Omelete de feijão mungo

Dias atrás minha amiga Bárbara me mandou uma mensagem contando que tinha feito omelete com ervilha seca e que tinha ficado muito feliz com o resultado. Há tempos eu andava pensando em fazer omelete com outra leguminosa, seguindo a técnica que uso pra fazer omelete de grão de bico (vulgo grãomelete). A mensagem dela me deu ainda mais vontade de explorar novos caminhos, mas ao invés de usar ervilha seca, decidi usar feijão mungo.

Se você é nova no veganismo e/ou se tem pouca intimidade com a culinária vegetal, talvez o parágrafo acima tenha te deixado intrigada. “Por que danado veganas querem fazer omelete usando feijões ao invés de ovo?”, você deve estar se perguntando. A resposta é: porque é uma delícia! Quando você sai do padrão de culinária especista, que vê animais e os produtos do seu corpo como alimentos, abre-se um mundo de possibilidades na cozinha. Feijão pode ser a base de omeletes (grãomelete, feijãolete, chame como quiser) saborosos, nutritivos e facílimos de preparar. E por que chamar isso de “omelete”, se não tem ovo? Eu acredito que usar palavras que denominem receitas à base de animais e seus derivados pode ser útil pra te informar que a técnica de preparo (como no caso de queijos vegetais) ou a maneira de consumir (como no caso desse omelete) são as mesmas. Eu chamo de “omelete de feijão” pra sinalizar que a gente cozinha essa preparação como um omelete, que pode acrescentar os mesmos ingredientes que usaríamos pra incrementar um omelete de ovo e que consumimos como um omelete (acompanhado de vegetais no almoço / dentro de um pão no café ou jantar / puro, como um lanche rápido…).

Escolhi usar feijão mungo aqui por duas razões. Eu moro na periferia norte de Paris, onde tem uma comunidade indiana importante. Aqui tem várias mercearias com produtos indianos, super acessíveis e sempre encontro feijão mungo nesses lugares, já que ele é bastante utilizado na culinária indiana. A segunda razão é que tem alguma propriedade culinária no feijão mungo que faz com que ele se comporte um pouco como ovo. Não por acaso os produtos industrializados que se vendem como “ovos vegetais” geralmente usam proteína de feijão mungo. Eu queria ver se dava certo fazer omelete em casa, usando simplesmente o feijão inteiro, como já fiz com o grão de bico tempos atrás.

Trago boas novas! Não só é possível, como é muito fácil. O sabor é bem suave, principalmente se você coar a mistura antes de cozinhar (explicações na receita abaixo) e isso também é positivo. De um lado, esse feijãolete vai agradar os paladares cheios de melindres. Aqueles que foram formados sem muito contato com vegetais e tendem a rejeitar a comida da terra. E, por outro lado, o sabor discreto te convida a ser criativa e acrescentar outros ingredientes, pra incrementar a receita. E a textura realmente é mais próxima do omelete de ovo que a minha (amada, idolatrada, salve, salve) receita de grãomelete. Sabe aquela coisa ligeiramente gelatinosa e elástica do ovo? Você vai encontrar algo próximo aqui.

Um dia tentarei a versão de omelete vegetal de Bárbara, embora no momento eu esteja tão animada com a versão com feijão mungo que já repeti a receita 5 vezes em duas semanas. Mas agora que essa porta se abriu, vejo inúmeras versões de omelete de leguminosas no futuro.

Omelete de feijão mungo (feijãolete)

Feijão mungo cru (usei o grão partido aqui, mas funciona igualmente com o grão inteiro)

Água, sal e tempo

Óleo/azeite pra cozinhar

Opcional:

Cebola

Alho

Coentro

Páprica defumada

Pimenta preta

Deixe o feijão mungo de molho na água fria por pelo menos 12 horas (de um dia pro outro). Eu já deixei de molho por 24h e 48h (trocando a água do molho uma vez) e nos três casos dá certo. Aumentar o tempo da demolha deixa o grão mais digesto, então escolha de acordo com a sua sensibilidade pra digerir feijões.

Escorra o feijão demolhado, enxague rapidamente e bata no liquidificador com água apenas suficiente pra cobrir tudo (sem passar). Bata por alguns segundos, até o feijão se transformar em um líquido encorpado e liso (esfregue entre os dedos). Use uma peneira fina pra coar a mistura, separando as cascas e parte da fibra. Se quiser fazer seu omelete sem coar, fique à vontade. Saiba apenas que a casca deixa essa receita mais granulosa e com um sabor mais pronunciado, o que não é necessariamente desagradável (mas eu prefiro coar). A espessura da massa deve lembrar uma vitamina de banana (nem espessa demais que pode ser comida de colher, nem líquida como um leite).

É nesse momento que você pode incrementar seu omelete. Aqui eu juntei cebola roxa em tiras finas, alho picado, coentro, páprica defumada e pimenta preta. Misture tudo na massa e não esqueça de colocar sal a gosto.

Aqueça um pouco de óleo (ou azeite) em uma frigideira antiaderente. Quando estiver bem quente, despeje um pouco da mistura de feijão mungo (uma camada fina é melhor do que uma camada muito espessa). Cozinhe em fogo médio até o omelete se formar e for possível virar sem que ele se quebre. Baixe o fogo e cozinhe mais alguns minutos do outro lado. Quando estiver bem dourado dos dois lados, está pronto.

A massa de omelete (feijão mungo demolhado, triturado e coado) pode ser conservada por vários dias na geladeira. Sempre que quiser fazer um omelete, retire a quantidade necessária, tempere e cozinhe.

2 comentários em “Omelete de feijão mungo

  1. Oi Sandra!!
    Essa sua dica / receita me lembrou uma experiência que fiz e que também ilustra o grande potencial dos feijões: uma amiga fez a massa do acarajé, mas estávamos só as duas e sobrou um tanto. No café da manhã tive a ideia de fazer na frigideira estilo panqueca, e não é que ficou muito bom?

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