Pra acompanhar o cuscuz

Ensopado de lentilha com tomate seco e castanha do Pará

Um dia minha amiga Cibele perguntou se eu tinha alguma sugestão de receita pra comer com cuscuz de milho (ela também é do Nordeste). Tradicionalmente acompanhamos o nosso amado cuscuz com ovo, e veganos se deparam com esse problema: o que colocar no lugar? A comida da nossa terra, que comemos durante a maior parte da vida, tem valor sentimental e é difícil abrir mão dela quando mudamos de regime alimentar. Felizmente, quase sempre é possível fazer adaptações e criar novas maneiras de degustar os quitutes que nos acompanham desde a infância.

Veganizar pratos tradicionais exige criatividade e uma mente aberta. Serei bem honesta: nada no reino vegetal vai ter o mesmo sabor do ovo (pelo menos ainda não descobri nada que se aproximasse dele). Mas buscar alternativas vegetais aos produtos de origem animal que tínhamos costume de comer tem suas vantagens. Por exemplo, descobri que cuscuz fica uma delícia não com um, mas com vários acompanhamentos vegetais. Minha experiência com o veganismo tem sido extremamente rica nesse sentido. Sempre que procuro um substituto vegetal pra um ingrediente de origem animal me deparo com inúmeras possibilidades.

Aqui vão algumas deliciosas sugestões de acompanhamento vegetal pra cuscuz: tofu mexido (simples ou com tomate), ratatouille, ensopado marinho e, o meu preferido, esse ensopado de lentilhas. A combinação de lentilhas com tomates frescos e secos e castanhas do Pará deixa esse prato irresistível. E além de ser extremamente saboroso, ele é rico em proteína e, junto com o cuscuz, forma uma proteína vegetal completa. Leguminosa (lentilha) com cereal (cuscuz) formam uma proteína vegetal completa, lembram? (Mais um lembrete: tofu sozinho já é uma proteína vegetal completa.) O ensopado de lentilha ainda tem a vantagem adicional de poder ser congelado depois de pronto, o que sugiro que vocês façam. Assim quando o cuscuz aparecer na mesa você só precisará de uns minutinhos pra acompanha-lo de algo saboroso, nutritivo e vegetal.

Alguém tem mais alguma sugestão de acompanhamento vegetal pra cuscuz? Adoraria saber o que vocês andam comendo com esse ingrediente de base da alimentação do Nordeste brasileiro.

Ensopado de lentilha com tomate seco e castanha do Pará

Esse prato é um ótimo acompanhamento pra cuscuz, mas também pode ser servido como prato principal, junto com um cereal (arroz, trigo, cevada etc.) e uma salada. Embora castanhas do Pará sejam as minha oleaginosas preferidas em pratos como esse, aqui onde moro elas custam uma fortuna, então usei nozes, que são mais acessíveis. Esse ensopado é um daqueles pratos que ficam ainda mais saborosos com o passar dos dias. Como disse acima, ele também congela muito bem, logo não tenha medo de fazer uma quantidade grande e guardar porções individuais no congelador (porções de 1/2x me parecem ideais pra acompanhar um prato médio de cuscuz). Depois é só descongelar na frigideira, no fogo baixo.

2x de lentilha cozida (com sal e algumas folhas de louro)

1 cebola, picada

4 dentes de alho, picados/ralados

4 tomates grandes maduros, picados

2cs de tomate seco, picado

1 punhado de castanha do Pará (ou nozes)

Uma pitada de orégano

Azeite, sal e pimenta do reino

Aqueça um 1cs de azeite em um panela média e doure a cebola. Junte o alho e refogue mais um minuto. Acrescente a lentilha cozida (escorrida), os tomates frescos e os tomates secos. Deixe cozinhar em fogo baixo até os tomates se desintegrarem e parte do suco evaporar. Enquanto isso coloque as castanhas do Para em uma frigideira (de preferência com o fundo grosso) e toste em fogo médio, sacudindo de vez em quando, até ficar ligeiramente dourado dos dois lados. Deixe amornar e use uma faca amolada pra pica-las miúdo. Quando o liquido dos tomates tiver evaporado, junte as castanhas do Pará (tostadas e picadas) e tempere com sal e pimenta do reino. Rende 4 porções como acompanhamento de cuscuz, ou 2 como prato principal.

25 comentários em “Pra acompanhar o cuscuz

  1. Eu estava falando essa semana mesmo que o meu grande problema em largar o ovo é o meu cuscuz… Amo meu cuscuz com ovo, tomate, cebola e pimentão. Dei pulos aqui com as suas sugestões. Será que os tomates secos fazem muito falta? Não sou muito chegada nele… Vou ficar de olho nos comentários também. 😀

    1. Os tomates secos intensificam o sabor do prato, deixando mais especial. Ao preparar comida vegetal é muito importante incluir sempre ingredientes que são verdadeiros concentrados de sabor pra realçar o prato e evitar receitas “sem graça” (um erro muito comum, infelizmente). Mas se você não gosta de tomate seco tenho uma sugestãao: use 1cs de extrato de tomate e suas lentilhas ficarão perfeitas. Mas como disse no post, nada terá o mesmo sabor do seu amado cuscuz com ovo…

  2. Olá Sandra!
    Abri esse post com uma curiosidade sem tamanho e nem acreditei quando vi as lentilhas, pois é o que mais gostamos aqui em casa para comer com cuscuz, inhame e macaxeira! Eu costumo chamar de “bolonhesa de lentilha” (faço com muito tomate), e acho maravilhoso com macarrão tb… Mas claro que o daqui de casa não era tão chique, vou testar sua receita…rs… Engraçado que esta semana mesmo eu estava com vontade de lhe escrever pedindo sugestões do que comer com cuscuz e macaxeira… 😉
    Bjs

    1. A direfença fundamental entre o cuscuz brasileiro e o marroquino é que o nosso é feito de milho. No Brasil compramos cuscuz de milho em flocos e deixamos “de molho” com um pouco de água durante 30 minutos antes de cozinha-lo (só o suficiente pra umedecer os flocos, sem no entanto encharca-los). Depois cozinhamos no vapor, em uma panela especifica pra isso (cuscuzeira) e depois de cozido regamos com uma mistura de manteiga/margarina e água quente, ou leite de vaca, ou leite de coco, antes de servir. Como disse no post, ele é tradicionalmente servido com ovo e às vezes com carne. Espero ter ajudado. Mais uma coisinha: essa receita de ensopado de lentilhas também acompanha bem cuscuz de trigo (marroquinho).

  3. Essa explicação acima também me foi muito útil, não sabia que o cuzcuz brasileiro era diferente 🙂
    Mas esse ensopado de lentilha parece-me muito bom, adoro lentilhas castanhas e as castanhas do Pará devem ficar mesmo bem nesse ensopado.

    Beijinho

  4. Olá, Sandra! A explicação também foi útil para mim…Eu conheço o cuscuz paulista, feito com farinha de milho, enformado que geralmente leva ovo cozido, sardinha em lata, tomate… E aqui em Portugal costumo consumir o couscous, feito de trigo que faço muitas vezes com vegetais. Não conhecia essa versão do nordeste. Mas este ensopado de lentilhas, como você comentou vai casar bem com o couscous de trigo. Acho que aquele molho de berinjela assada também ia bem com o cuscuz… Já estou a ficar com fome…
    Bjo

  5. Oi Sandra! Não é sobre esse post, mas eu queria comentar que hoje fiz a sua quiche de abobrinha, tomate seco e pimentão assado com manjericão (que nome grande)! Tirei uma foto: http://i46.tinypic.com/334lqfs.jpg
    A massa é muito gostosa *-* É muito parecida com cream cracker (sou ovolacto), só que bem mais gostosa 🙂 O gergelim definitivamente vale a pena (fiquei resmungando comigo mesma no mercado de ter que comprar 200g de gergelim pra usar só 3cs), o tomate seco foi uma surpresa, pq eu não gostava dele, nessa quiche ficou muito gostoso. Problemas que eu tive: A abobrinha saiu muito gostosa do forno, mas quando foi pra massa ela sumiu, só ficou a casca pra contar a história 🙁 Acabei pondo água demais no recheio e ele não “rachava” por nada no forno, e acabei passando um pouquinho do ponto e queimando a pontinha da borda da massa. Achei que isso afetou de alguma forma o gosto. Numa próxima vez, se acontecesse de novo, acho que tiraria ainda assim que a massa dourasse.
    De alguma maneira estranha, eu achei a quiche mais gostosa agora fria do que quando saiu do forno. rs

    1. Eu adoro quiche fria e na Franca (terra das quiches) elas sao degustadas tanto quentes quanto frias. Que pena que voce teve alguns problemas tecnicos com essa receita, mas receitas sao simples guias que podem (e devem) ser adaptadas de acordo com sua intuicao e gosto. Se quiser fazer a receita novamente sugiro que corte a abobrinha mais grossa e misture o recheio delicadamente pra ela nao se desfazer. E claro, nao coloque agua demais no recheio pra que ele nao demore tanto pra ficar cozido, o que, como voce notou, deixa a massa assada demais.

  6. Sandra, quando vi as notícias fiquei muio preocupada com vocês.
    Espero que esteja tudo bem e que isso tudo acabe logo.
    Neste momento difícil venho expressar minha solidariedade e dizer que estou á disposição para o que precisarem.
    grande abraço
    Susana

  7. Pensei nas mulheres q vc ajuda, as q cozinham para os turistas e as crianças amiga, espero q esteja todos bem…pelo noticiario aki esta ficando feia a coisa …vcs estão perto da area de conflito? Um abç

  8. O cuscuz, ou o nosso afetivo “teimosinho” (como vovó já dizia e o Raul também), é tão sagrado para os nordestinos, quanto a tapioca. Adoro hidratar estas farinhas com leite de coco e acredito que vai ficar arretado com este ensopado. Também gosto do tradicional cuscuz com feijão, mas adorei a idéia das lentilhas. Agora, o ovo não é mais o vilão do meu cuscuz e sim o T que vem em quase todas as marcas de flocos de milho. No supermercado os corredores estão ficando cada dia mais obscuros. Temos que ir a luta pela paz no cuscuzeiro: com milhos da feira em uma mão e um ralador na outra!

  9. Sandra, vc nos ensina receitas apaixonantes. Estou comendo esse ensopado a semana toda e só penso nele. Aconteceu o mesmo com a aveia dormida. Obrigada

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