Tinha uma pequena tradição nesse blog: escrever o último post do dezembro sobre as melhores receitas do ano (de acordo comigo mesma) ou contar sobre a ceia de natal com a família (geralmente, a família francesa). Publiquei receitas maravilhosas nesse ano, que entraram pro meu repertório afetivo, e o fim de ano na casa do meu sogro, no interior da França, de onde estou escrevendo essas palavras, rendeu pratos deliciosos que merecem ser compartilhados aqui. Mas no penúltimo dia de 2024, meu coração sangra pela Palestina, principalmente pelo povo de Gaza. Nem acredito que faz mais de um ano que o mundo assiste ao genocídio do povo palestino. Em silêncio. Buscando desculpas pra justificar o injustificável. Apoiando com palavras, com imunidade política, com dólares e euros, com armas.
Não imaginei que seria testemunha do genocídio de um povo durante a minha vida e tudo que consigo escrever aqui hoje, depois de ter visto as últimas imagens dos crimes contra a humanidade que Israel segue cometendo contra o povo palestino há décadas, é que não sei o que fazer com a vergonha que sinto quando penso no que vou responder no momento em que o futuro olhar pra trás, pro nosso presente, e me perguntar como eu pude deixar isso acontecer.
Enquanto a Palestina não for livre, ninguém será. Que 2025 traga justiça e reparação.
Quando você olhar pra trás, espero que sinta que é mais um par de mãos e mais um coração a resistir pela existência da Palestina. Eu já comentei aqui, nunca saí do Brasil. Ainda assim me sinto próxima dessa terra, imagino as oliveiras, rio até chorar daquelas cabras feias de dar dó, penso no zaatar e em tantas pessoas que carrego o nome e o rosto comigo. Eu também nunca pensei testemunhar um genocídio. É uma sensação sem palavras, porque pesquiso genocídio há muitos anos. O holocausto, embora eu pesquise as vítimas comunistas, mas ainda assim o assunto é inevitavelmente perpassado pela questão do judaica. Agora tão cruelmente distorcida e feita de slogan pro sionismo. E é bizarro, porque Adorno escreveu que “o imperativo para que Auschwitz – como metáfora para barbárie – nunca mais se repita, é evitar a severidade.” A severidade, que começa por desumanizar a si como um “super”, para então desumanizar o outro como um “sub”. Um abraço, Sandra, em você, na Anne, em todos. Dê mais notícias e perdoa a demora em deixar esse comentário, o site tem sido muito caprichoso em permitir essa ação.
Obrigada pela mensagem solidária. Me fez muito bem te ler nessa manhã gelada aqui na França. (E perdão pelos caprichos desse site. Tô com fé que consigo pagar alguém pra resolver os problemas dele no primeiro semestre desse ano.)
Ó, estou matando as saudades, faz tempo que não vinha aqui. E uma pequena sugestão: você não tem interesse em aderir ao Substack? Ou chega de novas redes sociais? Um beijão!
Agradeço a sugestão. Não tenho ideia formada sobre o Substrack, simplesmente porque nunca usei e nem sei como funciona. Eu já tenho a newsletter, que envio pra quem apoia o meu trabalho, então preciso entender em que seria diferente de escrever no blog/newsletter.