Carta pro meu irmão

Da última vez que estive em casa você começou a se aborrecer sempre que eu falava em feminismo. Convencido de que no Brasil as mulheres têm exatamente os mesmos direitos e oportunidades que os homens, você me explicou que ser mulher não me impedia de fazer nada e não implicava nenhuma dificuldade extra no que eu quisesse ser na vida. “Pare de levar tudo pro lado do feminismo!” você dizia, extremamente irritado.

Quando a ONU publicou o último relatório sobre os dados atuais de violência contra a mulher no mundo contei pra você o que tinha passado o dia repetindo pros outros: uma em cada três mulheres foi vítima de agressão física ou sexual da parte de um homem. Você me olhou sério e disse : “Não é verdade. Eu não conheço nenhuma mulher que tenha sofrido violência de um homem. Você não conhece nenhuma. Você mesma nunca foi vítima desse tipo de violência.”

Eu não conseguia acreditar nas palavras que tinham chegado aos meus ouvidos. Além de declarar, sem nunca ter se informado ou pesquisado sobre o assunto, que os dados daquela pesquisa eram falsos você afirmou, sem ter se dado o trabalho de me consultar, que eu não conhecia nenhuma vítima de violência e que nunca tinha acontecido nada do tipo comigo. Eu quis te responder imediatamente, mas estava em estado de choque. Desde então penso em te escrever essa carta.

Você disse que eu nunca sofri discriminação nem tive dificuldades em fazer nada por ser uma mulher. Então permita que eu conte apenas alguns dos muitos episódios da minha vida em que eu me senti discriminada e oprimida por ser mulher.

Quando éramos crianças nossa mãe me acordava mais cedo pra limpar a casa, mesmo durante as férias. Você tinha o direito de dormir o quanto quisesse porque, segundo ela, ‘casa onde tem mulher, homem não trabalha’.

Quando comecei a trabalhar como estagiária em um hotel, aos 17 anos, fui chamada na diretoria e criticada por trabalhar de cara lavada e tênis. O gerente disse que eu não tinha uma imagem profissional e exigiu que eu usasse maquiagem e salto alto. A partir dali fui obrigada a usar parte do meu salário minúsculo pra cultivar a ‘imagem profissional’ que ele queria, enquanto os estagiários homens tinham uma imagem profissional de cara lavada e tênis.

Cheguei na França sem falar uma palavra de Francês e passei um ano inteiro estudando duro pra dominar o idioma e poder entrar na faculdade. Na prova de língua que estrangeiros têm que fazer antes de serem aceitos na faculdade minha nota foi 94 (o máximo era 100). No meu primeiro ano na Sorbonne o diretor do meu curso me chamou pra conversar depois da aula. Ele queria me informar que eu tinha as notas mais altas do curso inteiro e disse: ‘Seu Francês é perfeito. Seu namorado francês fez um ótimo trabalho.’

Saí da Sorbonne laureada, mais isso não impediu que esse mesmo senhor, que era também meu professor, apontasse pra mim e pra outra estudante da América do Sul durante uma aula e dissesse, pra turma inteira escutar: ‘Por que vocês estão se dando o trabalho de conseguir um diploma? É muito melhor arrumar um marido francês, aí vocês não precisam se preocupar com mais nada.”

Em Londres quando eu terminava o trabalho de madrugada era obrigada a voltar pra casa de taxi, gastando o equivalente ao que eu ganhava em duas horas de trabalho com a corrida, porque voltar de ônibus, no meio da noite, tendo que percorrer sozinha a distância que separava a parada da minha casa era perigoso demais pra uma mulher. Meus colegas homens podiam pegar o ônibus noturno e gastar somente uma fração do que eu era obrigada a gastar.

Alguns anos atrás comecei a sentir uma dor aguda no quadril esquerdo, seguida por momentos de dormência em toda a parte esquerda do corpo. Assustada, procurei um médico. Depois de me escutar descrever os sintomas ele declarou com um sorriso cínico, sem ter me examinado: “Você é mulher. Isso é estresse”. Mudei de médico e um raio-X mostrou que a dor e a dormência estavam sendo causadas pelo desvio de uma vértebra, que estava pressionando um nervo.

Você também afirmou não conhecer nenhuma mulher que tenha sido vítima de agressão física ou sexual da parte de um homem. Mas você conhece, sim. Muitas. Deixe eu te contar o que aconteceu com algumas mulheres da nossa família (…)

Agora permita que eu te fale sobre as mulheres que eu conheço. Não vou contar todas as histórias que elas me contaram, só umas poucas, senão essa carta não teria fim. N foi abusada sexualmente pelo marido da irmã durante a infância. Quando ela finalmente contou pra família, eles não acreditaram. R estava saindo de uma boate com uma amiga quando três homens começaram a segui-las e a assedia-las verbalmente. Elas tentaram ignora-los, depois responderam com calma, por último gritaram pra eles irem embora. Depois de serem seguidas por um longo período, dois dos três homens começaram a espancar R e a amiga. Um dos homens derrubou R no chão e, segurando-a pelos cabelos, bateu o rosto dela contra o asfalto. Além dos ferimentos,  um dos seus dentes foi quebrado. O terceiro homem assistiu a tudo sem se mover, enquanto minha amiga pedia que ele fizesse com que os amigos parassem. N tinha 9 anos e estava chupando um pirulito na rua quando um homem adulto parou na sua frente, agarrou o pênis com a mão e disse: “Chupa aqui”. T estava andando no bairro onde mora quando um homem parou o carro atravessado no meio da rua estreita, bloqueando a sua passagem, abriu a porta do carro, colocou o pênis pra fora e começou a se masturbar. Outra amiga viveu uma situação idêntica, indo pro trabalho. Um homem a encurralou em um rua sem saída, baixou as calças e começou a se masturbar na frente dela. L foi estuprada pelo ex namorado e pelo melhor amigo dele, na mesma noite. A namorada de uma ex minha foi estuprada a poucas ruas de onde morava. M foi estuprada por vários homens ao mesmo tempo, também perto de onde morava. S. apanhou do namorado. O foi agredida e sofreu uma tentativa de estupro no trem quando não tinha nem 16 anos. Z e a namorada foram estupradas, uma na frente da outra, por um grupo de homens que punem com estupro mulheres que cometeram o “crime” de ser lésbica. Elas mudaram de cidade, mas as duas foram agredidas novamente por outro grupo de homens. Na segunda vez só Z saiu com vida.

Você disse que a condição da mulher só era difícil em um ou outro país governado pelo fundamentalismo e extremismo religioso (você citou o Afeganistão).  As agressões que estou contando nessa carta aconteceram na França, Índia, Bélgica, Palestina, Inglaterra, Polônia, Hungria, Alemanha, Uganda, Brasil. Como aquele relatório da ONU mostrou, violência contra a mulher existe no mundo inteiro.

Como praticamente toda mulher, eu também sofri agressões. Teve todas as vezes em que um homem colocou a mão na minha coxa ou pegou na minha bunda em um ônibus ou van e, apesar dos meus protestos, os outros passageiros fingiram que não escutavam nada.

Ou quando paguei por uma massagem em um spa e o massagista deixou os dedos “escorregarem” pra dentro da minha calcinha, até que na terceira vez eu me levantei e saí correndo.

Um dia, aos 19 anos, cheguei no trabalho com uma calça colada no corpo, o que não era costume meu. Meu chefe se aproximou e disse: “Você tá muito gostosa hoje. Tá merecendo ser estuprada.”

Alguns anos atrás eu estava voltando pra casa com Anne à noite quando um rapaz começou a nos seguir na nossa rua, que estava deserta. Ele se aproximou e pegou na bunda de Anne, que se virou bruscamente, empurrou o rapaz e começou a gritar com ele. Ele tirou uma faca do bolso e levantou o braço armado pra Anne. Instintivamente coloquei meu corpo na frente dela. Ele me agarrou pelo pescoço e me empurrou contra o muro, me imobilizando, uma mão na garganta me estrangulando e a outra segurando a faca apontada pro meu rosto. Anne deu um empurrão nele, fazendo com que ele me liberasse, e saímos correndo. Mas ele correu atrás de nós. Avistamos três homens caminhando na nossa direção e gritamos por socorro. Um deles, vizinho nosso, teve tempo de ver o rosto do agressor e nos disse que não devíamos nos preocupar porque ele conhecia o rapaz e ele era inofensivo. Fomos à polícia prestar queixa e explicamos que um dos nossos vizinhos conhecia o agressor. Quando os policiais foram à casa dele ele falou que nunca tinha dito que conhecia o rapaz, que era tudo mentira nossa. No dia seguinte contei pra um conhecido meu o que tinha acontecido e ele perguntou: “Que horas foi isso?” Respondi que tinha sido às 22h. Então ele disse: “Normal, né? Quem mandou duas mulheres andarem sozinhas à noite?”

 Uma tarde eu estava caminhando de mãos dadas com a minha namorada em uma parte movimentada da cidade quando um homem veio na nossa direção, apontou pra nossas mãos e gritou pra mim: “Que porra é essa? Eu vou te foder aqui mesmo pra você aprender.”

 Muitos anos atrás eu estava viajando e um grupo de rapazes locais começou a me seguir por todos os lugares da cidade. Uma noite um deles passou por mim na garupa de uma moto e deu um tapa no meu peito. Comecei a me sentir mal e decidi sair daquela cidade mais cedo. No caminho pra estação de trem peguei um rickshaw, esses transportes compostos de uma carrocinha puxada por uma bicicleta. Subi na carrocinha e equilibrei a mala no colo, mas o homem na bicicleta não avançava por causa do engarrafamento. Nesse momento os quatro rapazes que tinham me assediado durante dias cercaram a carrocinha e começaram a passar a mão no meu corpo inteiro, os quatro juntos. Eu tinha que segurar minha mala sobre os joelhos e me defender das oito mãos me apalpando ao mesmo tempo e gritei pro senhor da bicicleta me ajudar. Ele olhou pra trás por alguns segundos e não disse absolutamente nada. Foi durante o dia e muitos passantes viram a cena sem protestar, sem tentar me ajudar.

Durante essa mesma viagem visitei um vilarejo tranquilo e me hospedei na pousada de uma família muito simpática. O pai e dois filhos homens tomavam conta da pousada e um dos três sempre passava a noite lá pra não deixar os hóspedes sozinhos. Durante os dias que fiquei lá o filho caçula me seguiu por todos os lados. Insistia pra me acompanhar em todas as visitas e sempre sentava na minha mesa durante as refeições, mesmo sem ter sido convidado. Comecei a me sentir muito desconfortável. Na véspera da minha partida todos os outros hóspedes tinham ido embora e eu fiquei sozinha com o filho mais novo na pousada. Por volta das 23h ele bateu na porta do meu quarto dizendo: “Preciso falar com você. Abra a porta!”. Respondi que não ia abrir, que era tarde e que queria dormir. Mas ele insistiu, batendo cada vez mais forte na porta, gritando cada vez mais alto que precisava falar comigo, que eu não podia ir embora, que ele estava apaixonado por mim, que eu era a mulher da vida dele, que eu não tinha o direito de abandona-lo… Fui ficando muito assustada, pois ele podia facilmente derrubar aquela porta e me agredir. Ou, pior ainda, me estuprar. Adocei meu tom de voz e disse todas as mentiras que imaginei que pudessem acalma-lo. Disse que eu voltaria. Que também queria conversar com ele, mas de manhã, pois naquele momento estava muito cansada. Que se ele fosse pro quarto dele e me deixasse descansar eu não iria embora no dia seguinte. Até que escutei ele se afastando do meu quarto. Voltei pra cama, mas o medo não me deixou dormir. Uma hora depois escutei ele voltar. Dessa vez ele não disse nada. Parou na frente do meu quarto e de repente o cheiro de gasolina passou por debaixo da porta e entrou nas minhas narinas. Ele tinha voltado com gasolina e despejou o combustível na porta de madeira. As janelas do meu quarto, no primeiro andar, tinham grades, então eu não podia pular. Abrir a porta significaria correr o risco de ser estuprada, ali naquela pousada vazia. Se a porta continuasse fechada ele ia colocar fogo no quarto e eu morreria queimada. Gritar pedindo socorro não serviria de nada, pois a pousada ficava em um local isolado. Eu ia morrer queimada e ninguém naquele momento podia me ajudar. Fiquei do lado da porta com todos os sentidos em alerta, os punhos cerrados, esperando escutar o barulho do fósforo sendo riscado. Imediatamente, pensei, eu abriria a porta, atravessaria o fogo e pularia da varanda, mesmo correndo o risco de não encontrar ninguém naquelas ruas desertas pra me ajudar. Era minha única chance de sobreviver. E assim fiquei, em pé, de pijama, todos os músculos contraídos, enquanto ele andava de um lado pro outro no corredor em frente à minha porta. Isso durou quase a noite inteira. Por volta das 4 da manhã ele foi, enfim, pro quarto dele. Troquei de roupa, fechei a mala e fiquei dentro do quarto esperando alguém chegar de manhã pra abrir a porta da pousada. Tentei sair de lá quase correndo, mas o pai insistiu pra que o filho me acompanhasse até a ferroviária e aceitei porque explicar o que tinha acontecido na noite anterior ia acabar retardando a minha partida. Tudo que eu queria era ir embora pra bem longe dali, o mais rápido possível. No caminho da ferroviária tive que escutar a pessoa que por horas tinha ameaçado me matar queimada exigindo que eu ficasse, que me casasse com ele e dizendo que se eu não voltasse em um mês ele se suicidaria.

Porém a agressão que deixou as marcas mais profundas foi a primeira de todas. Eu tinha entre 4 e 5 anos. Minha mãe gostava de visitar uma amiga e o marido dela, que moravam perto, e às vezes me levava com ela. Um dia minha mãe foi pra cozinha com a amiga e me deixou sentada na varanda com o marido dela. Quando se viu sozinho comigo ele se aproximou, colocou a mão dentro da minha calcinha, colocou os dedos dentro de mim e ficou falando obscenidades pra mim enquanto mexia os dedos. Fiquei em estado de choque, sem entender o que aquele homem tinha feito comigo e decidi fingir que não tinha acontecido. Consegui não pensar no assunto durante dez anos. Aos 15 anos comecei a ter pesadelos com ele e dessa vez não consegui mais enterrar a agressão na pilha de memórias esquecidas. Comecei a ter medo de todos os homens que se aproximavam de mim, até do meu pai e dos meus irmãos. Eu tentava disfarçar, pois não queria que a família descobrisse o que tinha acontecido. Sofri calada durante um ano. Nessa época eu peguei um ônibus lotado voltando da escola e um homem se encostou em mim por trás. Senti a ereção dele, senti ele roçando o pênis contra a minha bunda e o medo que me invadiu naquela hora me paralisou. Eu não consegui reagir, fiquei imóvel, as lágrimas rolando pelo meu rosto. No dia seguinte decidi procurar ajuda. Eu não podia continuar vivendo com medo nem podia deixar aquele medo me impedir de reagir em situações de violência e abuso. Procurei o psicólogo da escola e expliquei que estava vivendo uma fase difícil, que estava com medo de ser abusada por qualquer homem que se aproximasse de mim, mesmo os meus irmãos e que precisava de ajuda. A primeira frase que saiu da boca do psicólogo foi: “Por que você se considera tão irresistível ao ponto de achar que todos os homens vão se interessar por você?”

Consegue imaginar agora o que senti no momento em que você disse que nem eu nem nenhuma mulher que eu conhecia tínhamos sido vítimas de violência?

Se você não vê opressão nem violência contra as mulheres não é porque ela não existe, é porque a sua realidade é completamente diferente da nossa.  Você, como homem, tem privilégios que nós não temos. O privilégio de não ter o seu espaço pessoal e seu corpo constantemente invadidos. De não ouvir ameaças de estupro de desconhecidos na rua ou do seu chefe. De não viver com medo de ser estuprada, pois no Brasil uma mulher é estuprada a cada onze minutos e a possibilidade de você ser a próxima está sempre presente. Você nunca saberá como nos sentimos nesse mundo onde o simples fato de andar na rua é suficiente pra convencer os homens de que eles podem te assediar e onde a cantada pode virar agressão física num piscar de olhos. Isso tudo, invisível aos seus olhos, é a nossa realidade. Não duvide de quem sofre com violências que você nunca sofreu.

O outro motivo que te levou a acreditar que as mulheres ao seu redor nunca tinham sofrido agressões foi o fato de nenhuma delas ter contado nada pra você. Saiba que isso não significa que nada estava acontecendo. Mesmo depois de termos sido vítimas de uma agressão nos calamos, pois talvez não acreditem em nós, talvez tentem minimizar ou ignorar completamente nossa dor, talvez nos acusem de ter ‘provocado’. Por isso eu nunca tinha te contado nada. Nem a você nem ao resto da família. Por isso nenhuma mulher chegou pra você expondo as cicatrizes que ela carrega.

Pra você ter uma ideia, precisei de quinze meses pra reunir a coragem de te enviar essa carta. Durante todo esse tempo tive medo de você não acreditar em mim. Passei o último ano com um nó no estômago pensando que ao te enviar essa carta eu corria talvez o risco de perder o seu amor pra sempre. Mas aquela conversa mudou algo dentro de mim. Percebi a que ponto me calar criava a ilusão de que crimes contra mulheres não existem e que era isso que estava produzindo opiniões como a sua. Também me dei conta que meu silêncio desencorajava outras mulheres a denunciar as agressões das quais foram vítimas.

Será que depois de ler essa carta você ainda vai se irritar quando eu falar de feminismo? Me pergunto se essa sua irritação vem do fato de você imaginar que te vejo como uma pessoa ruim, um inimigo. Ou se você confunde a minha luta contra opressão e por direitos iguais com uma vontade de retirar os seus direitos. Nada disso é verdade. Pra mim você continua sendo um ótimo irmão, uma pessoa boa e generosa. Quem não é vítima não é necessariamente culpado e gostaria muito que você entendesse isso. E direitos não é um pacotinho recheado com algo material e escasso que só pode ser oferecido pra um grupo se for obrigatoriamente retirado de outro grupo. É possível ter justiça e direitos iguais pra todos.

Se essa carta te tocou de alguma maneira gostaria de te fazer um pedido. Pare de contar e rir de piadas sexistas. Elas não são inofensivas, pois naturalizam a discriminação e banalizam a violência contra as mulheres. E numa sociedade onde sexismo é ‘engraçado’ e aceitável cria-se um terreno fértil pra cultivar a violência contra as mulheres. Se você escutar um amigo dizer algo sexista ou degradante pra mulheres, reaja. Não ignore. Silêncio é uma forma de cumplicidade. Diga que não concorda, explique por que isso nos prejudica e fale que não vai tolerar esse tipo de comportamento. E quando você escutar uma mulher falando das injustiças, assédio e violência que fazem parte do seu quotidiano, não duvide da palavra dela, escute. Não mande ela se calar, escute e pergunte como você pode ajudar a construir um mundo onde isso não acontecerá mais.

O nó no estômago continua aqui e ainda tenho um medo imenso de que essa carta cause uma fissura irreparável na nossa relação. Você é o homem mais importante na minha vida e perder o seu amor seria uma dor que nem consigo imaginar. Mas compreendi que tem algo ainda mais importante do que o meu medo: usar os meus recursos pra que minhas sobrinhas cresçam em um mundo onde ser mulher não será o maior fator de risco na vida delas. Pra que nenhuma mulher passe pelo que eu e minhas amigas passamos. Pra que as filhas que você terá não entre nas tristes estatísticas que citei nessa carta. E decidi acreditar que essa carta é a minha chance de te mostrar que além de não ter motivo nenhum pra se irritar, pois ninguém está tentando te prejudicar, você tem a oportunidade de me ajudar a fazer isso acontecer.

Sua irmã que te ama.

60 comentários em “Carta pro meu irmão

  1. O seu nó na garganta é nosso também. Sei que precisou de muita coragem para escrever a carta, só posso dizer obrigada e oferecer meu abraço sincero. Não sei o que dizer…mas você não está sozinha. É revoltante ler que em todas essas situações os homens se calaram, agiram como “se fosse normal”. Muitas vezes é difícil acreditar que vai melhorar, mas a luta diária, ainda que cansativa é a nossa única saída. A luta é a nossa esperança, é a nossa força.

  2. Sandra, seu texto é uma jóia rara e poderosa nesta luta que travamos para construirmos um mundo sem opressão, violência e injustiça contra as mulheres. Parabéns e não tenho como agradecer suas palavras.

  3. Sandra
    Faz tempo que não nos falamos …
    Sua carta me deixou com lágrimas nos olhos. Quanta verdade dita ai. E que coragem de dizê-las.
    Eu acredito que as coisas vão mudar, um dia vão mudar, graças a essas verdades que estão sendo ditas, por você e outras mulheres de coragem.
    Um beijo grande e até breve, espero
    Lilica

  4. Maravilhoso o seu depoimento. Ter a coragem de falar é sua maior arma para se ajudar e ajudar também as outras mulheres. Seu irmão deveria se orgulhar de você, da pessoa que se tornou mesmo depois de vencer tantos desafios.

  5. Eu só tenho forças para lembrar das palavras da Manal, que você nos apresentou:

    “Não perca a coragem” e ela respondeu, muito calma “Não existe outra opção.”

    Você está no meu coração agora, Sandra. Sempre esteve, num lugar cercado de muito, muito carinho. Mas agora está num lugar de mais carinho, orgulho e gratidão. Grata por tanta coragem, grata por lutar por um mundo melhor para nós: para você, suas sobrinhas, irmãs, eu, minha irmã e minha filha.

    Você não está sozinha. Estamos aqui, extremamente agradecidas!

  6. Sandra, querida. Passei o dia inteiro pensando em você, com aquele aperto no peito. Tive que parar diversas vezes a leitura para conseguir respirar. Você é extremamente forte para conseguir escrever essa carta. Sinto muitíssimo você (e a Anne, e as mulheres citadas nessa carta e todas as mulheres do mundo) ter passado por todas essas coisas. Nós, mulheres, sabemos muito bem o que é ter esse medo constante e sermos discrimidadas diariamente, pelo simples fato de sermos: mulheres. Deixo aqui todo meu carinho, meu amparo, meu abraço e o meu amor. Queria poder apagar todos essas coisas horríveis que aconteceram com você (e com todas as outras), mas não é possivel, infelizmente. Continuaremos lutando, contra todas essas atrocidades que acontecem diariamente, a cada minuto, a cada segundo. Estamos juntas, como lhe disse no email. Você não está sozinha. Com carinho e com o coração despedaçado, Ingrid.

  7. De tantos depoimentos, esse foi o mais forte, profundo, sincero e o nó que você sente é compartilhado por você é de todas. Quem sabe agr não tenha coragem de compartilhar o meu….

  8. Sandra, agradeço pelo texto e por ter escolhido não mais manter invisíveis tantos exemplos de opressões que sofremos. Cada relato, por mais fundo que mexa e bagunce, acaba ajudando a nos fortalecermos. Vc não está sozinha, e, com essa sua carta, sinto que também não estou. Não estamos. Seguimos juntas =) Um abraço forte, que espero logo poder entregar pessoalmente. E um cheiro =)

  9. Sandra, meu amor.
    Quando você me disse ontem que hoje precisaria de luz sorora, eu nunca duvidei de que algo forte viria, e estive o dia inteiro com o pensamento em você, para que você fizesse o que tinha que ser feito. E agora estou aqui, aos prantos, te abraçando à distância e te mandando toda energia que eu posso, do fundo do meu coração.
    Tenho certeza que o seu irmão saberá ler as suas palavras com carinho. E as minhas. E as que vierem. Estou contigo ontem, hoje e sempre. Abraços infinitos, amor e sororidade, ontem, hoje e sempre. Você nunca, nunca, nunca estará só! <3

  10. …me sinto representada pelas suas palavras e sentimentos, me identifiquei com muitas situações e consigo me lembrar que quando engravidei da minha filha tive tanto medo, rezava muito, por medo do que ela poderia enfrentar nesse mundo, onde só os homens são intocáveis, o tempo foi passando, ela cresceu, e logo cedo começou os assédios, os amigos dos irmãos, a caminho da escola, faculdade, enfim ela tem quase 30 anos e nada, absolutamente nada mudou, eu como mãe de mais três meninos, os eduquei prá respeitar todas as mulheres,com o argumento :já pensaram se fosse sua irmã? Uma quase chantagem na intenção de proteger a minha filha e a filha de outras mulheres, mas de novo nada mudou até hoje, porque está no subconsciente de todos, é quase uma piada como vc mesma disse, e tantas mulheres igualmente machistas por isso, precisamos educar NOSSOS MENINOS!

  11. Sandra, pensei em te escrever e-mails ou deixar comentários diversas vezes apenas para dizer o quanto a tua escolha de compartilhar tanta coisa aqui me inspirou!
    Ler todas as histórias que tu conta aqui me ajudaram não somente na minha jornada para me tornar vegana, mas me fez acreditar que eu realmente poderia viver de maneira diferente e não precisava buscar o mesmo estilo de vida que todos parecem almejar. Hoje eu estou em lugar (geográfica e emocionalmente) tão diferente de quando conheci o Papacapim! 🙂
    Queria que tivesse uma maneira, não muito freak, de demonstrar o carinho que sinto por ti! :p
    Muito obrigada pela coragem de abrir o coração aqui, sinta-se MUITO abraçada!

  12. A interrupção da violência física e psicológica depende que verdades sejam ditas, a fim de corrigir a miopia da cultura machista, que camufla a sordidez da violência contra as mulheres. O absurdo é tamanho, para não dizer bizarro, que o mundo inteiro se nega a enxergar a exploração contra as mulheres! A carta deixar claro que, na realidade dos homens, as diversas formas de opressão contra as mulheres simplesmente não existem. Somente haverá mudança, quando eles enxergarem o mundo a patir dos nossos olhos. O silêncio precisa ser quebrado! A realidade machista precisa ser desconstruída!

  13. Sandra, a sua dor é a dor de todas as mulheres.
    Há quase vinte anos fui agredida pelo pai de uma amiga, que na época eu chamava de “tio”, isso me marcou muito e até hoje sinto um nó no peito quando lembro da violência que sofri. Não tive coragem de contar pra minha amiga e me afastei da família dela. Eu era muito jovem e me senti muito só. Gostaria de ter tido coragem de denuncia-lo na época, mas me calei por vergonha e medo de “magoar” alguém.
    Sua carta vai ajudar muitas mulheres e meninas a não se sentirem tão sozinhas.
    Grata por tanta coragem.
    Sinta-se abraçada por sua amiga.

  14. Travo atualmente batalha semelhante a esta que você se lançou ao escrever esta carta.
    Que eu consiga ter a mesma ternura, que eu consiga tocá-los(as) mantendo os vínculos de amor intactos, e que a exposição das minhas feridas seja parte do meu próprio processo de cura.
    Muito importante sua carta.
    Agradeço.

  15. Sandra, querida, apesar do impacto do seu blog na minha vida, raras foram as vezes que deixei um comentário. Desta vez, no entanto, é impossível deixar passar. A sua força continua a ser um exemplo para mim. Sua força, sua motivação, sua energia e sua luta. Muito obrigada por compartilhar essa carta. Gostaria de relê-la, mas antes preciso me recompor da primeira leitura. Sinto muito, muito, por cada um desses atentados à sua integridade física e emocional – e pelos atentados a cada uma das outras mulheres apontadas no seu texto.

    Imagino que o seu depoimento vai empoderar muitas meninas e mulheres. Muito obrigada por isso.

    Sinta-se abraçada, amada e (ainda mais) fortalecida.
    Beijo,

    Nicole.

  16. Olá irmão da Sandra, desculpa vir aqui me intrometer em assuntos familiares, mas como sua irmã decidiu escrever essa carta, acredito de minha parte que nada mais certo que apoiá-la. Eu devo muito à sua irmã e à outras mulheres do mundo, por isso jamais as abandonarei. Então espero que você nao se importe 🙂

    Acredito que voce saiba algo sobre a hashtag #meuprimeiroassedio.

    Quando tudo isso começou, eu tive que fazer um esforço imenso pra lembrar quando eu tinha sofrido assédio por primeira vez… depois de tanto pensar, as memórias voltaram como um tsunami e eu me vi, menina de 9 anos, de camisetinha e shortinho no Playcenter, tentando ver “o Show da Casa Maluca”, enquanto alguém no escuro passava a mão na minha bunda. Memória sobre o show eu nao tenho, pois só lembro de tentar me apoiar em outra pessoa para que aquela mão parasse de me tocar, daquele sentimento de culpa que eu senti e o sentimento que “tinha que esconder isso da minha mãe”, já que ela tinha deixado eu entrar sozinha na Casa e eu nao poderia decepciona-la… com 9 anos e eu já me sentia culpada, imagina. E consegui, durante muitos anos bloquear esse acontecimento nos confins da memória, sem que isso gerasse “inconvenientes”. Quando contei essa história na internet, 27 anos depois, foi a vez de minha mãe se sentir culpada… onde já se viu, minha mãe me pedindo desculpas, por algo que nao era culpa dela? Porque obviamente isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde… como aconteceu.. semanas ou meses depois, durante quase todos os dias da minha vida, até hoje, aos 35 anos.

    Outro dia eu tava vendo um vídeo sobre o tema e perguntei pro meu grupo de amigas “quantos anos vocês tinham quando rolou o primeiro assédio de vocês?”.
    Presta atenção na minha pergunta… eu nao perguntei “vocês já sofreram assédio alguma vez? Se sim, com que idade?”. Eu SEI que todas elas sofreram. E TODAS, absolutamente TODAS, com uma idade inferior aos 11 anos. É muito errado.

    Eu imagino que deva ser muito difícil pensar fora da bolha quando já se tem todos os privilégios garantidos, mas as grandes mudanças, as mudanças reais, acontecem quando todos nos damos contas das grandes injustiças e juntos a combatemos. Infelizmente essas grandes mudanças acontecem quando nos damos conta nos nossos pequenos atos, como sua irmã mesma disse… dentro das pequenas piadas, dentro dos pequenos “deixa pra lá”, dentro dos pequenos “ai, você nao tem senso de humor”.

    Enfim, ela explicou tão bem e deu exemplos tão melhores que os meus que eu já me estou enrolando e ficando sem saber o que dizer. Só espero do fundo do meu coração que você leia as lindas palavras dela com carinho. E as minhas. E as que vierem. Desculpa pelo relato meio atrapalhado, no calor da emoção as ideias chegam juntas e se embaralham. Te mando beijos e luz <3

  17. Sandra, esta carta me representa em cada linha. Obrigada pela coragem de exibir todas essas cicatrizes e escancarar os abusos sofridos. Estes tão frequentes para todas nós mulheres. Você não está sozinha nessa luta. Sinta-se abraçada! São pessoas como você que permitem que ainda haja esperança em dias melhores. Porque nossa luta existe, esse mundo há de ser melhor para as mulheres que virão.

  18. da!
    quando comecei a ler esse texto tive que parar pois não queria chorar na frente de todos. Resolvi ler depois, e é muito emocionante ver vc escrevendo verdades de todas nós! Como suportamos tanta violência? Como ainda sofremos o mesmo de nossas avós?
    Avançamos muito, e temos que continuar lutando para que essas histórias deixem de ser naturais em todas as famílias!! Obrigada por sua partilha! Beijos

  19. Sandra, parabéns pela coragem em expor suas feridas, que todas as mulheres são ensinadas a esconder. Sinto muito por tudo que você e suas familiares e amigas passaram, o que cada uma sofre dói em todas nós.
    Precisamos inverter essa situação em que as vítimas que sentem vergonha, a vergonha é de quem cometeu e comete tantas agressões às mulheres e de quem escolhe não enxergar o que está na cara de todo mundo. Relatos como o seu são importantíssimos para mudar essa situação, pois o silêncio colabora para dar ares de normalidade ao inaceitável.
    Eu admiro muito sua atitude pacífica, se fosse eu ouvindo tais coisas, eu não conseguiria me segurar e me preparar para responder de forma tão didática e amorosa. Espero que seu irmão perceba isso nas suas palavras como eu percebi.
    Abraços solidários!

  20. Sandra, quanta coragem! Acho que tu és a pessoa mais corajosa que já ‘conheci’! obrigada por explicitar a rotina do mundo, pois parece que as pessoas fecham os olhos para isso.
    Crime é crime, sem ‘ismos’, não interessa quem é a vítima ou quem foi o agressor – homem, mulher, agressão é um crime independente de quem a pratica.
    Beijos no coração, muita paz e muita luz!

  21. Olá Sandra! Que promissor podermos dar assas aos medos e traumas das menina/mulheres. Poder sinalizar uma possibilidade de libertação dos situações vividas e ficam “guardadas” a causar danos pela vida toda. Grata por sua coragem! Abs.

  22. Bonsoir, Sandra!!!
    Texto desconcertante. Poucas vezes vi alguém estampar sua alma em palavras com tanta intensidade, de forma tão crua e franca como você nesse momento.
    Como homem, me sinto indignado, entristecido, de alma despedaçada, em ver escancarado com todas as letras e argumentos o fato de que pessoas da nossa classe masculina se prestam ainda a esse papel, por intolerância, falta de respeito ao próximo, egoísmo, egocentrismo, orgulho, machismo, ideias medievalizadas. Porque saber nós sabemos muito bem, mas infelizmente fechamos nossos olhos, e, como você, Sandra, colocou várias vezes, vemos e nos mantemos na inércia, por acharmos que, se não é conosco, não temos que nos meter.
    Alguém pode perguntar “mas você é homem, e estamos falando de violência contra mulheres”. Sim, sou homem. E por isso mesmo me vejo na obrigação moral de me unir a vocês, mulheres, contra indivíduos que, por prazer doentio, necessidade de satisfazer seus desejos deturpados, ideal de impunidade, ainda teimam em tratar mulheres como meros objetos de prazer carnal e sexual.
    Como queremos igualdade, se achamos que mulheres devem nos servir? Como queremos liberdade, se ainda acreditamos que mulheres devem se prender a padrões de comportamento que não fazem mais sentido hoje? Como queremos moralidade, se toda a nossa cultura ainda é machista?
    Sim, machista. Vá numa farmácia aqui em terra brasilis, e procure a parte de preservativos. Com sorte, achará um ou dois preservativos femininos escondidos em meio a uma montanha de camisinhas. Somos ou não somos machistas?
    Ainda estamos atrelados a estupidez de que “azul é cor de menino, rosa é cor de menina”. Sim, o machismo afeta até a nós, homens, que por vezes provamos do próprio veneno. Acha que não? Macho alfa, experimenta então colocar uma camisa social rosa e participar de uma reunião na sua empresa. Ou colocar uma pólo lilás, e sair com os amigos “pra tomar uma”.
    Bem, poderia continuar falando, mas o blog não é meu, o texto não é meu, aliás, falei até demais.
    Tenha certeza de que seu texto mexeu comigo, cara amiga Sandra. E espero que tenha conseguido chegar ao objetivo de tocar o coração e a alma de seu irmão. E de tantos outros irmãos leitores de seu blog, que possam, a partir de agora, ver suas irmãs, suas mães, filhas, cônjuges, colegas de trabalho e as mulheres da sociedade de forma que elas merecem… Como mulheres. E não como objetos de deleite sadista e doentio.
    Beijos do seu amigo carioca sumido!!!
    Carlos.

  23. Sandra, eu não te conheço e, apesar de seu blog ter um grande significado na minha vida, raríssimas vezes eu deixei um comentário (talvez, nenhuma). Mas dessa vez é impossível não dizer nada. Fiquei muito tocada por sua carta e espero que seu irmão tenha sensibilidade suficiente para ler e refletir. Muito obrigada por sua coragem. Certamente ela vai servir de impulso pra muitas outras de nós deixarem de calar. Um grande, grande abraço.

  24. Que bom que compartilhou sua carta conosco. Os flashes das humilhações que passei vieram todos de uma vez…a primeira delas aos 7 anos só relembrei com terapia…sua dor é nossa dor. O planeta está mudando graças a pessoas como vc! bjs

  25. Olá querida, sua dor é compartilhada. O coração parte de reconhecer tantas histórias em comum entre todas nós. Parabéns pela coragem de escrever esta carta. Um abraço muito forte.

  26. Me enche o peito de orgulho saber que tenho você para me ajudar, apoiar e conversar sobre essas causas tão tristes que vivenciamos diariamente! O tema precisa ser cada vez mais debatido e esclarecido porque, ainda hoje, os pensamentos ignorantes são muitos. Você nos inspira na luta

  27. Como ler esse texto e não deixar meu forte abraço para você? Não tem como… não há mulher no mundo que não tenha se identificado com teu texto. Força pra ti! Beijão!!

  28. Worst thing is being silent . And if you tell something ? Usually you complicate things some more….
    And who wants this?
    If more women did talk there would be more conscience about how huge this issue is.

    And your neighbour is a man who does not wont complications (hatred between him and boy’s family)

  29. Terminando com lágrimas escorrendo como muitas lágrimas amargas, azedas, salgadas e com certeza ácidas correm em bochechas femininas e infelizmente ainda descerão. E nunca iremos nos calar, quem ainda não consegue falar, vai fazer das de outras palavras as suas e assim um dia tudo terá que mudar!!! Mui grata, por ao ler essa carta e me apropriar da sua coragem, me sinto mais forte e mais mulher, feminina e um pouco mais feliz a cada dia!!! Ana Cecília.

  30. Nó na garganta. Foi por causa da #primeiro assedio, ano passado, que decidi abraçar o veganismo de vez. De repente entendi que é preciso banir toda forma de abuso. O maior insight que já tive na vida. Todos os abusos se fazem em sistemas que privilegiam a condição do agressor, oprimem a vítima e naturalizam a agressão.

    Vontade de chorar profundamente como naquele momento ano passado, em que minhas lágrimas escorriam ferventes pelo meu rosto enquanto lia as histórias da outras e lembrava as minhas próprias. Vontade de ter reagido em todas as vezes com fúria, mas o sentimento de humilhação profundo nos faz geralmente paralisar e querer fingir que não aconteceu.

    Eu decidi desde aquele momento que reagirei com fúria sempre, nunca mais fingirei que não aconteceu, vou berrar até que seja incômodo e se todas gritarmos juntas e sempre e ensinarmos umas às outras a gritar e não a ter vergonha ou calar a situação incômoda exigirá mudanças.

  31. Nunca escrevo comentários, em nenhum post. Pois sempre acho que não tenho nada a acrescentar no assunto. Dessa vez, assim como outras pessoas aqui, decidi escrever pra você saber o quanto seu post é importante.

    Sou homem, e assim como seu irmão, é novidade saber que meninas são assediadas. Minhas amigas devem ter sido, e eu nunca perguntei, nem elas disseram. Meus amigos homens, que podem ou não ter assediado, não contam, nem eu pergunto. A sensação, para os homens que não assediam nem buscam informação de forma mais proativa, é que isto não acontece. Está fora do nosso radar.

    Por isso, é tão importante sim você falar.

    Fico com muita raiva em saber que tanta coisa acontece bem perto e nos esquivamos, assim como fingimos não olhar pra criança pedindo esmola ou pra forma que a comida é feita. O agressor precisa ser ignorado pra continuar. Nós, homens, temos que assumir a culpa por não buscar informações.

    Obrigado por trazer luz neste assuntos constrangedores.

    Beijos, abraços, boas energias, de um admirador dos seus textos.

  32. muito obrigada, Sandra! O teu altruísmo é infinito, tenha certeza disso. Quantas pessoas serão educadas com teu texto, mudarão seus pensamentos, educarão seus filhos para se tornarem pessoas com novos valores, sem a herança maldita do machismo? Atitudes como a tua são sementes que plantamos hoje, amanhã e depois e esperamos frutificar daqui a algumas gerações. Vc já mudou a vida de muitas mulheres, algumas nem nasceram ainda. Muito, muito obrigada! Grande carinho por vc!

  33. Oi Sandra sigo você ha um bom tempo , no começo pelas receitas pois tenho um enteado vegano que amo de paixão e precisei aprender a cozinhar para um vegano , que foi e é muito prazeroso.Me apaixonei pelas suas receitas e principalmente pelas suas postagens , quero dizer que se te admirava hoje sou grata por sua coragem.Muito obrigada !
    Deixo uma frase: A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras(Aristóteles)

  34. entrei aqui porque estava com uma saudade danada e me deparei com essa carta. Que empatia e dor aguda no meu coração. Que custo emocional para escrevê-la. Passamos por momentos tensos e de intolerância expressa. Importante que se fale e se amplie a voz das vítimas (somos todas, as vezes mais, as vezes menos diretamente). Um forte abraço

  35. Irmã! Você me fez chorar, pois me vi em vários dos seus relatos. Já fui estuprada, espancada, sofri abusos desde os 5 anos também e tantas outras formas de violência… São muitas passagens de tristeza e essa dor me trouxe depressão e síndrome do pânico. Hoje com 37 anos sinto que meus nervos não aguentam mais nada. Mas decidi lutar e denuncio diariamente a cultura do estupro ainda que isto me faça sofrer fisica e emocionalmente. E muitas vezes me exponho. E infelizmente muitos homens, bons homens, se sentem ofendidos quando mostro minha dor e a dor de outras mulheres. Vou compartilhar sua carta e pedir que meus homens a leiam com atenção. Gratidão

  36. Olá Sandra, Gratidão pelo seu relato comovente e forte. Confesso que ele abriu minha mente e ampliou a minha sensibilidade sobre o assunto, e me fez sentir vergonha do sexo masculino e da humanidade na sua pequenez. Você mudou minha perspectiva sobre o tema e plantou uma semente no coração que me fará educar minhas filhas de uma forma muito diferente. Mais uma vez, obrigado.

  37. Oi Sandra! Também sou das que nunca tinham comentado no seu blog, mas ao me deparar com esta carta também precisei escrever e agradecer. Você foi muito corajosa e de uma sensibilidade e delicadeza incríveis!

    Espero que seu irmão tenha compreendido que o silêncio é a norma geral das mulheres que sofrem violências e justamente por isso muitos homens, como ele, não veem o qual grave é a nossa situação.

    Meu primeiro assédio, não lembro a idade que tinha, mas era ainda criança, quando na casa de praia da minha tia, com toda a família reunida, um dos meus tios começou a passar a mão sobre a minha calcinha, num momento em que estava só eu e ele no sofá da sala. Como muitas, na inocência da idade não entendi exatamente o que ele estava fazendo, mas não me senti bem e saí correndo e o evitei dali em diante. Talvez nunca chegasse a acontecer algo mais grave pois a casa estava cheia, mas isso não impediu a atitude dele.

    Hoje tenho quase 30 anos e não tenho mais contato com esse tio, mas também até hoje nunca contei esse episódio pra ninguém. NINGUÉM!
    E nem sei se algum dia terei essa coragem. Só escrevi isso aqui pra que outros homens vejam que não é só porque não acontece com eles, nem porque não enxergam, que não acontece com MUITAS mulheres, quase todas na verdade.

    Não é nada fácil pra nós. Não é fácil passar por isso, e mais ainda, não é fácil contar e se expor.
    Parabéns e um forte abraço!

  38. Querida Sandra,

    Obrigada, infinitamente obrigada por ser tão corajosa e de generosidade rara. Aqueles momentos de tanta dor inexplicável, também construíram um pouco ou muito dessa locomotiva de liberdade e amor que você é.

    Há muitos anos que sou avó e fui uma pequena criança também abusada por homens. Ainda que não tivesse sido estuprada sempre me senti frustrada por não ter tido força nem saber me queixar. Eu morria de medo que dissessem que a culpa era minha. Eram tempos muito difíceis de ditadura e pós guerra e cada adulto estava feliz por ter alguma comida. O ” resto” não tinha importância.

    Jámais falei a ninguém e me pergunto como uma criança tão pequena e sem acesso a qualquer esclarecimento, sente tão no fundo que “aquilo” não está certo. Carreguei a vida toda uma tão baixa auto estima e sensação de incompetência que pouco ou nada fiz daquele mundo de sonhos que tinha dentro de miim.

    Nestes sessenta anos o mundo parece ter mudado: mais comida, lindos brinquedos para crianças e adultos, festivais disto e daquilo. Mas até há pouco tempo o “resto” cotinuava a não ter importância.

    Obrigada, mais uma vez. Tenho a certeza que muitas e muitas crianças, próximas ou não tão próximas de seus leitores, estão a ser protegidas dessas dores.

    Porque você teve a coragem!

    O.

  39. Chorei lendo esta carta. Muito obrigado por compartilhar isso com o mundo. Admiro você e toda a sua luta. Estou em constante desconstrução e minha amada esposa tem sido meu farol. A cada dia que passa tenho lido mais sobre a realidade fora da bolha em que fui criado. Hoje me sinto mais leve dos tabus, mas mais pesado com as responsabilidades sociais por ser um homem cis heterossexual branco. Quero aprender com vocês como melhorar o mundo e acredito num futuro melhor. Forte abraço.

  40. Obrigada, Sandra.
    Sua carta me tocou muito. São muitos homens que não têm a menor ideia das violências pelas quais as mulheres de suas vidas passaram e passam. Espero que seu irmão seja tocado por essa carta e te acolha!

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