Feijão é bom. Feijão é a base da alimentação da vegana. Feijão é a proteína do proletariado. Feijão (leguminosas em geral) é a solução pra que comer animais se torne obsoleto. E tem mais.

-Ele fixa nitrogênio no solo. Plantado em rotação melhora o rendimento das outras culturas e diminui a necessidade de fertilizantes.

-Pra produzir 1kg de lentilhas são necessários 1250 L de água. Pra produzir 1kg de carne de frango: 4325 L. 1kg de carne de vaca: 13 mil L (fonte: FAO)

-Ele absorve carbono, reduzindo o efeito estufa.

-É rico em proteínas de qualidade, de fácil digestão, pobre em gordura e cheio de fibras.

-Essas fibras controlam o nível de açúcar no sangue, apesar dele ser rico em carboidratos, dando sensação de saciedade por mais tempo (ótimo parceiro pra diabéticas).

-É a proteína mais acessível economicamente. Em períodos de crise, quando a população não consegue mais comprar animais, o feijão continua no prato. Junto com o fiel arroz, é uma proteína completa, com todos os aminoácidos essenciais.

-É o alimento que pode tratar ao mesmo tempo a subnutrição e os problemas de saúde ligados a dietas pobres. É um guerreiro na luta contra a fome e a fome oculta.

-Nenhuma outra fonte de proteína tem um custo-benefício tão bom. Pra saúde humana e pro planeta.

-Sendo assim ele tem um papel chave tanto na luta contra o colapso climático quanto por segurança alimentar.

Apesar disso tudo, em um período de 15 anos (2002-2017) o consumo anual per capita de feijão no Brasil (dentro de casa) caiu 52%. Foi de 12,4kg pra 5,9kg (IBGE). Estamos comendo cada vez mais fora de casa e, principalmente, mudando nossos hábitos alimentares. Alimentos in natura e feitos em casa estão perdendo espaço pra comida ultraprocessada. No mesmo período os ultraprocessados passaram de 12,6% pra 18,4% das calorias totais ingeridas.

Me assusta o número cada vez maior de pessoas que não sabem cozinhar feijão. Militantes engajados incapazes de fazer o almoço, falando de “mudar o sistema” enquanto pedem delivery. É o conhecimento mais essencial pra poder adquirir autonomia na cozinha, pra se tornar vegana, pra se nutrir bem com renda baixa e pra apoiar a luta por segurança alimentar e contra o colapso ambiental. Quer fazer sobremesas, lasanhas, queijo vegetal ou a revolução? Comece aprendendo a cozinhar feijão.

E se isso não te convenceu a comer feijão todos os dias, aqui vai mais uma razão: feijão acebolado. Que “bife acebolado”, o que! Estamos em 2022, povo. Gostoso mesmo é tacar cebola no feijão.

Imagine um feijão com pedaços graúdos de cebolas caramelizadas, que dissolvem na boca. Imagine que essa cebola tenra e naturalmente adocicada realça o sabor do nosso amigo feijão, sem roubar a vedete. É tudo tão simples (nem alho entra nessa receita!) que é difícil acreditar que o resultado vai impressionar alguém. Mas acredite: esse prato é poesia pura. Só quem provou, sabe.

Feijão acebolado

Uma receita “acebolada” é, obviamente, pra quem adora cebola. Se esse não é o seu caso, essa outra receita simples de feijão é pra você. Mas ouso dizer que pelo sabor da cebola ser muito delicado aqui, apesar da grande quantidade, até quem não gosta muito de cebola vai aprovar esse feijão. O vinagre é muito importante pra trazer acidez e realçar o sabor do feijão (não se preocupe, o gosto de vinagre desaparece depois da fervura). Se quiser fazer um volume maior de feijão pra congelar depois de pronto (ou ir comendo durante a semana), é só multiplicar as quantidades.

250g de feijão carioquinha (usei Borlotti, cultivado na Itália, porque não tem carioquinha aqui)

4 cebolas médias (brancas ou roxas)

3 colheres de sopa de azeite (ou outro óleo vegetal)

1 folha de louro (fresca ou seca)

Sal e pimenta preta a gosto

1 colher de sopa de vinagre (de sidra ou vinho)

Comece, como sempre, deixando o feijão de molho na véspera. No dia seguinte escorra a água e coloque o feijão demolhado na panela de pressão, coberto com água limpa (a água deve passar alguns dedos acima do feijão), o louro e uma pitada generosa (de 4 dedos) de sal. Cozinhe em fogo alto até a panela começar a chiar (pegar pressão). Nesse momento baixe o fogo e deixe cozinhar por 15-20 minutos (o meu ficou pronto em exatos 18 minutos).

Enquanto isso descasque e corte as cebolas em 4 (faça um X com a faca de cima pra baixo). Aqueça o azeite em uma frigideira grande e doure os pedaços de cebola dos dois lados. Deixe cozinhar até começar a caramelizar, mas faça isso no fogo médio-baixo, pra não queimar. Reserve.

Deixe a pressão sair naturalmente da panela, abra e verifique se o feijão está macio. Despeje as cebolas cozidas/caramelizadas na panela, retire a folha de louro, tempere generosamente com pimenta preta e acerte o sal (prove e coloque mais, se preciso). Por último junto o vinagre, tampe a panela e leve de volta ao fogo alto. Dessa vez desligue assim que a panela começar a chiar. Assim as cebolas vão ficar extremamente tenras, dissolvendo na boca, e o feijão vai tomar o gosto.

(Dica: se o feijão não estava bem cozido quando você abriu a panela pela primeira vez, essa é a sua oportunidade de corrigir isso deixando cozinhar mais alguns minutos aqui.)

Sirva regado com um fio de azeite e mais um tico de pimenta preta, se quiser.