha. Eu já tinha visto que os crudívoros do mundo afora usavam muito abobrinha em tirinhas finas no lugar de macarrão então resolvi testar. Meia hora depois eu contemplava um macarrão de abobrinha com pesto de tomate de dar água na boca. Graças a esse prato eu me apaixonei pela culinária viva. Por mais que eu me preocupe com a saúde e tente me alimentar da maneira mais saudável possível eu adoro comer, adoro comida e não quero abrir mão do sabor de maneira alguma. Sabem o que descobri? Que não é preciso abrir mão do sabor pra aproveitar os benefícios da comida viva. Aqui vai a receita que foi o início de uma grande revolução na minha vida.

Espaguete cru de abobrinha com pesto de tomate

Escolha abobrinhas italianas, aquelas longas, com listras verdes por fora, não uma abόbora nova (no nordeste alguns confundem os dois). Pesto é um molho italiano feito geralmente de manjericão fresco, nozes, parmesão e azeite. Juntando tomates secos ao pesto obtem-se um “pesto rosso”. Meu pesto de tomate foi inspirado nessas duas receitas. Você vai precisar deixar as castanhas de molho durante algumas horas então é bom planejar antes. O sabor do molho vai depender da qualidade do tomate utilisado. Quando eu digo “bem maduro” eu quero dizer maduro, mesmo, todo vermelho escuro e ligeiramente mole quando espremido entre os dedos. Se você sό tiver tomates meio maduros, vermelho claro e firmes, esqueça esse prato e prepare outra coisa.

Espaguete:

• 2 abobrinhas médias/grandes

• 1 CS de suco de limão

• 1 CS de azeite extra virgem

• 1 CS de vinagre balsâmico (opcional)

• sal, pimenta do reino a gosto

Descasque as abobrinhas, corte-as ao meio no sentido longitudinal e, usando uma colher, remova um pouco das sementes. Usando um descascador de legumes faça tiras finas e longas. Misture as tiras de abobrinha com o suco de limão, o sal e a pimenta e massageie com as mãos até ficar macio, como se estivesse cozido (alguns minutos são suficientes). Essa técnica de “cozimento” é muito utilizada na cozinha viva e é surpreendente como o legume realmente parece cozido. Regue com o azeite e o vinagre balsâmico (se estiver usando) e reserve. Se a idéia de “massagear” abobrinhas te parecer estranha e você tiver com tempo, deixe simplesmente a abobrinha marinar com os outros ingredientes por 1 hora.

Pesto de tomate:

•10 castanhas do Pará, de molho por 4, 5 horas

•1 tomate grande e bem maduro

•1/2 dente de alho (pequeno)

•1 CS de azeite

•1 punhado de manjericão fresco

• sal e pimenta do reino a gosto

• folhinhas de manjericão, pimenta do reino moída um pouco de azeite pra decorar

Escorra as castanhas do Pará e coloque no liquidificador junto com o tomate em pedaços, o alho, o azeite e o manjericão e triture até ficar homogêneo. Tempere com sal e pimenta e bata mais um pouco pra misturar.

Pra servir:

Disponha o espaguete de abobrinha em dois pratos rasos, cubra com uma porção generosa de molho (não misture) e salpique com as folhinhas de manjericão. Decore com um fio de azeite e um pouco de pimenta do reino moída. Serve duas pessoas.

6 comentários em “Revolução crua

  1. Eiiiita que delicia! Testando duas receitas suas num dia só! É mt sabor!
    Fiz essa receitas sem as castanhas, sei q influencia bastante no resultado final do pesto, posso ver só pela textura,mas infelizmente por durante 6 anos fui uma ovo-lacto nada saúdavel, com uma dieta baseada em massas, frituras e mtooo açúcar.. Então, estou numa dieta hipocalórica e hj as castanhas n me eram mais permitidas, mas em breve farei com as elas e volto pra te contar.
    Já tentei ser vegan por 2 vzs, mas por conta do leite e derivados acabava voltando.. Na mais recente descobri que era mt drástica e desde então tenho seguido suas dicas e incorporado alimentos ao meu dia a dia, em vez de cortá-los. Faço os leites vegetais mais variados e substituo o ovo por linhaça e chia nas receitas..

    Mto obrigada por nos ajudar a ter uma vida melhor e fazer do mundo um lugar melhor!
    Parabéns pelo trabalho lindo que vc faz! bjos

  2. Sandra, tudo bem? Sei que essa sua postagem é antiga, mas eu também estou interessada no assunto e procurando receitas “vivas”. Comprei até um cortador de legumes que permite fazer o espaguete de abobrinha.

    Você conhece o blog da Aline Chaves? Ela é adepta do crudivorismo e ensina muitas receitas bonitas. Além de passar bastante conhecimento sobre germinação.

    Ah, e ela curte um capim igual a você – rsrsrs: panelasdecapim.blogspot.com/‎

  3. Estou começando a me interessar pela culinária vegana crua, pela praticidade e por ser ainda mais saudável. Alguém tem sugestões de alguns livros de receitas e/ou dicas? E de blogs e canais no youtube?

  4. Oi, Sandra! Meu nome é Aline e sou vegana há 4 anos. Desde então acompanhei seu trabalho pelo instagram e sonhava em um dia fazer um tour vegano com você. Quando lançou o podcast com o Antinomia eu fiquei simplesmente apaixonada. Assistia assim que cada episódio saía, me deliciando com cada história, chorando e me emocionando com a luta. À época eu havia iniciado um movimento social na minha cidade e isso serviu de muita inspiração e fôlego. Até hoje sinto falta de fazer o café ouvindo novas histórias na sua voz. Também amava quando compartilhava seus conhecimentos e experiências no instagram e senti a sua falta por lá. Confesso que, apesar de gostar de escrever e ler, a modalidade de blog não me trouxe e acabei ficando sem as suas colocações. Mas hoje decidi que vou tirar algumas partes da minha semana para ler um post ou outro seu. Sei que não precisaria começar do começo, mas achei que seria uma jornada legal. E também sei que posso parar no meio do caminho. Tenho TDAH e as coisas da vida acabam me tirando, com alguma frequência, dos hábitos que tento construir. Mas quero muito e acho que vai ser um ritual bem gostoso. Enfim, achei que escrever essa carta seria uma maneira de fazer a experiência ainda mais pessoal. Espero que, depois deste post de 2013, cheio de energia por uma nova descoberta, a sua vida esteja linda, apesar dos pesares. Tudo de bom sempre. Com carinho, Aline.

    1. Aline, você acabou voltando pro início desse blog, mesmo. Esse post não é de 2013 e sim de 2010 e foi o primeiríssimo que publiquei aqui. Agora vai ser fácil ler tudo na ordem cronológica 😉 Sei que em 2022 blogs já não cativam mais muita gente, mas eu continuo adorando esse meio de comunicação porque é tem muito mais espaço pra quem escreve, meu conteúdo não será usado pra enriquecer milionários e a troca com quem me lê, apesar de não ser instantânea, é muito mais pessoal. Espero que depois de ler alguns posts, isso acabe se tornando um hábito 🙂

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