O que fiz pra merecer isso?

Espaguete com molho de tomate, hortelã e raspas de limão

Há dias que sofro de um mal estranho e inédito pra mim: não tenho vontade de comer quase nada e toda a comida que preparo me deixa enjoada. Como é mais fácil Macabéa (minha vaca) perguntar ao meu pai o que andei fazendo esses anos todos enquanto ela pastava tranquilamente no interior do RN do que eu estar grávida, me pergunto o que está acontecendo comigo. Ficar enjoada com comida é bastante desagradável, mas pra uma cozinheira é uma verdadeira maldição. O que fiz pra merecer isso? Eu ajudei à atraversar a rua todos os velhinhos que cruzaram meu caminho. Não dei o dedo a ninguém, nem mandei ninguém tomar naquele lugar. Outro dia eu até comprei toda a mercadoria do senhorzinho que vende sálvia na calçada de uma loja do centro, só pra ele poder voltar pra casa e descansar (os dez ramos de sálvia apodreceram na minha cozinha antes que eu pudesse usá-los todos). Eu realmente não mereço esse castigo.

 O mais estranho, porém, é que no meio dessa nuvem de enjôo que me acompanha desde a semana passada, o único prato que eu sinto vontade de comer é… macarrão com molho de tomate. Quem não me conhece bem deve estar se perguntando “O que tem de estranho em querer comer macarrão?”, mas quem leu isso sabe que ando na contra-mão culinária e faço parte do minúsculo grupo de pessoas que não gosta de macarrão. Talvez dizer que não gosto seja forte demais, a verdade é que não vejo graça nenhuma na coisa. Macarrão pra mim nunca passou de uma maneira rápida e fácil de encher o estômago, mas que não tem valor nutricional nenhum. Com tanta quinua, trigo, cevada e feijões disponíveis no armário, por que encher a barriga com macarrão? Vocês não imaginam o tamanho da minha surpresa (e incompreensão) ao perceber que o único prato que me faz salivar no momento é macarrão com molho de tomate. Na geladeira tem patê de tomate seco, molho de “queijo”, inúmeros vegetais, o congelador está cheio do último burguer que criei, tem quinua saindo pelas janelas da cozinha…mas meu estômago só aceita um prato: espaguete integral com molho de tomate (feito por mim), hortelã do jardim e raspas de limão.

Como o nível de dificuldade desse prato é zero, e que acrescentei uma pitada de originalidade que transformou o velho clássico em algo interessante, pensei que valia a pena dividir a receita com vocês. Meu molho de tomate é facílimo de preparar e tem um sabor e um frescor que nenhum molho pronto consegue oferecer. A idéia de juntar hortelã ao prato veio de um amigo italiano. Substituir mangericão por hortelã parecia um sacrilégio gastronômico, mas já que o italiano achou normal, me senti à vontade pra fazer a mesma coisa na minha cozinha. Não sei se ele estava inovando ou se na Itália é normal combinar molho de tomate com hortelã (nas vezes que andei por lá nunca vi algo do tipo), mas acho que o frescor da erva contrasta agradavelmente com o macarrão. Resolvi acentuar ainda mais o “frescor” juntando raspas de limão ao prato. O resultado é uma massa leve, saborosa e surpreendente, perfeita pra ser degustada nas noites quentes de verão. Ou quando todas as outras comidas te deixarem enjoada. Ou os dois.

 

Espaguete com molho de tomate, hortelã e raspas de limão

Prepare o molho primeiro e só depois cozinhe o espaguete. O molho pode esperar (e ser requentado), mas macarrão cozido tem que ser degustado imediatamente. Corte a hortelã e raspe o limão segundos antes de servir o prato. Assim os sabores não tem tempo de se oxidar e permanecem vívidos. OBS: Esqueci de acrescentar essa informação quando publiquei a receita ontem, mas acho importante ressaltar que tomates “super maduros” produzem um molho “super delicioso”, enquanto que tomates “meio maduros” fazem um molho “meio insípido”.

250g de espaguete (melhor se for integral)

6 tomates médios

4 dentes de alho picados

3cs de azeite

2cs de hortelã picada

2cc de vinagre balsâmico

raspas de meio limão

sal e pimenta do reino a gosto

Corte os tomates em pedaços pequenos e pique o alho (eu gosto de cortá-lo em fatias finíssimas). Aqueça 1cs de azeite em uma panela pequena e frite o alho, em fogo baixo, até ficar bem dourado (não saia de perto da panela: alho frito se transforma em alho queimado em poucos segundos). Junte os tomates em pedaços (com todo o suco que tiver escorrido), 1/3cc de sal e deixe cozinhar em fogo baixo, coberto, até eles amolecerem e se desfazerem quase completamente. Quando o molho estiver pronto (alguns pedacinhos de tomate inteiros são bem vindos) junte o vinagre balsâmico e deixe cozinhar mais 2 minutos. Desligue o fogo, junte 2cs de azeite e pimenta do reino a gosto. Prove e corrija o sal, se necessário. Cozinhe o espaguete até ficar al dente. Escorra e misture imediatamente ao molho de tomate (se preciso, aqueça o molho antes). Sirva o espaguete e distribua a hortelã picada e raspas de limão sobre cada porção (raspe o limão diretamente sobre o espaguete). Serve 2 porções.

12 comentários em “O que fiz pra merecer isso?

  1. Que leitura paradoxal e até engraçada, mas acho melhor aproveitar a chance de se deliciar com o quase unânime macarrão. rsrsr

  2. Isabel, acho que fiz as pazes com o macarrão temporariamente. Pelo menos espero, pois tem muita coisa mais interessante pra comer no mundo:-)

    Agulha3al, tenho consciência que o bloco “não gosto de macarrão” tem poucos foliões.

    Laércio, estou aproveitando o “paradoxo do macarrão”, mas não vejo a hora de me livrar desse karma.

  3. Olá!
    Espero que hoje você ja esteja sentindo-se melhor e atraída pelas aveias, trigos, quinoas… mas não se assuste, não ha nada de mal em está desejando um macarrãozinho ainda mais quando o motivo não é a suspeita de uma gravidez rsrs .
    Pensei que hoje conseguiria atualizar-me com os assuntos do seu blog, pois ha dias que não passo por aqui; mas mal terminei este post e ja me falta tempo para prosseguir. Experimentarei a hortelã na massa em breve, apesar de não ser das maiores entusiastas do macarrão também, mas pensando bem, até que ele quebra o maior galho!

    abraços *)

  4. Oi menina!
    Ahn, não fica assim não! Essas coisas são bem pra gente rever alguns conceitos mesmo, olha que legal, tu criou uma receita nova e que pela cara deve ser deliciosa… não consegue comer nem o macarrão com molho de tomate e mais vegetais? Tente ir substituindo e criando mais! (ih, até rimou). Aqui na Bahia quando uma coisa é boa, a gíria usada é “que coisa massa”. aashuahs…
    Boa sorte pra ti, melhoras! Conheci há pouco tempo mas já gosto muito do blog! Será que ele vai despertar novamente minha vontade de inovar na cozinha? ^^
    Abraços

    1. Suzana, lá em Natal a gente também diz “que massa!”:-) Você tem razão, esse período de enjôo é desagradável, mas pelo menos criei um prato novo. Gosto de ver sempre o lado positivo das coisas. Espero que o blog te sirva de inspiração.

  5. Eu AMO macarrão.
    Desde criança é uma das minhas comidas preferidas!
    E adorei a idéia de fazer meu próprio molho…deve ficar MUIIITO saboroso!
    E sabe, eu não cozinho muuuito bem, meu arroz fica sempre sem gosto ou vira aquela coisa de “unidos venceremos” e meu feijão atré que fica bom, mas graças à folha de loro, hehe! Mas percebo que a maioria das vezes que eu cozinho, minha fome passa. Acho que é pq ficamos cozinhando e o cheiro da comida fica em nossas narinas, que meio que “comemos pelo nariz”.
    Acho que a única comida que eu faço e como com gosto sem me sentir saciada antes, é o macarrão…
    Mas…Eu sou suspeita pra falar, pq adoro!!

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