Bolinho salgado de amendoim e urtiga

Tenho consciência que o nome dessa receita vai dar medo em muita gente, mas tem duas lições incríveis nessa prato, então bora lá.

Já falei nesse post que 1-urtigas são comestíveis e 2- que são uma delícia. Também falei que elas são riquíssimas em ferro e vou acrescentar agora que elas são extremamente ricas em proteínas, comparada às outras plantas. Corre à boca miúda que elas tem duas vezes mais proteína que a idolatrada soja. Porém como a urtiga, por ser uma folha, é levinha, pra conseguir competir com a soja você vai precisar comer um arbusto de urtiga inteiro. Mas eu só queria compartilhar esse informação pra você brilhar nos jantares mundanos com seu conhecimento sobre plantas comestíveis, mesmo. Não compactuo da proteinolatria e carência de proteína não deveria ser uma preocupação pra você, nem pra galera vegana em geral. Coma urtiga porque é gostoso, nutritivo e um alimento gratuito.

Da esquerda pra direita: alecrim, urtiga branca (com flores) e melissa.

Expliquei no post do pesto de urtiga como colher e cozinhar essa planta (sim, é seguro) e não vou repetir aqui. Dá uma olhada lá e aproveita e pega a receita do pesto. Na receita de hoje usei urtiga branca (Lamium album) que é da família da urtiga (visualmente e gustativamente são praticamente idênticas), mas não queima. Sim, uma urtiga que não queima. Hoje fui no lote que cultivamos coletivamente nos Jardins Operários aqui da minha cidade e colhi algumas pra comer no almoço. Ando apaixonada por urtigas e coloco em tudo (sopas, grãomeletes), mas hoje decidi inovar e fazer bolinhos salgados com ela. E aqui vem o segundo aprendizado do post de hoje.

Sabia que com um pedaço de pão velho, uma colherada de pasta de amendoim e alguns temperos dá pra fazer bolinhos supimpa? A inspiração veio de uma receita de bolinho de pão e nozes, que vi num site de receitas belga. Fiz mais ou menos como o site mandava e ficou muito bom. E tudo que acho muito bom, eu quero compartilhar aqui no blog. Só que pra quem está no Brasil, nozes é algo caro e difícil de achar. Sem falar que é importado. Será que não dava pra fazer usando outra oleaginosa?

A resposta é “sim”. Usei sementes de girassol no lugar das nozes e ficou supimpa. Mas resolvi ir mais longe no esforço de deixar essa receita acessível. Qual ingrediente da categoria das oleaginosas é o mais abundante e barato no Brasil? Amendoim. Que inclusive, é nosso! Então fiz umas adaptações, reduzi ao máximo os ingredientes e o resultado ficou ainda melhor do que a receita original. Desde então sempre que tem um pedaço de pão envelhecendo, faço bolinhos.

(Eu sei que botanicamente falando amendoim é uma leguminosa, ou seja, é um tipo de feijão. Mas como é gorduroso como oleaginosas e usamos da mesma maneira que oleaginosas, decreto que culinariamente falando, amendoim é oleaginosa. E tenho dito.)

O que me encantou nessa receita é que usando basicamente 3 ingredientes (pão velho, pasta de amendoim e um vegetal – aqui, urtiga) você faz algo muito saboroso em pouquíssimo tempo. É receita de carestia, quando só tem um pedaço de pão dormido na cozinha, um vegetal triste na geladeira e um fundo de pasta de amendoim no armário. Mas apesar de humilde, o resultado ultrapassa as expectativas. Meu tipo de receita preferido.

E se você usar urtigas, o que recomendo demais, o sabor será incrível! Pode confiar.

Come urtiga, bem.

Bolinho salgado de amendoim e urtiga

Quanto de pão dormido é necessário? O tanto que você tiver. À partir dessa informação você dosa os outros ingredientes. Lembrando que os ingredientes aparecem em ordem decrescente, ou seja, o ingrediente usado em maior quantidade aparece primeiro e o usado em menor quantidade, por último. Os três ingredientes essenciais são pão + legume + pasta de amendoim, o resto é tempero e pode ser adaptado (embora eu recomende muito usar molho de soja, pois fica uma delícia com amendoim). Se quiser usar coentro ou salsinha fresca, maravilha! Se só tiver alho e shoyu, dá certo também.

Pão dormido

Urtigas frescas (ou outro legume – veja dicas no final da receita)

Pasta de amendoim (pura, sem açúcar)

Molho de soja (shoyu)

Alho

Raspas e suco de limão

Ervas (usei alecrim fresco porque era o que eu tinha, mas tomilho e orégano secos também são ótimo aqui)

Pimenta preta

Ferva as urtigas por alguns segundos, pique bem e esprema pra extrair a maior parte do líquido (como expliquei nesse post). Usei uma parte de pão pra uma parte de urtiga. (OBS Como dessa vez usei urtiga branca, que não queima, não cozinhei antes e bati crua junto com o pão).

Corte o pão dormido em pedaços médios e coloque no liquidificador junto com as urtigas cozidas e o alho. Bata (ou pulse) até ficar bem triturado, como uma farofa molhada. Transfira pra uma tigela e acrescente a pasta de amendoim (veja a foto acima pra ter uma ideia da proporção) e os temperos: raspas e suco de limão, molho shoyu, ervas e pimenta preta. Tudo a gosto. Misture bem com as mãos. Prove e corrija o tempero, se necessário. A massa deve ficar bem colante e formar bolinhas sem dificuldade quando apertada entre as mãos. Cuidado pra não ficar molhada demais: acrescente os ingredientes líquidos com cuidado (shoyu e suco de limão). Se ficou muito seca, junte um bocadinho de água.

Pra quem fica nervosa se não tiver medidas, usei 1 colher de sopa (não muito cheia) de pasta de amendoim pra mais ou menos 2 xícaras da mistura pão+urtiga, mais 1 colher de sopa bem cheia de shoyu, 1 dente de alho pequeno, raspas de meio limão galego e umas 2 colheres de chá de suco de limão. Não precisei acrescentar água pra dar o ponto. Essa quantidade deu 6 bolinhas, o suficiente pro meu almoço.

Faça bolinhas com essa massa (umedeça as mãos com água, pra não grudar) e frite em uma frigideira antiaderente (eu nem uso óleo, pois a gordura da pasta de amendoim é suficiente pra dourar os bolinhos – mas só funciona se a frigideira for realmente antiaderente!). Você também pode assar no forno. A vantagem é que dá pra fazer uma quantidade bem grande de uma vez, mas a desvantagem é que as bolinhas ficam mais secas (nada dramático).

São uma delícia quentes, mas guardei as bolinhas assadas na geladeira, em um vidro fechado, por vários dias e também achei gostoso frio. (Na verdade eu abria o pote e comia gelado, mesmo).

Dica: Não tem urtiga? Use couve picada ou cenoura ralada (ambas cruas). Bata a couve com o pão, como fiz com as urtigas. Mas se usar cenoura ralada, deixa pra acrescentar na tigela, junto com os temperos. Já fiz com cogumelos (champignons), salteados antes de entrar na massa, e ficou incrível (foto abaixo – aqui as bolinhas foram assadas no forno).

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